São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2008

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bastidores

BC pode reduzir ritmo de alta da Selic, diz Fazenda

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério da Fazenda avalia que as últimas medidas adotadas pelo Banco Central -injetando mais reais na economia e fazendo leilões de dólares- indicam uma mudança de posição em relação ao cenário econômico, o que pode levar a uma alta menor na taxa de juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) em outubro.
Segundo a Folha apurou, a equipe de Guido Mantega acredita que o BC pode optar não por uma alta de 0,50 ponto percentual, como muitos analistas estavam prevendo, mas de 0,25 ponto percentual, diante do agravamento da crise financeira mundial.
A depender do estágio da crise nos Estados Unidos, auxiliares do ministro da Fazenda esperam até que na última reunião do Copom nesse ano, em dezembro, o BC interrompa o processo de alta dos juros iniciado em março.
Na definição de um assessor de Mantega, o cenário mudou muito desde a última reunião do Copom, no começo do mês, quando os juros subiram 0,75 ponto percentual. E o Banco Central tem mostrado estar preocupado com as repercussões da crise no mercado de crédito.
"Se você imaginar que as últimas decisões do banco vão na linha de irrigar o mercado com dinheiro, não tem muito sentido aumentar muito os juros porque iria na direção contrária", analisa um técnico da Fazenda, fazendo questão de destacar não haver clima de disputa hoje dentro do governo sobre o tema.
A equipe de Mantega aponta que o agravamento da crise nos Estados Unidos vai levar a uma desaceleração mais forte na economia mundial, provocando queda mais acentuada no preço das commodities, repercutindo nos índices de inflação e nas taxas de juros dos países desenvolvidos.
Se prevê uma chance de parada no processo de alta dos juros em dezembro, a avaliação mais realista e conservadora da Fazenda indica que o BC volte a cortar as taxas apenas no segundo semestre de 2009 diante do quadro de incerteza atual e da possibilidade de a taxa cambial se manter pressionada nos próximos meses, acima de R$ 1,80.
Há uma aposta, contudo, de que num cenário mais otimista os juros poderiam voltar a cair no segundo trimestre do próximo ano. Isso na hipótese de a taxa de câmbio ficar na casa dos R$ 1,80, os bancos centrais dos países desenvolvidos cortarem suas taxas de juros e, com isso, os investidores voltarem a direcionar grande soma de recursos para o Brasil.
Sobre as medidas de ontem, com redução do montante de dinheiro que os bancos são obrigados a depositar no BC, a equipe da Fazenda avalia que elas tinham como principal alvo os pequenos bancos, que estão enfrentando dificuldades na obtenção de crédito, mas não a ponto de quebrar.
É que essas instituições financeiras estavam bancando boa parte de suas operações no Brasil por meio da captação de recursos externos. Com a crise, as linhas de crédito externas praticamente secaram. O que restou ficou bem mais caro.
A expectativa do Ministério da Fazenda é que esse encarecimento nos financiamentos externos acabe com as operações de arbitragem -em que um investidor busco dinheiro lá fora, a baixo custo, e aplica no Brasil por causa dos juros altos.
A preocupação do governo, porém, é se a escassez e conseqüente elevação dos custos dos empréstimos externos venham a atingir o capital de giro das empresas brasileiras. (VALDO CRUZ)



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