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OPINIÃO ECONÔMICA
Para crescer, é preciso
investir em infra-estrutura
JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN
Surpreendentemente , o
ano de 2005 está sendo muito
bom para a economia mundial. O
FMI prevê um crescimento global
de 4,3%. A maior novidade é o pequeno impacto, até agora, da alta
do preço de petróleo. Os modelos
convencionais estimavam que um
aumento de US$ 10 por barril reduziria o crescimento anual em
0,5%. O preço do petróleo subiu
aproximadamente US$ 40 por
barril desde 2002, portanto esse
impacto deveria ser de 2% negativos. Como a economia mundial
cresceu aproximadamente 3,3%
anuais entre 93 e 2002, o resultado
neste ano é realmente notável.
Para o Brasil, o desempenho da
economia global é uma ótima notícia. Apesar de ter sido até recentemente uma economia muito fechada, o Brasil teve uma tendência a crescer mais nos anos em que
a economia mundial foi melhor. A
previsão do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), de
que o PIB no Brasil deve crescer
3,5% neste ano, reflete em parte os
bons preços para as nossas exportações que resultam da expansão
mundial.
A previsão do Ipea para o Brasil
está abaixo daquela do FMI para
o crescimento mundial em 2005,
mas, mais importante, está bem
abaixo das taxas de crescimento
previstas pelo Fundo para as economias emergentes (6,4%), ou os
emergentes da Ásia (7,8%), ou
mesmo os emergentes da Ásia depois de excluídas China e Índia
(5,4%).
A performance sofrível da economia brasileira neste ano reflete
também vários fatores internos.
De positivo, temos as novas tradições de equilíbrio fiscal e estabilidade monetária, que elevaram a
confiança dos investidores, o aumento da integração com o resto
do mundo e a melhoria do ambiente de negócios que resultou
das reformas microeconômicas.
Do lado negativo, além da política
monetária que nos premiou com o
maior juro real do mundo, destacam-se a informalidade crescente,
a nossa incapacidade de gerar
inovações tecnológicas no mesmo
ritmo que as economias emergentes da Ásia e a baixa taxa de investimentos em infra-estrutura.
Já escrevi recentemente nesta
Folha sobre política monetária,
informalidade e inovação tecnológica. A baixa taxa de investimento em infra-estrutura é outro problema grave. Um estudo de pesquisadores do banco central do
Chile documentou que, de 1980 a
1997, a taxa de crescimento da infra-estrutura no Brasil foi muito
inferior à taxa de crescimento da
infra-estrutura nos tigres asiáticos. O estudo estima que, nesse período, no qual o Brasil cresceu
muito menos do que os tigres, a
falta de investimento em infra-estrutura foi responsável por mais
de 1/3 dessa diferença de crescimento no PIB. As privatizações da
década de 90 resultaram em aumento considerável dos investimentos em setores cruciais, como
as telecomunicações, mas a combinação de incerteza regulatória
com a falta de investimentos estatais ainda deprime o crescimento
da nossa infra-estrutura.
O debate em torno dos gastos
públicos é dominado pela discussão dos juros que incidem sobre a
dívida. Mas, com a exceção do superávit primário, o que é arrecadado pelos governos é gasto com
transferências, consumo ou (muito pouco) com investimento. Após
poupar o superávit primário, os
nossos governos dispõem de mais
de 30% do PIB, o que excede a
porcentagem de impostos pagos
em qualquer um dos tigres. É evidente, então, que não falta aos
nossos governos capacidade fiscal
para realizar os investimentos necessários para mudar o nosso patamar de crescimento -o que
lhes falta é a coragem política para cortar gastos correntes.
José Alexandre Scheinkman, 57, professor de economia na Universidade
Princeton (EUA), escreve quinzenalmente aos domingos nesta coluna.
E-mail -
jose.scheinkman@google.com
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