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ECONOMIA GLOBAL
FMI quer correção de déficits dos EUA para impulsionar crescimento; ministro teme efeito nos emergentes
Palocci cobra "remédios" contra os desequilíbrios
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O FMI (Fundo Monetário Internacional) cobrou ontem uma
"urgente" correção dos desequilíbrios internos na economia norte-americana para assegurar um
período de crescimento mundial
sustentado.
Em intervenção durante a reunião anual do Fundo, o ministro
Antonio Palocci (Fazenda), também cobrou a aplicação de "remédios" contra esses desequilíbrios
que, na sua opinião, "embora
bem identificados, têm persistido
e até se intensificado".
Para Palocci, os desequilíbrios
globais provocados principalmente pelos EUA "põem em risco
os ganhos já obtidos pelos países
em desenvolvimento em matéria
de crescimento e robustez de suas
próprias políticas econômicas".
O diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato, também foi enfático na cobrança. "Os EUA têm sido o principal motor da economia global no passado recente.
Mas os desequilíbrios no país
continuam crescendo, assim como as vulnerabilidades da economia", afirmou o diretor-gerente
do Fundo em discurso aos membros do comitê de governadores
da instituição.
"Para manter o equilíbrio global, a redução dos déficit fiscal e
em conta corrente dos EUA (conhecidos como déficits gêmeos) é
particularmente urgente", afirmou Rato.
Em 2005 e 2006, os EUA, ao lado
da China, serão o principal "motor" da economia global, com um
crescimento previsto de 3,5% e
3,3%, respectivamente.
Embora os percentuais sejam
inferiores à previsão para o resto
do mundo (4,3% este ano e no
próximo), os efeitos do crescimento da maior economia do
mundo tendem a se espalhar por
todas as demais regiões do planeta -principalmente entre os países que têm forte comércio com
os americanos, caso do Brasil.
A maior preocupação do FMI é
com o déficit em conta corrente
dos EUA, que atingiu este ano o
nível recorde de 6% do PIB (Produto Interno Bruto).
O déficit em conta corrente representa o resultado das transações comerciais do país com o
mundo (incluindo as exportações
e as importações), mais os serviços e as chamadas transferências
unilaterais. O déficit atual tem sido ampliado, principalmente, por
causa das transações comerciais
dos EUA com a China.
Em seu discurso, o secretário do
Tesouro dos EUA, John Snow, pediu a ajuda das outras principais
economias do mundo, especialmente as européias, para introduzirem reformas necessárias para
acelerar o crescimento mundial.
Comparada aos EUA e às outras
economias emergentes, a Europa
será a região de menor crescimento este ano e em 2006. O FMI inclusive rebaixou a previsão para
vários países europeus na semana
passada. "Os desequilíbrios globais têm de ser compensados por
todos para que os EUA possam
continuar dando a sua contribuição nesse crescimento global",
disse Snow.
De forma indireta, Snow também cobrou uma maior flexibilização da política cambial chinesa,
alterada de forma sutil recentemente, para que os EUA possam
diminuir seu déficit comercial
com o país asiático.
Reformas no FMI
Em seu pronunciamento, Palocci voltou a insistir que o FMI
deve ser mais "forte e representativo" -uma referencia ao desejo
de vários países em desenvolvimento de aumentar sua participação e voz na instituição.
Rato afirmou que o Fundo deve
"agir para reformar" seu sistema
de cotas e representatividade de
forma a aumentar sua "legitimidade". "Isso significa aumentar o
poder de voto de economias
emergentes", disse, referindo-se
em seguida somente à Ásia.
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