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EM TRANSE
Para investidores, disparada recente da moeda se deve a fatores técnicos
Dólar ainda não inclui Lula e pode ir a R$ 5, diz Wall Street
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Os investidores ainda não embutiram totalmente na cotação do
real uma eventual vitória do candidato do PT à Presidência, Luiz
Inácio Lula da Silva. A visão de
Wall Street sobre o câmbio brasileiro é que a alta recorde do dólar,
verificada nos últimos dias, deveu-se muito mais a fatores técnicos do que políticos. Portanto seria lógico esperar um "estrago"
adicional na cotação da moeda
brasileira nas semanas e até meses
posteriores a uma eventual vitória
de Lula -ao menos até o candidato petista sinalizar, com nomeações, a manutenção da atual política econômica.
"Não acho difícil o dólar ultrapassar a barreira de R$ 4 se os
mercados começarem a testar Lula antes mesmo de sua posse", disse Paulo Vieira da Cunha, da corretora Lehman Brothers. "Mas isso seria transitório."
José Barrionuevo, da Barclays
Capital, disse concordar em que
"os mercados estão apenas começando a "precificar" uma vitória de
Lula".
Mercado seco
Um operador de câmbio num
importante banco de Nova York
disse ontem que o mercado continua "ilíquido", "seco" e controlado por poucos investidores, mais
interessados em obter ganhos de
curto prazo do que em fugir de
um "efeito Lula".
De acordo com ele, se essas especulações de curto prazo ocorrerem simultaneamente à "precificação total da vitória de Lula", a
cotação do dólar poderia facilmente atingir R$ 4,5 ou até R$ 5.
No entanto, ressalvou, isso ocorreria por um período muito curto,
pois seria difícil a moeda americana sustentar-se num patamar acima de R$ 4.
Alta artificial
O operador explicou que a alta
do dólar nos últimos dias teve relação direta com o vencimento,
hoje, de US$ 1,5 bilhão em títulos
cambiais do governo. A liquidação desses papéis é feita pelo Ptax
(preço médio do dólar, medido
diariamente pelo Banco Central)
do dia anterior ao do vencimento
(no caso, ontem). Portanto, quanto maior o valor do dólar, maior é
a remuneração dos investidores,
que, para, se beneficiar desse mecanismo de correção, teriam pressionado a cotação da moeda norte-americana.
Outro fator importante é o fato
de que, com o fim do mês, aproximam-se os vencimentos dos contratos da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) -e, com esses
vencimentos, aumenta a ansiedade dos investidores para influir
artificialmente na cotação da
moeda, reduzindo perdas ou majorando ganhos. Como o mercado de câmbio tem produzido
poucas transações, os investidores conseguem influenciar a cotação do dólar usando muito pouca
munição.
Serra com chances
A teoria de que os investidores
ainda não embutiram totalmente
uma eventual vitória de Lula na
cotação do real pode ser vista pelos relatórios de alguns bancos de
investimento. O Goldman Sachs,
por exemplo, diz em suas últimas
análises acreditar que o candidato
do PSDB à Presidência, José Serra,
ainda pode ganhar as eleições. No
entanto, preparando seus clientes
para uma eventual vitória de Lula,
o banco adverte que, se o PT ganhar, "os mercados financeiros
gostariam de ver ações econômicas fortes e rápidas que mostrem
a habilidade de uma administração (do PT) para assegurar estabilidade econômica".
Caso contrário, diz uma dessas
análises, "os mercados financeiros deverão testar a nova administração num momento em que
as condições econômicas globais
continuam difíceis para grandes
devedores emergentes como o
Brasil".
Já o HSBC, que em junho tinha
cerca de US$ 2,6 bilhões em sua
carteira de empréstimos ao Brasil
e que ontem elevou provisões para o país, diz, em relatório, que a
cotação do dólar está excessiva e
sofrerá uma correção nos próximos dois ou três meses. No entanto, sob um cenário alternativo, chamado pelo banco de "turbulento", a correção no câmbio demoraria muito mais para ocorrer e provocaria uma aceleração da inflação.
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