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Para Fazenda, alta dos juros foi maior que a necessária
Ministério evita confronto público com o BC, mas avalia que inflação já sinaliza recuo
Avaliação é a de que PIB não será muito afetado se o BC compensar o aperto maior do juro deste mês com altas menores até o final do ano
LEANDRA PERES
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma crítica silenciosa. É assim que o Ministério da Fazenda, por decisão do próprio ministro Guido Mantega, vai se
comportar em relação à decisão do BC (Banco Central) de
elevar a taxa de juros em 0,75
ponto percentual. Para a equipe econômica, um aumento de
0,50 ponto, que colocaria a taxa
básica de juros em 12,75% ao
ano, seria suficiente.
A Fazenda considera haver
sinais claros de arrefecimento
na inflação, comprovados nas
divulgações mais recentes dos
índices de preços. O IPCA-15,
anunciado ontem foi de 0,63%,
abaixo do 0,90% registrado na
passagem de maio para junho.
O índice é uma espécie de prévia da inflação mensal.
Mas, em vez de censurar diretamente o BC, a estratégia é
mostrar nos discursos do próprio ministro que a parte que
cabe à Fazenda, especialmente
no que diz respeito à política
fiscal, está contribuindo para a
política monetária, em vez de
pressionar a taxa de juros.
O temor da Fazenda não é
concentrado no impacto que a
decisão tomada anteontem pelo BC terá sobre a economia.
Desde que o aumento de 0,75
ponto percentual seja compensado nos próximos meses por
elevações menores, inclusive
de 0,25 ponto percentual, não
deve haver grande desaceleração no crescimento do PIB.
O que deixa Mantega irritado
é a possibilidade de que o dito
conservadorismo do BC promova aumentos semelhantes
na taxa Selic nas reuniões de
setembro, outubro e dezembro.
O argumento é que, em outros
momentos, quando houve necessidade de subir juros, o BC
usou a mesma justificativa de
agora: de que é menos custoso
subir juros mais rapidamente,
já que essa política também
permite que as taxas caiam com
maior velocidade. Na visão da
Fazenda, porém, o BC cumpriu
só a primeira parte da premissa. Ou seja, elevou os juros, mas
não acelerou os cortes na taxa
posteriormente.
A decisão de não confrontar
publicamente o BC tem duas
explicações. Além de o presidente Lula já haver determinado que Mantega e o presidente
do banco, Henrique Meirelles,
não se digladiem em público, o
ministro avalia que uma crítica
direta poderia deixá-lo na posição incômoda de ser o defensor
da inflação dentro do governo.
A ênfase que a Fazenda pretende dar à condução da política fiscal também será uma resposta aos críticos da política
econômica. Esse é um dos pontos que mais têm incomodado o
ministro Mantega nos últimos
tempos. Internamente, ele argumenta que o superávit do governo federal tem sido crescente e contribui para reduzir a demanda na economia, ajudando,
assim, a atuação do BC.
Desde que voltou de férias, o
ministro da Fazenda evitou dar
declarações à imprensa. Anteontem de manhã, questionado por jornalistas sobre sua
avaliação a respeito dos preços,
Mantega respondeu: "Perguntem ao presidente Meirelles sobre a inflação".
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