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São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2003

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POLÊMICA

Associação de magistrados diz que somente após estudo sobre impacto ambiental poderia ocorrer uma liberação

Para juízes, transgênico é inconstitucional

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Ajufe (Associação dos Juízes Federais) divulgou ontem nota oficial em que diz que a edição de uma medida provisória que libere o plantio de soja transgênica seria "um total absurdo jurídico flagrantemente inconstitucional".
Segundo o presidente da instituição, Paulo Sérgio Domingues, uma MP pode revogar leis, mas não decisões judiciais. Caso a MP venha a ser editada, a entidade pretende questioná-la no STF (Supremo Tribunal Federal).
Em agosto de 1999, uma sentença da Justiça Federal, baseada no artigo 225 da Constituição, proibiu a plantação de soja geneticamente modificada sem que fosse feito um estudo sobre o impacto ambiental que causaria.
"Acontecendo a edição da medida provisória, nós vamos buscar no STF a declaração da inconstitucionalidade dessa norma a fim de se preservar a autoridade das decisões judiciais", disse.
Em janeiro de 2003 o governo editou uma MP que permitia a comercialização da safra plantada em 2002. A associação não entrou na Justiça contra a suposta ilegalidade da ação por uma "questão política", afirmou Domingues.
"A Ajufe não entrou porque não entrou. Agora estamos falando de plantio e algo do futuro. O negócio agora é grave, é diferente do pontual. A situação é perene."
O juiz federal Antonio de Souza Prudente, que determinou a proibição do plantio há quatro anos, disse que edição da MP instituiria uma "ditadura do Executivo" e apontou um lobby de empresas transnacionais para liberar a soja transgênica.
"A questão está sendo conduzida como se a Constituição contemplasse apenas dois Poderes: o Executivo e o Legislativo. Essa postura levaria o Poder Executivo a instituir no país a ditadura do Executivo. As multinacionais querem liberar os transgênicos passando por cima da Constituição e agora passando por cima das decisões da Justiça", declarou.
Domingues disse que a MP criaria uma crise institucional entre os Poderes. "Se o governo fizer [a MP] estará realmente abrindo uma possível crise institucional."


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