São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2005

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ECONOMIA GLOBAL

FMI quer correção de déficits dos EUA para impulsionar crescimento; ministro teme efeito nos emergentes

Palocci cobra "remédios" contra os desequilíbrios

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O FMI (Fundo Monetário Internacional) cobrou ontem uma "urgente" correção dos desequilíbrios internos na economia norte-americana para assegurar um período de crescimento mundial sustentado.
Em intervenção durante a reunião anual do Fundo, o ministro Antonio Palocci (Fazenda), também cobrou a aplicação de "remédios" contra esses desequilíbrios que, na sua opinião, "embora bem identificados, têm persistido e até se intensificado".
Para Palocci, os desequilíbrios globais provocados principalmente pelos EUA "põem em risco os ganhos já obtidos pelos países em desenvolvimento em matéria de crescimento e robustez de suas próprias políticas econômicas".
O diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato, também foi enfático na cobrança. "Os EUA têm sido o principal motor da economia global no passado recente. Mas os desequilíbrios no país continuam crescendo, assim como as vulnerabilidades da economia", afirmou o diretor-gerente do Fundo em discurso aos membros do comitê de governadores da instituição.
"Para manter o equilíbrio global, a redução dos déficit fiscal e em conta corrente dos EUA (conhecidos como déficits gêmeos) é particularmente urgente", afirmou Rato.
Em 2005 e 2006, os EUA, ao lado da China, serão o principal "motor" da economia global, com um crescimento previsto de 3,5% e 3,3%, respectivamente.
Embora os percentuais sejam inferiores à previsão para o resto do mundo (4,3% este ano e no próximo), os efeitos do crescimento da maior economia do mundo tendem a se espalhar por todas as demais regiões do planeta -principalmente entre os países que têm forte comércio com os americanos, caso do Brasil.
A maior preocupação do FMI é com o déficit em conta corrente dos EUA, que atingiu este ano o nível recorde de 6% do PIB (Produto Interno Bruto).
O déficit em conta corrente representa o resultado das transações comerciais do país com o mundo (incluindo as exportações e as importações), mais os serviços e as chamadas transferências unilaterais. O déficit atual tem sido ampliado, principalmente, por causa das transações comerciais dos EUA com a China.
Em seu discurso, o secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, pediu a ajuda das outras principais economias do mundo, especialmente as européias, para introduzirem reformas necessárias para acelerar o crescimento mundial.
Comparada aos EUA e às outras economias emergentes, a Europa será a região de menor crescimento este ano e em 2006. O FMI inclusive rebaixou a previsão para vários países europeus na semana passada. "Os desequilíbrios globais têm de ser compensados por todos para que os EUA possam continuar dando a sua contribuição nesse crescimento global", disse Snow.
De forma indireta, Snow também cobrou uma maior flexibilização da política cambial chinesa, alterada de forma sutil recentemente, para que os EUA possam diminuir seu déficit comercial com o país asiático.

Reformas no FMI
Em seu pronunciamento, Palocci voltou a insistir que o FMI deve ser mais "forte e representativo" -uma referencia ao desejo de vários países em desenvolvimento de aumentar sua participação e voz na instituição.
Rato afirmou que o Fundo deve "agir para reformar" seu sistema de cotas e representatividade de forma a aumentar sua "legitimidade". "Isso significa aumentar o poder de voto de economias emergentes", disse, referindo-se em seguida somente à Ásia.


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