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LIÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Os riscos da valorização
da moeda chinesa
LUIZ GONZAGA BELLUZZO
No início dos anos 80, a política econômica de Ronald
Reagan -com seu dólar supervalorizado, enormes déficits orçamentários e nas contas externas- favoreceu as exportações
dos países da Ásia. Japão, Coréia e
Taiwan produziram alentados
superávits em conta corrente.
Em 1985, os clamores protecionistas alcançaram muitos decibéis, e os Estados Unidos trataram de coordenar a desvalorização do dólar e, assim, conter os
danos causados à competitividade da sua indústria. Os japoneses
foram obrigados, depois do acordo do Plaza, a engolir duas poções
indigestas:
1) a valorização do iene afetou
as exportações para a área do dólar e causou sérios prejuízos para
os bancos que carregavam em
suas carteiras ativos denominados na moeda americana; e 2) a
abertura financeira ajudou a promover a "inflação" no mercado
de ações e no imobiliário.
Nos anos 90, a estagnação que
se seguiu à derrocada dos preços
dos ativos daria impulso ao movimento de "deslocalização" japonesa para os vizinhos. Nesse momento, a China estava a completar a primeira década de crescimento acelerado. Executava seus
programas de reforma econômica
combinando uma agressiva estratégia exportadora, a atração de
investimentos diretos estrangeiros
nas zonas liberadas e forte investimento estatal em infra-estrutura.
Entre a estagnação japonesa e o
dinamismo da China, o comércio
entre os países da Ásia iria se expandir a taxas elevadas. Sobretudo depois da desvalorização de
1994, o "drive" exportador chinês
-amparado no crescimento
americano- vai deslocar a participação dos outros asiáticos em
terceiros mercados e, ao mesmo
tempo, demandar importações de
bens de capital, peças e componentes dos "perdedores". O crescimento europeu foi sendo "espremido" pelas estratégias mercantilistas dos países asiáticos, concebidas para o crescimento rápido,
graduação tecnológica e ganhos
de participação em todos os segmentos de mercado.
Os ciclos de crescimento dos Estados Unidos, no pós-guerra, ensejaram a construção de uma teia
de relações produtivas, comerciais, financeiras e monetárias tão
"virtuosas" quanto conflitivas no
"espaço" EUA-Ásia-Europa.
Nessas condições, a correção dos
desequilíbrios do balanço de pagamentos, mediante o "realinhamento" entre as moedas (leia-se a
"valorização" do yuan) é uma
idéia simplista e perigosa. Tal cometimento pode desatar -além
da contração global das atividades- fortes perturbações cambiais e financeiras nos países que
sopram bolhas nos mercados de
ativos.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) defende a "redistribuição" de déficits e superávits entre
as regiões envolvidas, o que exigiria não só a reativação das fontes
de crescimento domésticas na Europa e no Japão como também a
moderação das estratégias mercantilistas nos emergentes asiáticos. Mas, como Keynes havia previsto em seus escritos preparatórios para a reunião de Bretton
Woods, tal coordenação de políticas supõe um verdadeiro sistema
monetário internacional ou um
sistema monetário verdadeiramente internacional. Não é o que
está à vista.
Luiz Gonzaga Belluzzo, 61, é professor
titular de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Foi chefe
da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e
Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia).
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