São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 2002

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ENERGIA

Somente a Eletropaulo deveria US$ 60 milhões à estatal; Light e CPFL também estariam na lista de inadimplentes

Furnas renegocia dívida de distribuidoras

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise financeira no sistema de energia elétrica está oficialmente declarada pela companhia estatal Furnas. Márcio Nunes, diretor financeiro da empresa, informou ontem, via assessoria, que deu início a um processo de renegociação das dívidas atrasadas de distribuidoras que são suas clientes. Light, CPFL e Eletropaulo estariam na lista dos devedores.
Somente a Eletropaulo deveria cerca de US$ 60 milhões a Furnas, segundo rumores que circulam no mercado. A Light teria R$ 88 milhões pendentes, e a CPFL, cerca de R$ 25 milhões.
Dois motivos estariam afetando as finanças dessas empresas: a queda média de 6,7% no consumo de energia elétrica nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde Furnas atua, e a disparada da cotação do dólar. "A energia de Furnas e de Itaipu é vendida a preços dolarizados, o que eleva muito os gastos das distribuidoras", afirmou Rafael Quintanilha, analista do banco Espírito Santo.
A queda no consumo de energia pela população, que se acostumou a diminuir os gastos com o racionamento de 2001, tem efeitos pesados nos balanços das companhias. Segundo Furnas, a redução média do consumo nas residências foi de 6,7% entre janeiro e julho de 2002, em comparação com o mesmo período de 2001. O comércio reduziu em 8% sua demanda, e a indústria, em 3%.

Modelo errado
Para Carlos Barreira Martinez, professor do departamento de energia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), nem a política de reajustes de preços ao consumidor próximos à variação do dólar, que estaria sendo conquistada pelas distribuidoras, consegue ajudar as companhias do setor.
"O consumo está muito baixo. Não favorece o aumento da receita." As companhias controladoras das empresas de energia no Brasil, muitas delas estrangeiras, têm exigido um retorno financeiro das filiais, que remetem parte do seu lucro para o exterior.
A Eletropaulo, por exemplo, pertence à norte-americana AES, que registrou uma redução de 72% no lucro no primeiro semestre deste ano, em comparação ao mesmo período de 2001. Os ganhos líquidos foram de US$ 74 milhões.

Pressão
A AES tem pressionado suas filiais no mundo inteiro, como a Eletropaulo, a gerar lucros para poder retomar o ritmo de crescimento. Mas a contabilidade oficial da Eletropaulo mostra que a situação é bastante crítica.
No primeiro semestre de 2002, a Eletropaulo amargou um prejuízo de R$ 146,3 milhões, 240% a mais que as perdas de R$ 43,2 milhões registradas entre janeiro e junho de 2001.
Para Martinez, a situação do setor de energia mostra que o modelo de privatização nunca deu certo. "Ele [o modelo de energia] não está indo agora por água abaixo. O fato é que ele nunca foi por água acima."
Segundo ele, o próximo governo terá de criar um novo modelo para o setor. "Hoje, por exemplo, as empresas privatizadas não cumprem as metas de aumento de geração de energia."
A Eletropaulo disse ontem que não iria comentar sua situação financeira com Furnas. A empresa não confirmou nem negou que deva US$ 60 milhões.

Outras empresas
Não é só Furnas que enfrenta problemas para receber pelo fornecimento de energia. A Chesf, que atua no Nordeste, teria cerca de R$ 100 milhões em créditos a receber de duas das sete distribuidoras que atende.
Empresas que compram energia elétrica da Eletronorte, por sua vez, devem cerca de R$ 295 milhões. A Cemar, uma das companhias, pediu concordata e deixou de pagar R$ 116 milhões à Eletronorte. As distribuidoras Celpa e Celtins teriam débitos atrasados de R$ 90 milhões.


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