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AGENDA POSITIVA
Equipe econômica estuda medidas como a que permite ao trabalhador escolher em que instituição quer receber o salário
Governo quer mais poder a cliente de banco
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para tentar driblar a crise política, a equipe econômica tem promovido, nas últimas semanas, um
esforço concentrado em torno da
elaboração de um agenda de medidas que não dependa de aprovação do Congresso Nacional.
Na lista de opções em estudo,
estão a criação de instrumentos
que aumentam o poder de negociação dos clientes bancários e a
concorrência entre as instituições
financeiras que também estimulem o mercado de capitais, fonte
de financiamento para empresas.
Como as investigações sobre
corrupção no governo paralisaram a tramitação de projetos considerados importantes, a idéia é
acelerar a implementação de propostas que ajudem a melhorar a
eficiência da economia e que precisem ser regulamentadas apenas
pelo CMN (Conselho Monetário
Nacional), pelo Banco Central ou
pelo Ministério da Fazenda.
Segundo o secretário de Política
Econômica do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, um dos alvos prioritários é o mercado de
capitais, utilizado pelas empresas
para obter recursos destinados a
investimentos produtivos. "Temos espaço para avançar nessa
área. Discutimos medidas que independem de lei", afirmou Appy.
O secretário coordena um grupo de trabalho que discute com
entidades do setor privado medidas para aumentar o total de recursos movimentado, por exemplo, com a negociação de títulos
de empresas públicas e privadas.
Uma proposta que foi apresentada pelas entidades privadas e está em discussão prevê mudança
na forma de tributação dos títulos
de dívida emitidos por empresas,
conhecidos por debêntures. "O
sistema atual pune o investidor
que adquire o papel e o incentiva a
não vendê-lo no mercado secundário", defende Tomaz Tosta de
Sá, representante do setor privado nas discussões com o governo.
Negociação de debêntures
Segundo Sá, a negociação das
debêntures é prejudicada porque
o papel, que paga juros periodicamente, costuma se valorizar perto
da data desse pagamento. Com isso, a pessoa que for se desfazer do
título antes dessa data pagará imposto sobre a valorização do papel durante todo o tempo em que
ficou com ele em seu nome. Por
outro lado, quem comprou depois também será tributado na
fonte assim que receber os juros
embutidos na debênture.
Segundo Appy, o mercado de
capitais no país tem crescido muito e deverá deslanchar ainda mais
com a queda da taxa de juros. "As
emissões de debêntures de janeiro a agosto deste ano somam
R$ 25 bilhões, mas a maior parte
refere-se a captações de bancos.
No ano passado, esse total foi de
R$ 9,6 bilhões", disse.
Outra medida em análise permite que os detentores de ações
que se desfizerem dos papéis fiquem isentos do pagamento de
imposto sobre o ganho de capital
da operação se utilizarem os recursos obtidos com a venda para
comprar ações de outras empresas, em prazo máximo de 30 dias.
Para tentar estimular a concorrência bancária, o Banco Central
trabalha para dar mais "mobilidade" aos clientes. A área jurídica do
governo avalia se a medida que
prevê que o trabalhador escolha o
banco em que quer receber o seu
salário pode ser definida pelo
CMN. Já existe um projeto em tramitação nesse sentido no Congresso Nacional, mas há dúvidas
no governo se é necessário a aprovação de uma lei nesse caso.
Outra medida cria um instrumento que funciona como um tipo de DOC (documento de ordem de crédito) ao contrário e já
foi apelidado de "DOC reverso".
Nesse caso, em vez de ir ao banco
e transferir o salário para outra
instituição em que movimenta
seus recursos, o trabalhador poderá autorizar o banco com o qual
se relaciona a debitar seu salário
diretamente da conta aberta a pedido a empresa.
A vantagem nesse caso, segundo avaliação de técnicos da equipe econômica, é evitar o assédio
do gerente do banco em que o salário é pago. Hoje, a forma como o
pagamento do salário é feito beneficia apenas a empresa, que negocia vantagens para manter a
movimentação da folha de pagamento dos seus empregados numa determinada instituição financeira, e o próprio banco, que
ganha novos clientes sem fazer
muito esforço.
Ao escolher o banco com o qual
quer se relacionar ou mesmo poder sacar seus recursos sem ter
nenhum contato com a instituição na qual o salário foi creditado,
o trabalhador fica com maior poder de barganha.
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