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SINAIS DA CRISE
Vaga para estágio ou trainee é mais disputada do que vestibular
Desemprego cresce entre os jovens
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é o melhor momento para
ser jovem no Brasil. Hoje, o desemprego atinge principalmente
a faixa etária de 18 a 24 anos. Ter
um diploma universitário na
mão, mostram os números, não é
garantia de nada.
O percentual de jovens procurando emprego atualmente é de
30,7%, dado de junho do Dieese
(Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Sócio-Econômicos). Há dois anos, o índice
era de 25,3%, o que representa aumento de 5,4 pontos percentuais.
De 25 a 39 anos, a taxa atualmente é de 16,7%, em relação a
13,8% em 2001 -alta de 2,9 pontos. Ou seja, o desemprego entre
jovens é maior e cresceu mais nos
últimos anos. O problema, que se
intensificou do ano passado para
cá, não bate na porta apenas dos
que têm menos escolaridade.
A retração em cargos especializados neste ano foi de 30% em relação a 2001, segundo a Companhia de Talentos, que realiza processos seletivos de empresas como Unilever, Votorantim, Phillip
Morris e Scania, entre outras.
Esses dados ajudam a explicar
por que a competição para quem
está entrando no mercado de trabalho é mais acirrada do que o
vestibular. Para 872 vagas de trainees e estagiários em 19 grandes
empresas em 2002, 180 mil pessoas se inscreveram -uma média de 206 candidatos por vaga.
Dos candidatos às 700 vagas para estagiários, apenas 0,65% foi
aprovado. O índice foi menor para os candidatos a trainee: 0,16%.
A concorrência em 2003 está
ainda maior. O processo seletivo
para trainee da Unilever, realizado tradicionalmente em agosto,
recebeu 18 mil inscrições para 30
vagas até o dia 19 deste mês. O
prazo final é 3 de setembro.
Em 2002, para o mesmo número de vagas, foram 20 mil inscritos. "O banco de currículos da
empresa, que foi criado há dois
anos, tinha 60 mil currículos até
junho deste ano. De lá para cá, o
número subiu para 100 mil", diz
Adriana Chaves, gerente de recrutamento e seleção da empresa.
Nesse cenário, ter inglês fluente,
a grife de uma faculdade de ponta
e se possível pós-graduação são
exigências cada vez mais comuns
em grandes empresas. É por isso,
dizem especialistas, que o número de mestrados existentes no país
saltou de 1.388 em 99 para 1.589
em 2002, segundo a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior).
"A disputa está mais acirrada
também porque aumentou o número de faculdades no país", diz
João Rodrigues Canada, diretor
da Foco Recursos Humanos.
Concorrência
A maior parte dos recém-formados, que não consegue vaga
nos rigorosos programas de trainee, cai na concorrência com
quem se formou há anos e tem experiência, mas não emprego.
"Cerca de 60% dos currículos
que recebemos ao longo deste ano
são de recém-formados. Há dois
anos, esse índice era de 85%.
Quem acabou de se formar enfrenta a competição de quem tem
mais experiência", afirma Silva
Martins, gerente de recursos humanos da American Express.
Quem tem emprego, assustado
com a crise, não deixa sua vaga de
jeito nenhum, o que também dificulta o acesso dos graduandos ao
mercado de trabalho.
No ano passado, a rotatividade
nas vagas foi a mais baixa em 22
anos no país, segundo estudo do
economista Márcio Pochmann,
secretário do Trabalho da Prefeitura de São Paulo.
Outro sintoma da crise é que
muitas empresas investem mais
na contratação de estagiários, cujos encargos trabalhistas são menores, do que de trainees.
"A maior parte é de estágios de
oito horas. Há uma prática escancarada de empregos disfarçados
de estágios", afirma Sérgio Pio
Bernardes, coordenador do Centro de Integração Aluno-Empresa
da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
Segundo Bernardes, muitos
universitários ficam com matérias pendentes nas faculdades para se manter como estudantes e
diminuir o risco de demissão.
"Muita gente que trabalhava em
2001 com trainees trabalha hoje
com estagiários", afirma Júlia
Alonso, sócia-diretora da Passarelli Talentos, também especializada em recrutar jovens para
grandes empresas.
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