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Medida combate "elitização" do crédito
Flexibilização deve reduzir juro interbancário e facilitar cessão de crédito de bancos menores para empresas pequenas
Sem novas captações, banco médio reduziu volume e prazos de crédito; analistas não vêem contra-senso
com alta recente do juro
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A flexibilização dos depósitos
compulsórios atinge em cheio
os bancos pequenos e médios,
que passaram a ter dificuldade
para captar dinheiro e manter
suas operações em meio ao
aperto internacional do crédito, segundo analistas. A medida
também libera recursos para o
resgate de dívidas no exterior e
facilita a venda de carteiras de
crédito originadas pelas pequenas e médias instituições.
Para captar recursos, os bancos pequenos não contam com
depósitos dos correntistas e
têm de recorrer ao mercado externo -que está praticamente
fechado- ou ao empréstimo
interbancário. No mercado interno, têm de se submeter a taxas superiores às pagas pelos
grandes bancos, considerado
de "risco zero" no país. Alguns
desses bancos tiveram de aceitar pagar até 107% do CDI.
E, sem novas captações, esses
bancos reduziram o volume e
encurtaram os prazos dos empréstimos, geralmente para pequenas e médias empresas. Ou
seja, houve uma "elitização do
crédito", cuja concessão ficou
restrita aos bancos maiores,
voltados para as grandes empresas, que também deixaram
de se financiar no exterior.
"A medida teve em mira os
bancos de menor porte. Eles
são também os primeiros a sofrerem com os movimentos de
"flight to quality" [busca por
risco menor]. A ação do BC foi
mais preventiva, para evitar algum eventual problema futuro.
Pode ajudar os bancos menores
a se manterem competitivos na
captação sem incorrer em custos exagerados", disse Gustavo
Loyola, ex-presidente do BC.
"É uma medida muito mais
para reequilibrar o crédito dos
bancos pequenos. Não faz muito sentido para o banco grande.
É um troco para eles", disse
Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander e
ex-diretor do BC.
Para Marcos Henrique Echternacht, diretor comercial do
Banco Prosper, o que "fará diferença" aos pequenos e médios
bancos será uma provável redução nas taxas de empréstimos dos grandes bancos, que
terá repercussão em cadeia nos
pequenos. O banco atua no crédito para médias empresas.
"Com mais dinheiro na mão,
talvez [os grandes bancos] reduzam a taxa de captação no
CDB. Reduzindo a taxa dele,
automaticamente eu posso reduzir a minha. Barateia meu
custo de captação e me permite
acessar empresas com taxa
muito menor. É um efeito em
cadeia. Isso é mais fácil acontecer do que ele vir comprar minha carteira de crédito", disse.
A medida também facilitará
o resgate de financiamentos externos dos grandes bancos, que
têm vencimentos no último trimestre. Com a crise, a renovação desses empréstimos passou
a ter taxas proibitivas.
Para Schwartsman, não se
trata de um contra-senso diminuir o compulsório, duas semanas após elevar os juros. Ele
lembra que o maior impacto diz
respeito às empresas de leasing, cuja alíquota maior foi
adiada para 2009. "Não libera
dinheiro adicional, só atrasa
um pouco o recolhimento. Não
parece ter sido um refresco tão
grande em termos de política
monetária. Não parece uma decisão de política monetária,
mas uma decisão de regulação."
"A redução do compulsório é,
de fato, um afrouxamento da
política monetária, mas acredito que ainda não sinaliza alteração na trajetória de alta da Selic. Vejo o BC usando os juros
para lidar com a inflação e o
compulsório para prevenir
eventuais problemas de liquidez no mercado", disse Loyola.
Rubens Sardenberg, ex-secretario-adjunto do Tesouro e
economista-chefe de Febraban, destacou a importância de
o BC ter agido preventivamente. Segundo ele, a situação no
mercado brasileiro é totalmente diferente da vivida nos EUA.
"Lá os bancos têm problemas
de solvência. Aqui, não", disse.
Sardenberg afirmou que a medida mais importante foi a elevação do limite de isenção que
liberará R$ 5,2 bilhões para
economia, aumentando a liquidez do sistema.
Na avaliação do presidente
do Banco do Brasil, Antonio
Francisco de Lima Neto, o impacto será "residual" no banco.
Isso porque, o BB não tem operações de captação junto a empresas de leasing. Ainda assim,
elogiou a decisão e disse que o
sistema brasileiro não tem problemas de solvência de bancos,
mas já sofre com a redução dos
empréstimos externos.
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