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BC age após custo de captação de recursos subir até 10% para instituições menores
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nos últimos dez dias, o Banco Central intensificou o monitoramento da quantidade de dinheiro que os bancos movimentam diariamente e passou
a exigir mais informações dos
bancos.
O acompanhamento mostrou que não faltavam recursos
para as transações normais do
sistema financeiro brasileiro
em que as instituições trocam
empréstimos. Havia, sim, uma
distorção no custo dessas operações porque algumas estavam guardando as sobras no
caixa em vez de repassar aos
demais bancos, como fazem
usualmente.
Esse cenário, conhecido no
jargão do mercado como empoçamento de liquidez, foi determinante para o BC decidir agir.
Um dos sinais que fez acender a
luz amarela no BC foi a elevação do custo do crédito para as
instituições de menor porte,
apesar de o risco delas não ter
aumentado. Para muitos bancos, tomar uma linha de crédito
junto a outra instituição passou, do dia para a noite, a ficar
10% mais caro.
Dólar
A linha de atuação do BC seguiu a mesma adotada na semana passada, quando ele
identificou que o real se desvalorizou mesmo com o fluxo de
entradas e saídas ainda favorável para o país. As instituições
aumentaram o estoque de
moeda estrangeira que têm em
caixa. No final de agosto, o total
era de US$ 3,7 bilhões e passou
para US$ 7,2 bilhões no final da
semana passada.
Para corrigir a distorção, a
autoridade monetária decidiu
vender dólares no mercado e
marcou leilões de venda com
compromisso de recompra no
futuro, o que não fazia desde fevereiro de 2003.
Segundo a Folha apurou, a
avaliação dentro do BC é a de
que a decisão atinge diretamente o elo mais sensível do
sistema bancário neste momento: os bancos de médio
porte, com poucas agências e
especializados em captar dinheiro aqui e no exterior e repassar os recursos em operações de crédito, seja para as
empresas ou diretamente para
os consumidores.
O fato de o BC sair em socorro ao sistema neste momento,
no entanto, enfatizaram, ontem duas fontes do governo ouvidas pela Folha, não significa
que o sistema bancário esteja
com risco de quebras generalizadas em razão do cenário internacional adverso por causa
das turbulências do sistema financeiro.
Medida preventiva
A medida, insistiram, foi preventiva. Além disso, o BC deu
uma resposta aos críticos da
sua atuação dentro do governo,
que o acusam de se preocupar
apenas com o impacto do crescimento da economia na inflação e não considerar muito os
desdobramentos que a crise internacional terá aqui dentro do
Brasil.
A discussão sobre a magnitude desse impacto tem gerado
divisão no Copom (Comitê de
Política Monetária) sob o ponto de vista de análise das projeções para inflação. No entanto,
com o agravamento da situação
atual, essa discussão une não só
os diretores do BC mas até
mesmo a equipe econômica como um todo.
Uma das avaliações do governo é a de que o Brasil não pode
hesitar neste momento sob o
risco de pagar mais caro pela
crise dos EUA do que deveria.
Por isso, vem se antecipando e
agindo de forma rápida.
Na outra ponta, o governo
tenta, dentro do que as disputas
internas permitem, unificar o
discurso. A prioridade nas avaliações internas é que a imagem
de que o Brasil está relativamente bem no meio de um cenário internacional desesperador não pode ser abalada.
Isso, segundo a Folha apurou, teria sido levado em conta
para mudança no discurso do
presidente do BNDES, Luciano
Coutinho. Considerou-se no
governo que o banco ganhava
espaço na mídia como uma instituição que precisa de mais dinheiro para poder viabilizar
suas operações. Agora, em vez
de destacar a necessidade de
mais aporte no banco, Coutinho enfatiza que o BNDES tem
condições de suprir a demanda
interna por investimentos até
2009.
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