São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2008

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Estresse segue extraordinário, diz Bernanke

Em pronunciamento, presidente dos Estados Unidos reforça necessidade de urgência para aprovar pacote de socorro

Políticos do Partido Republicano, o mesmo de Bush, se assustam com número recorde de manifestações de eleitores

Chip Somodevilla/Getty Images/France Presse
Paulson (secretário do Tesouro), à esquerda, e Ben Bernanke (presidente do Fed) no Congresso

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O presidente norte-americano, George W. Bush, falaria ontem em cadeia nacional que a crise econômica por que passa o país é grave, numa ação que um funcionário graduado do governo definiu como "bala que você só dispara uma vez". O pronunciamento estava marcado para começar as 21h de Washington (22h de Brasília).
As palavras do presidente procurariam reforçar o sentido de urgência com que o governo do republicano tenta impregnar o Congresso dominado pela oposição democrata. O objetivo é aprovar o quanto antes e com o menor número de modificações o pacote apresentado no sábado pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson, cuja principal medida é a autorização para gasto de até US$ 700 bilhões na compra de títulos de empresas prejudicadas pela crise hipotecária.
Além disso, a Casa Branca tenta convencer o hesitante baixo-clero de seu partido a fechar com o governo. Os congressistas da situação estão assustados com o número recorde de manifestações que vêm recebendo de eleitores contrários à aprovação do pacote. Todas as cadeiras da Câmara dos Representantes e um terço das do Senado estão em jogo nas eleições de 4 de novembro.
A fala de Bush, que duraria entre 12 minutos e 14 minutos, segundo a porta-voz, Dana Perino, e que seria assistida "por todo o mundo", acredita ela, "porque estamos numa crise que acontece a cada 100 anos em nossos mercados financeiros", era o ponto mais vistoso de uma ofensiva que dura já uma semana e que ganhou em dramaticidade com o anúncio de John McCain de que suspenderia sua campanha.
O candidato da situação à sucessão presidencial citou a crise financeira para avisar que a partir da manhã de hoje suspenderia temporariamente as atividades de sua corrida à Casa Branca e que, se a medida não fosse votada até amanhã, não participaria de seu primeiro debate com o democrata Barack Obama, previsto para acontecer nessa sexta-feira na Universidade do Mississippi, na cidade de Oxford.
Ao longo do dia, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, e o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, continuaram seu périplo de convencimento dos políticos, ao testemunhar no comitê de serviços financeiros da Câmara dos Representantes (deputados federais). No dia anterior, haviam feito o mesmo em comitê no Senado.
Como parte da negociação em curso, Paulson cedeu num dos pontos de honra da contraproposta democrata, de que sejam limitados os pacotes indenizadores dos executivos das empresas em dificuldade financeira que venham a ser auxiliadas pelo governo. Foi a primeira vez que assumiu o compromisso em público.
"O povo americano está com raiva em relação a compensação executiva, e com razão", disse Paulson. "Muitos de vocês citam esse como um problema sério, e eu concordo. Temos de achar uma maneira de lidar com isso na lei sem minar a efetividade do programa". A seu lado, o presidente do Fed seguiu em sua linha do dia anterior, de pintar a economia americana com cores cinzas e reconhecer a limitação dos instrumentos à disposição do governo para lidar com a crise.
"Apesar dos esforços do Federal Reserve, do Tesouro e de outras agências, os mercados financeiros globais continuam sob estresse extraordinário", disse o presidente do BC americano. "A ação do Congresso é requerida urgentemente para estabilizar a situação e evitar o que, de outra maneira, poderia vir a ser conseqüências muito sérias para o nosso mercado financeiro e nossa economia."
Bernanke afirmou que a situação só não é mais grave graças às exportações americanas. "A atividade econômica tem sido salva por uma demanda estrangeira forte de uma série variada de produtos dos EUA, incluindo produtos agrícolas e bens de capital", disse. O estímulo, no entanto, não se sustentaria a longo prazo. Antes, pela manhã, Bernanke havia falado ao comitê econômico conjunto do Congresso.
De novo, a dupla foi recebida por uma saraivada de críticas, vindas de ambos os lados do espectro político. Os eleitores estão reagindo "com surpresa, estupefação e raiva intensa" disse o senador democrata Charles Schumer, presidente do comitê. Ainda assim, havia o sentido da necessidade de aprovar um plano o quanto antes.
"Não vamos adicionar emendas, não vamos fazer dessa proposta uma árvore de Natal", afirmou Schumer, para depois dizer que a medida passaria "logo". As duas Casas entram em recesso eleitoral amanhã, mas a data pode ser adiada se houver necessidade, afirmou a presidente do Congresso, a democrata Nancy Pelosi.


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