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VINICIUS TORRES FREIRE
O preço do pão, do leite, da carne...
Estudo trimestral do BC sobre inflação sai nesta semana e vai esquentar o debate sobre fim da fase de corte de juros
A CONVERSA sobre inflação vai
esquentar nesta semana. O
Banco Central divulga seu calhamaço trimestral sobre preços e
atividade econômica, o "Relatório
de Inflação". Os preços da comida
estão no forno, a esquentar, em particular no bolso dos mais pobres. O
debate está quente entre economistas que analisam conjuntura em
bancos e consultorias, os quais calculam projeções de inflação, entre
outras, mui consideradas pelo BC,
com quem de resto conversam regularmente sobre economia.
Os povos do mercado quererão saber qual dos argumentos de dois
partidos na praça o BC vai corroborar. Uns consideram que a inflação
mudou de patamar, mas seu ritmo
tende a arrefecer daqui por diante.
Para outros, além da alta mundial de
preços de produtos básicos, o Brasil
já estaria crescendo perto ou além
da conta -excesso de consumo elevaria os preços. E daí? E daí que, a
depender da perspectiva da inflação
para 2008, o BC pode parar de reduzir os juros, já em outubro talvez.
A quantidade de variáveis envolvidas na estimativa é tão enorme que,
ainda mais em períodos curtos de
tempo (meses), descobrir se a inflação já começou a decolar tem muito
a ver com o gosto do freguês. A decolar para quanto? Para perto da meta
ou além da meta informal de muita
gente no mercado e, rumoreja-se, no
BC também, algo como 3,5%?
Os preços estão inquietos, de fato.
No Brasil, nos últimos 12 meses, o
preço da alimentação contribui para
uns 45% da inflação de 4,2% acumulada no período (até o ano passado, o
preço da comida caía). Nem todos os
preços "explodem". O leite inflou os
preços no ano, o que já induz o aumento da produção, por exemplo.
Mas o consumo de quase tudo
cresce no mundo, tem havido muito
problema climático a arrasar safras
etc. O preço do trigo subiu quase
80% em um ano (mas, relatava ontem a Bloomberg, estima-se para
2008 a maior safra de trigo em dez
anos; o preço cairia 30%. Se a safra
for boa. E se não chover?). O milho
subiu uns 50%, em parte influenciado pela opção ineficiente dos EUA
de fazer álcool com esse grão.
Para piorar, o milho é matéria-prima de carne e de muito produto da
agroindústria. Mais gente a plantar
milho reduz o espaço para trigo e soja e ajuda a elevar seus preços. Até a
União Européia permitiu, pela primeira vez em 15 anos, o aumento da
área plantada de grãos (medida tida
como inócua, aliás). Franceses e italianos reclamam do preço da baguete e do macarrão. Como o preço da
soja subiu, fazendeiros e arrendadores de terra no Brasil já se perguntam se deviam ter investido tanto
em cana (o preço do álcool caiu).
Quanto à "taxa de crescimento
sustentável" máxima, o Brasil já
chegou lá? Estimar tal coisa é muito
mais complicado e impreciso do que
projetar inflação. A prova do pudim
é, afinal, comê-lo mais caro: ver se a
inflação subiu de fato, embora aí
possa ser tarde para conter o problema de modo menos custoso. Mas o
salário médio (ao menos nas metrópoles) cresce mais devagar, assim
como as vendas no varejo. Vai continuar assim? Até outubro, mês da
próxima decisão do BC sobre juros,
não vai haver indicador bastante para novas estimativas de inflação. Por
conservadorismo, o BC tenderia a
brecar a queda nos juros.
vinit@uol.com.br
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