|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENERGIA
Somente a Eletropaulo deveria US$ 60 milhões à estatal; Light e CPFL também estariam na lista de inadimplentes
Furnas renegocia dívida de distribuidoras
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise financeira no sistema de
energia elétrica está oficialmente
declarada pela companhia estatal
Furnas. Márcio Nunes, diretor financeiro da empresa, informou
ontem, via assessoria, que deu início a um processo de renegociação das dívidas atrasadas de distribuidoras que são suas clientes.
Light, CPFL e Eletropaulo estariam na lista dos devedores.
Somente a Eletropaulo deveria
cerca de US$ 60 milhões a Furnas,
segundo rumores que circulam
no mercado. A Light teria R$ 88
milhões pendentes, e a CPFL, cerca de R$ 25 milhões.
Dois motivos estariam afetando
as finanças dessas empresas: a
queda média de 6,7% no consumo de energia elétrica nas regiões
Sudeste e Centro-Oeste, onde
Furnas atua, e a disparada da cotação do dólar. "A energia de Furnas e de Itaipu é vendida a preços
dolarizados, o que eleva muito os
gastos das distribuidoras", afirmou Rafael Quintanilha, analista
do banco Espírito Santo.
A queda no consumo de energia
pela população, que se acostumou a diminuir os gastos com o
racionamento de 2001, tem efeitos
pesados nos balanços das companhias. Segundo Furnas, a redução
média do consumo nas residências foi de 6,7% entre janeiro e julho de 2002, em comparação com o mesmo período de 2001. O comércio reduziu em 8% sua demanda, e a indústria, em 3%.
Modelo errado
Para Carlos Barreira Martinez,
professor do departamento de
energia da UFMG (Universidade
Federal de Minas Gerais), nem a
política de reajustes de preços ao
consumidor próximos à variação
do dólar, que estaria sendo conquistada pelas distribuidoras,
consegue ajudar as companhias
do setor.
"O consumo está muito baixo.
Não favorece o aumento da receita." As companhias controladoras das empresas de energia no
Brasil, muitas delas estrangeiras,
têm exigido um retorno financeiro das filiais, que remetem parte
do seu lucro para o exterior.
A Eletropaulo, por exemplo,
pertence à norte-americana AES,
que registrou uma redução de
72% no lucro no primeiro semestre deste ano, em comparação ao
mesmo período de 2001. Os ganhos líquidos foram de US$ 74
milhões.
Pressão
A AES tem pressionado suas filiais no mundo inteiro, como a
Eletropaulo, a gerar lucros para
poder retomar o ritmo de crescimento. Mas a contabilidade oficial da Eletropaulo mostra que a
situação é bastante crítica.
No primeiro semestre de 2002, a
Eletropaulo amargou um prejuízo de R$ 146,3 milhões, 240% a
mais que as perdas de R$ 43,2 milhões registradas entre janeiro e
junho de 2001.
Para Martinez, a situação do setor de energia mostra que o modelo de privatização nunca deu
certo. "Ele [o modelo de energia] não está indo agora por água
abaixo. O fato é que ele nunca foi por água acima."
Segundo ele, o próximo governo terá de criar um novo modelo
para o setor. "Hoje, por exemplo,
as empresas privatizadas não
cumprem as metas de aumento
de geração de energia."
A Eletropaulo disse ontem que
não iria comentar sua situação financeira com Furnas. A empresa
não confirmou nem negou que
deva US$ 60 milhões.
Outras empresas
Não é só Furnas que enfrenta
problemas para receber pelo fornecimento de energia. A Chesf,
que atua no Nordeste, teria cerca
de R$ 100 milhões em créditos a
receber de duas das sete distribuidoras que atende.
Empresas que compram energia elétrica da Eletronorte, por sua
vez, devem cerca de R$ 295 milhões. A Cemar, uma das companhias, pediu concordata e deixou de pagar R$ 116 milhões à Eletronorte. As distribuidoras Celpa e Celtins teriam débitos atrasados de R$ 90 milhões.
Texto Anterior: O Vaivém das Commodities Próximo Texto: Frases Índice
|