São Paulo, terça-feira, 25 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

O preço do pão, do leite, da carne...

Estudo trimestral do BC sobre inflação sai nesta semana e vai esquentar o debate sobre fim da fase de corte de juros

A CONVERSA sobre inflação vai esquentar nesta semana. O Banco Central divulga seu calhamaço trimestral sobre preços e atividade econômica, o "Relatório de Inflação". Os preços da comida estão no forno, a esquentar, em particular no bolso dos mais pobres. O debate está quente entre economistas que analisam conjuntura em bancos e consultorias, os quais calculam projeções de inflação, entre outras, mui consideradas pelo BC, com quem de resto conversam regularmente sobre economia.
Os povos do mercado quererão saber qual dos argumentos de dois partidos na praça o BC vai corroborar. Uns consideram que a inflação mudou de patamar, mas seu ritmo tende a arrefecer daqui por diante.
Para outros, além da alta mundial de preços de produtos básicos, o Brasil já estaria crescendo perto ou além da conta -excesso de consumo elevaria os preços. E daí? E daí que, a depender da perspectiva da inflação para 2008, o BC pode parar de reduzir os juros, já em outubro talvez.
A quantidade de variáveis envolvidas na estimativa é tão enorme que, ainda mais em períodos curtos de tempo (meses), descobrir se a inflação já começou a decolar tem muito a ver com o gosto do freguês. A decolar para quanto? Para perto da meta ou além da meta informal de muita gente no mercado e, rumoreja-se, no BC também, algo como 3,5%? Os preços estão inquietos, de fato.
No Brasil, nos últimos 12 meses, o preço da alimentação contribui para uns 45% da inflação de 4,2% acumulada no período (até o ano passado, o preço da comida caía). Nem todos os preços "explodem". O leite inflou os preços no ano, o que já induz o aumento da produção, por exemplo.
Mas o consumo de quase tudo cresce no mundo, tem havido muito problema climático a arrasar safras etc. O preço do trigo subiu quase 80% em um ano (mas, relatava ontem a Bloomberg, estima-se para 2008 a maior safra de trigo em dez anos; o preço cairia 30%. Se a safra for boa. E se não chover?). O milho subiu uns 50%, em parte influenciado pela opção ineficiente dos EUA de fazer álcool com esse grão.
Para piorar, o milho é matéria-prima de carne e de muito produto da agroindústria. Mais gente a plantar milho reduz o espaço para trigo e soja e ajuda a elevar seus preços. Até a União Européia permitiu, pela primeira vez em 15 anos, o aumento da área plantada de grãos (medida tida como inócua, aliás). Franceses e italianos reclamam do preço da baguete e do macarrão. Como o preço da soja subiu, fazendeiros e arrendadores de terra no Brasil já se perguntam se deviam ter investido tanto em cana (o preço do álcool caiu).
Quanto à "taxa de crescimento sustentável" máxima, o Brasil já chegou lá? Estimar tal coisa é muito mais complicado e impreciso do que projetar inflação. A prova do pudim é, afinal, comê-lo mais caro: ver se a inflação subiu de fato, embora aí possa ser tarde para conter o problema de modo menos custoso. Mas o salário médio (ao menos nas metrópoles) cresce mais devagar, assim como as vendas no varejo. Vai continuar assim? Até outubro, mês da próxima decisão do BC sobre juros, não vai haver indicador bastante para novas estimativas de inflação. Por conservadorismo, o BC tenderia a brecar a queda nos juros.


vinit@uol.com.br

Texto Anterior: Benjamin Steinbruch: Desenvolvimento
Próximo Texto: Pior da crise virá só em 2008, prevê FMI
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.