São Paulo, sábado, 25 de agosto de 2007

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Banco prevê impacto da crise na expansão mundial e do Brasil

Para UBS Pactual, economia do país deverá crescer 0,1 ponto percentual a menos por causa das turbulências financeiras

Guido Mantega, ministro da Fazenda, diz que inflação, e não crise internacional, é o que deve orientar decisão do Copom em setembro

JANAINA LAGE
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

O economista Eduardo Loyo, do UBS Pactual e ex-diretor do Banco Central, afirmou ontem que o impacto da crise internacional sobre a economia brasileira será de 0,1 ponto percentual a menos de crescimento no PIB (Produto Interno Bruto), um efeito inferior ao da média da economia mundial. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, endossou a análise de que o país está menos sujeito à "turbulência internacional".
Segundo Loyo, que participou do seminário de metas de inflação do BC, estudo feito pelo UBS Pactual estima que os efeitos sobre o crescimento da economia mundial serão da ordem de 0,5 a 1 ponto percentual, de acordo com a atuação do Fed (o BC dos EUA).
"Não vejo esse evento de proporções bíblicas, não é a nova Grande Depressão que se inicia, mas há efeitos potenciais importantes sobre o crescimento mundial", disse.
O estudo leva em conta projeções como expectativas de uma queda sustentada dos preços das ações da ordem de 10% e uma queda nos preços dos imóveis nos EUA de 10%, entre outros fatores. Na avaliação do economista, os efeitos da crise serão bastante concentrados na economia americana.
Segundo Loyo, os fatores que deflagraram a crise já eram conhecidos em parte pelos agentes financeiros. "Embora a performance do mercado hipotecário tenha sido pior do que se imaginava, muito do que houve de ruim nesse desempenho já era notícia velha", disse. Apesar de o mercado "subprime" (crédito imobiliário para pessoas com histórico ruim de pagamento) ter um tamanho superior a US$ 1 trilhão, a perspectiva é que as perdas sejam absorvidas aos poucos.
Para o Brasil, o principal fator a ditar o ritmo de crescimento econômico será a demanda no mercado interno. Loyo destacou que, ao contrário de experiências de crises internacionais anteriores, a principal pergunta no momento não é o que vai acontecer com o Brasil, e sim qual o cenário com o qual o país vai se deparar daqui para a frente.
O economista elogiou a política adotada pelo Banco Central de acúmulo de reservas antes da crise. Segundo Loyo, se desta vez não há problemas de exposição do setor público ao risco cambial, isso é resultado da política de reduzir a parcela da dívida atrelada ao câmbio e de recomposição de reservas.
"É importante respeitar a crise, mas não poderia transformar essa mudança no cenário internacional no fator definidor do desempenho macroeconômico do Brasil. (...) Os fatores que serão mais importantes para definir o mix adequado de política econômica continuarão a ser os fatores domésticos", disse.

Sem contaminação
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez discurso semelhante ontem, no Rio, que a "turbulência internacional" não vai afetar o Brasil nem a sua taxa de juros. De acordo com Mantega, o cumprimento das metas de superávit primário e da Lei de Responsabilidade Fiscal garantem a estabilidade do país em meio à crise internacional e apenas a inflação pode influenciar a taxa de juros.
"Graças à responsabilidade fiscal praticada, o Brasil é respeitado e hoje a turbulência internacional não o afeta", disse.
Segundo o ministro, o problema no mundo não deve alterar a progressiva queda da taxa de juros Selic. "A trajetória de juros do Brasil não depende da turbulência internacional, mas da inflação. O Copom analisará a inflação e tomará a decisão."

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