São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2008

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Medida combate "elitização" do crédito

Flexibilização deve reduzir juro interbancário e facilitar cessão de crédito de bancos menores para empresas pequenas

Sem novas captações, banco médio reduziu volume e prazos de crédito; analistas não vêem contra-senso com alta recente do juro

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A flexibilização dos depósitos compulsórios atinge em cheio os bancos pequenos e médios, que passaram a ter dificuldade para captar dinheiro e manter suas operações em meio ao aperto internacional do crédito, segundo analistas. A medida também libera recursos para o resgate de dívidas no exterior e facilita a venda de carteiras de crédito originadas pelas pequenas e médias instituições.
Para captar recursos, os bancos pequenos não contam com depósitos dos correntistas e têm de recorrer ao mercado externo -que está praticamente fechado- ou ao empréstimo interbancário. No mercado interno, têm de se submeter a taxas superiores às pagas pelos grandes bancos, considerado de "risco zero" no país. Alguns desses bancos tiveram de aceitar pagar até 107% do CDI.
E, sem novas captações, esses bancos reduziram o volume e encurtaram os prazos dos empréstimos, geralmente para pequenas e médias empresas. Ou seja, houve uma "elitização do crédito", cuja concessão ficou restrita aos bancos maiores, voltados para as grandes empresas, que também deixaram de se financiar no exterior.
"A medida teve em mira os bancos de menor porte. Eles são também os primeiros a sofrerem com os movimentos de "flight to quality" [busca por risco menor]. A ação do BC foi mais preventiva, para evitar algum eventual problema futuro. Pode ajudar os bancos menores a se manterem competitivos na captação sem incorrer em custos exagerados", disse Gustavo Loyola, ex-presidente do BC.
"É uma medida muito mais para reequilibrar o crédito dos bancos pequenos. Não faz muito sentido para o banco grande. É um troco para eles", disse Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander e ex-diretor do BC.
Para Marcos Henrique Echternacht, diretor comercial do Banco Prosper, o que "fará diferença" aos pequenos e médios bancos será uma provável redução nas taxas de empréstimos dos grandes bancos, que terá repercussão em cadeia nos pequenos. O banco atua no crédito para médias empresas.
"Com mais dinheiro na mão, talvez [os grandes bancos] reduzam a taxa de captação no CDB. Reduzindo a taxa dele, automaticamente eu posso reduzir a minha. Barateia meu custo de captação e me permite acessar empresas com taxa muito menor. É um efeito em cadeia. Isso é mais fácil acontecer do que ele vir comprar minha carteira de crédito", disse.
A medida também facilitará o resgate de financiamentos externos dos grandes bancos, que têm vencimentos no último trimestre. Com a crise, a renovação desses empréstimos passou a ter taxas proibitivas.
Para Schwartsman, não se trata de um contra-senso diminuir o compulsório, duas semanas após elevar os juros. Ele lembra que o maior impacto diz respeito às empresas de leasing, cuja alíquota maior foi adiada para 2009. "Não libera dinheiro adicional, só atrasa um pouco o recolhimento. Não parece ter sido um refresco tão grande em termos de política monetária. Não parece uma decisão de política monetária, mas uma decisão de regulação."
"A redução do compulsório é, de fato, um afrouxamento da política monetária, mas acredito que ainda não sinaliza alteração na trajetória de alta da Selic. Vejo o BC usando os juros para lidar com a inflação e o compulsório para prevenir eventuais problemas de liquidez no mercado", disse Loyola.
Rubens Sardenberg, ex-secretario-adjunto do Tesouro e economista-chefe de Febraban, destacou a importância de o BC ter agido preventivamente. Segundo ele, a situação no mercado brasileiro é totalmente diferente da vivida nos EUA. "Lá os bancos têm problemas de solvência. Aqui, não", disse. Sardenberg afirmou que a medida mais importante foi a elevação do limite de isenção que liberará R$ 5,2 bilhões para economia, aumentando a liquidez do sistema.
Na avaliação do presidente do Banco do Brasil, Antonio Francisco de Lima Neto, o impacto será "residual" no banco. Isso porque, o BB não tem operações de captação junto a empresas de leasing. Ainda assim, elogiou a decisão e disse que o sistema brasileiro não tem problemas de solvência de bancos, mas já sofre com a redução dos empréstimos externos.


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