São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2008

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Para Fazenda, alta dos juros foi maior que a necessária

Ministério evita confronto público com o BC, mas avalia que inflação já sinaliza recuo

Avaliação é a de que PIB não será muito afetado se o BC compensar o aperto maior do juro deste mês com altas menores até o final do ano

LEANDRA PERES
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma crítica silenciosa. É assim que o Ministério da Fazenda, por decisão do próprio ministro Guido Mantega, vai se comportar em relação à decisão do BC (Banco Central) de elevar a taxa de juros em 0,75 ponto percentual. Para a equipe econômica, um aumento de 0,50 ponto, que colocaria a taxa básica de juros em 12,75% ao ano, seria suficiente.
A Fazenda considera haver sinais claros de arrefecimento na inflação, comprovados nas divulgações mais recentes dos índices de preços. O IPCA-15, anunciado ontem foi de 0,63%, abaixo do 0,90% registrado na passagem de maio para junho. O índice é uma espécie de prévia da inflação mensal.
Mas, em vez de censurar diretamente o BC, a estratégia é mostrar nos discursos do próprio ministro que a parte que cabe à Fazenda, especialmente no que diz respeito à política fiscal, está contribuindo para a política monetária, em vez de pressionar a taxa de juros.
O temor da Fazenda não é concentrado no impacto que a decisão tomada anteontem pelo BC terá sobre a economia. Desde que o aumento de 0,75 ponto percentual seja compensado nos próximos meses por elevações menores, inclusive de 0,25 ponto percentual, não deve haver grande desaceleração no crescimento do PIB.
O que deixa Mantega irritado é a possibilidade de que o dito conservadorismo do BC promova aumentos semelhantes na taxa Selic nas reuniões de setembro, outubro e dezembro. O argumento é que, em outros momentos, quando houve necessidade de subir juros, o BC usou a mesma justificativa de agora: de que é menos custoso subir juros mais rapidamente, já que essa política também permite que as taxas caiam com maior velocidade. Na visão da Fazenda, porém, o BC cumpriu só a primeira parte da premissa. Ou seja, elevou os juros, mas não acelerou os cortes na taxa posteriormente.
A decisão de não confrontar publicamente o BC tem duas explicações. Além de o presidente Lula já haver determinado que Mantega e o presidente do banco, Henrique Meirelles, não se digladiem em público, o ministro avalia que uma crítica direta poderia deixá-lo na posição incômoda de ser o defensor da inflação dentro do governo.
A ênfase que a Fazenda pretende dar à condução da política fiscal também será uma resposta aos críticos da política econômica. Esse é um dos pontos que mais têm incomodado o ministro Mantega nos últimos tempos. Internamente, ele argumenta que o superávit do governo federal tem sido crescente e contribui para reduzir a demanda na economia, ajudando, assim, a atuação do BC.
Desde que voltou de férias, o ministro da Fazenda evitou dar declarações à imprensa. Anteontem de manhã, questionado por jornalistas sobre sua avaliação a respeito dos preços, Mantega respondeu: "Perguntem ao presidente Meirelles sobre a inflação".


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