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São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2003

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INFRA-ESTRUTURA

Técnicos dizem que regras atuais trariam choque tarifário

Governo pode refazer editais para concessão de rodovias

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo decide nesta semana se retoma imediatamente o programa de concessões de rodovias federais ou se elabora novos editais de licitação. Segundo a Folha apurou, parte da equipe técnica do governo detectou problemas nos editais e quer refazê-los, por acreditar que a privatização nos moldes atuais levaria a um choque tarifário nas estradas, com pedágios em torno de R$ 6,80.
Outra parte do governo não quer perder tempo e defende a retomada da privatização. Com isso, a iniciativa privada faria os investimentos em melhorias para as quais o governo não tem dinheiro. A decisão será do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ouvirá os ministros dos Transportes, Fazenda e da Casa Civil.
A briga envolve divisões dentro do próprio governo e pressão das construtoras, que já estão inscritas no processo de pré-qualificação técnica. Está em jogo a concessão, com instalação de pedágios, de sete lotes de trechos de rodovias federais, com um total de 2.610 quilômetros. Entre as rodovias a serem privatizadas estão a Régis Bittencourt (São Paulo-Curitiba) e a Fernão Dias (São Paulo-Belo Horizonte).
Segundo a Folha apurou, as equipes técnicas dos ministérios dos Transportes e Fazenda tendem a aconselhar os ministros Anderson Adauto (Transportes) e Antonio Palloci Filho (Fazenda) a defender novos editais.

Irregularidades
A decisão de refazer os editais atrasaria o processo em seis meses, segundo técnicos do governo.
Para parte da equipe técnica do governo, há vícios e irregularidades nos editais que levariam a tarifa básica de pedágio a custar aproximadamente R$ 6,80 nessas rodovias. Os técnicos alegam não ter encontrado estudos técnicos nos quais o governo anterior se baseou para elaborar os editais e falam em números "chutados".
Entre os problemas encontrados por técnicos do atual governo está a taxa de retorno do investimento, de 19%, considerada alta.
A quantidade de veículos que iriam fugir das rodovias ou contornar os pedágios depois da privatização também estaria superestimada, entre 15% e 30%, para todos os sete lotes.
O crescimento do volume de tráfego -variável importante para definir a rentabilidade da concessão- estaria subestimado. Ele teria como base uma estimativa baixa de crescimento da economia durante a concessão.
Parte dos técnicos do governo chegou à conclusão de que os parâmetros do edital foram "montados" para chegar ao valor aproximado de pedágio de R$ 3,20 -valor de 1999 que, corrigido e aplicado hoje, daria os R$ 6,80. Nessa avaliação, se forem mudados os parâmetros do edital, o preço do pedágio pode cair para cerca de R$ 3,00 em valores atuais.
Os técnicos do governo desconfiam também da quantidade de participantes do processo de licitação. A desconfiança acontece porque algumas empresas, apesar de terem se inscrito em todos os sete lotes, não apresentaram garantias suficientes. O que significa que, para alguns lotes, estariam fazendo apenas figuração.
Existem seis trechos de rodovias federais privatizados, fora os que foram repassados aos Estados. Nos que têm pedágio, o reajuste da tarifa foi superior à inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

Novela
O processo de privatização das rodovias federais se arrasta desde dezembro de 2000, quando o TCU (Tribunal de Contas de União) apontou supostas irregularidades no processo e o suspendeu. Entre outros problemas, o ministro relator do processo, Walton Rodrigues, sustentou que o edital era restritivo. Ou seja, permitia a participação apenas de um grupo pequeno de empresas na disputa pelas estradas.
Em 2001, o processo foi julgado no TCU e dividiu as opiniões dos ministros. No fim, foi liberado por cinco votos a quatro, mas a retomada da privatização não foi feita pelo governo FHC, que deixou para o seu sucessor a decisão de privatizar ou não as estradas.

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