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OPINIÃO ECONÔMICA
O avanço do capital estrangeiro
PAULO NOGUEIRA
BATISTA JR.
Em entrevista nas páginas
amarelas da revista "Veja" desta semana, o empresário Antonio Ermírio de Moraes botou a
boca no trombone. "A indústria
nacional está desaparecendo",
declarou. Segundo ele, o governo "escancarou" a economia e
"a médio ou longo prazo o mercado será dominado pelos estrangeiros".
Os dados parecem dar razão
ao empresário. Em artigo recente, publicado nesta coluna em
21 de agosto, citei resultados do
levantamento de 1997 da revista "Exame", referentes às maiores empresas não-financeiras
do país. Considerando-se as 500
maiores empresas privadas e as
50 maiores estatais, a participação das estrangeiras aumentou
de 32% das vendas em 1994 para 44% em 1996, enquanto a
das estatais recuou de 24% para
20% e a das privadas nacionais,
de 44% para 36%.
Segundo a mesma fonte, o capital estrangeiro predomina de
forma esmagadora em diversos
setores da indústria. Responde
por 98% das vendas das 20
maiores empresas do setor de
automóveis e peças, por 87%
das vendas das 20 maiores do
setor de higiene e limpeza, por
76% no setor de computação e
73% no farmacêutico.
No setor financeiro, o capital
estrangeiro também vem avançando rapidamente desde o
Plano Real. De acordo com levantamento da Austin Asis
Consultores, citado na "Gazeta
Mercantil" de segunda-feira
passada, entre junho de 1994 e
junho de 1997, a participação
dos bancos estrangeiros aumentou de 10% para 17% dos ativos
totais e de 9% para 15% dos
depósitos totais do sistema financeiro brasileiro.
A tendência observada no
Brasil parece estar na linha recomendada por Washington.
Na reunião anual do FMI, em
Hong Kong, o secretário do Tesouro dos EUA frisou que seu
governo está "pressionando por
um aumento substancial do
acesso dos estrangeiros aos
maiores mercados financeiros
emergentes" nas negociações no
âmbito da Organização Mundial do Comércio.
A expansão dos bancos estrangeiros já causa inquietação
nos banqueiros brasileiros. O
presidente da Federação Brasileira das Associações de Bancos
(Febraban), Roberto Setubal,
declarou-se favorável à entrada
de bancos estrangeiros no país,
mas de acordo com regras de
reciprocidade e dentro de alguns limites. Numa manifestação de nacionalismo econômico
pouco característica dos porta-vozes do sistema bancário,
Setubal argumentou que "o
país que quer uma política monetária fiscal autônoma precisa
de um sistema financeiro com
predominância do capital nacional".
Mas essas preocupações não
parecem encontrar ressonância
no governo brasileiro. Um alto
funcionário do Banco Central
declarou-se "indiferente" ao
controle nacional ou estrangeiro de bancos e outras empresas,
segundo relatou o enviado especial da Folha a Hong Kong.
Essa indiferença teria cabimento se se pudesse imaginar
que as empresas pairam acima
das nações e não apresentam
qualquer viés em relação a seu
país de origem. No entanto, a
grande maioria das empresas
ditas "transnacionais" possui
um centro de gravidade nacional claramente identificável.
Mesmo as grandes empresas,
que tendem a ser mais internacionalizadas do que as pequenas e médias, permanecem
marcadas por sua origem nacional. A maior parte das corporações da Europa, dos Estados Unidos e do Japão concentra sua atuação nos respectivos
países. Funções estratégicas, como pesquisa e desenvolvimento,
e as atividades geradoras de
maior valor adicionado tendem
a se realizar no país de origem.
Corporações verdadeiramente
transnacionais são raras, especialmente nas economias de
maior porte, que contam com
amplos mercados internos.
Antonio Ermírio observou,
com razão, que o governo brasileiro deveria ser mais severo em
relação à entrada de empresas
estrangeiras, como fazem os
países desenvolvidos. Enquanto
o Brasil se deixa iludir pela retórica da "globalização" e das
corporações "transnacionais",
os governos dos países mais
adiantados continuam fazendo
o que podem para ajudar suas
empresas nacionais, tanto no
mercado interno quanto no externo.
Banco Central
Em resposta à notificação judicial criminal do Banco Central, recebi diversas manifestações de solidariedade de leitores, amigos, parlamentares, jornalistas e do Conselho Regional
de Economia do Rio de Janeiro.
Agradeço, também, o apoio e a
orientação dos advogados
Evandro Lins e Silva e Osiris
Lopes Filho e, em especial, da
Folha,cf2, que colocou à minha disposição o advogado
Luís Francisco Carvalho Filho.
Paulo Nogueira Batista Jr., 42, professor da
Fundação Getúlio Vargas e pesquisador-visitante do Instituto de Estudos Avançados da
Universidade de São Paulo, escreve às quintas-feiras nesta coluna.
E-mail pnbjr@ibm.net
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