São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BC age após custo de captação de recursos subir até 10% para instituições menores

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nos últimos dez dias, o Banco Central intensificou o monitoramento da quantidade de dinheiro que os bancos movimentam diariamente e passou a exigir mais informações dos bancos.
O acompanhamento mostrou que não faltavam recursos para as transações normais do sistema financeiro brasileiro em que as instituições trocam empréstimos. Havia, sim, uma distorção no custo dessas operações porque algumas estavam guardando as sobras no caixa em vez de repassar aos demais bancos, como fazem usualmente.
Esse cenário, conhecido no jargão do mercado como empoçamento de liquidez, foi determinante para o BC decidir agir. Um dos sinais que fez acender a luz amarela no BC foi a elevação do custo do crédito para as instituições de menor porte, apesar de o risco delas não ter aumentado. Para muitos bancos, tomar uma linha de crédito junto a outra instituição passou, do dia para a noite, a ficar 10% mais caro.

Dólar
A linha de atuação do BC seguiu a mesma adotada na semana passada, quando ele identificou que o real se desvalorizou mesmo com o fluxo de entradas e saídas ainda favorável para o país. As instituições aumentaram o estoque de moeda estrangeira que têm em caixa. No final de agosto, o total era de US$ 3,7 bilhões e passou para US$ 7,2 bilhões no final da semana passada.
Para corrigir a distorção, a autoridade monetária decidiu vender dólares no mercado e marcou leilões de venda com compromisso de recompra no futuro, o que não fazia desde fevereiro de 2003.
Segundo a Folha apurou, a avaliação dentro do BC é a de que a decisão atinge diretamente o elo mais sensível do sistema bancário neste momento: os bancos de médio porte, com poucas agências e especializados em captar dinheiro aqui e no exterior e repassar os recursos em operações de crédito, seja para as empresas ou diretamente para os consumidores.
O fato de o BC sair em socorro ao sistema neste momento, no entanto, enfatizaram, ontem duas fontes do governo ouvidas pela Folha, não significa que o sistema bancário esteja com risco de quebras generalizadas em razão do cenário internacional adverso por causa das turbulências do sistema financeiro.

Medida preventiva
A medida, insistiram, foi preventiva. Além disso, o BC deu uma resposta aos críticos da sua atuação dentro do governo, que o acusam de se preocupar apenas com o impacto do crescimento da economia na inflação e não considerar muito os desdobramentos que a crise internacional terá aqui dentro do Brasil.
A discussão sobre a magnitude desse impacto tem gerado divisão no Copom (Comitê de Política Monetária) sob o ponto de vista de análise das projeções para inflação. No entanto, com o agravamento da situação atual, essa discussão une não só os diretores do BC mas até mesmo a equipe econômica como um todo.
Uma das avaliações do governo é a de que o Brasil não pode hesitar neste momento sob o risco de pagar mais caro pela crise dos EUA do que deveria. Por isso, vem se antecipando e agindo de forma rápida.
Na outra ponta, o governo tenta, dentro do que as disputas internas permitem, unificar o discurso. A prioridade nas avaliações internas é que a imagem de que o Brasil está relativamente bem no meio de um cenário internacional desesperador não pode ser abalada.
Isso, segundo a Folha apurou, teria sido levado em conta para mudança no discurso do presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Considerou-se no governo que o banco ganhava espaço na mídia como uma instituição que precisa de mais dinheiro para poder viabilizar suas operações. Agora, em vez de destacar a necessidade de mais aporte no banco, Coutinho enfatiza que o BNDES tem condições de suprir a demanda interna por investimentos até 2009.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Medida combate "elitização" do crédito
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.