São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2008

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Economia está em perigo, afirma Bush

Presidente diz que EUA entrarão em recessão "longa e dolorosa" se Congresso não aprovar pacote; democratas vêem avanço para acordo

Se o plano não for aprovado, afirma Bush, país poderá "enfrentar o pânico financeiro, e um cenário desesperador se apresentará"

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Cenho franzido, fala nervosa, com 40 dias de poder de fato pela frente e uma bancada republicana para convencer, o presidente George W. Bush disse ontem que a "economia inteira está em perigo" e, se o Congresso dos EUA não agir logo para aprovar o pacote proposto por seu governo, seu país entrará "numa longa e dolorosa recessão", na qual "milhões podem perder o emprego".
E, com uma reunião marcada amanhã à tarde de Bush com as principais lideranças do Congresso e os candidatos à Presidência John McCain e Barack Obama, políticos democratas já afirmaram que um acordo deve ser fechado logo, com o governo cedendo em pontos como os bônus a executivos. No começo da noite, o deputado democrata Barney Frank, presidente do Comitê de Serviços Financeiros, disse que estava "claro" que haveria os votos necessários para aprovar a lei.
"A tentativa de resgate não visa preservar uma companhia ou indústria, mas a economia americana por completo", afirmou o presidente, em rede nacional, na Casa Branca. Se a ação não for tomada, afirmou, o país "poderá enfrentar o pânico financeiro, e um cenário desesperador se apresentará".
Depois de adicionar o que analistas chamam de a pior crise financeira em décadas ao legado de uma administração que já conta com a Guerra do Iraque, o republicano veio a público defender o plano que enviou ao Legislativo, cuja principal medida é a autorização para gasto de até US$ 700 bilhões na compra de títulos podres de instituições financeiras prejudicadas pela crise hipotecária.
Normalmente, disse, ele não faria a intervenção, mas "essas não são circunstâncias normais. O mercado não está funcionando propriamente. Tem havido uma perda de confiança disseminada e importantes setores do sistema financeiro dos EUA estão sob risco de paralisação". Pouco visível durante a crise, para alguns até omisso, Bush convocou sua primeira rede nacional em 377 dias -quando havia falado da Guerra do Iraque- e talvez a última vez da sua Presidência.
Suas palavras procuravam reforçar o sentido de urgência com que o governo do republicano tenta impregnar o Congresso, dominado pela oposição democrata. O objetivo é aprovar o quanto antes e com o menor número de modificações o pacote apresentado no sábado pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson.
Além disso, a Casa Branca tenta convencer o hesitante baixo clero de seu partido a fechar com o governo. Os congressistas da situação estão assustados com o número recorde de manifestações que vêm recebendo de eleitores contrários à aprovação do pacote. Todas as cadeiras da Câmara dos Representantes e um terço das do Senado estão em jogo nas eleições de 4 de novembro.
A fala foi o ponto mais vistoso de uma ofensiva que já dura uma semana e que ganhou em dramaticidade com o anúncio de McCain de que suspenderia sua campanha. O candidato da situação citou a crise financeira para avisar que a partir da manhã de hoje suspenderá temporariamente as atividades de sua corrida à Casa Branca.
Disse ainda que, se a medida não for votada até amanhã, não participará de seu primeiro debate com Obama, previsto para acontecer na sexta-feira.

Perto do acordo
Ao longo do dia, Paulson, e o presidente do Fed (o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, continuaram seu périplo de convencimento dos políticos, ao testemunhar no comitê de serviços financeiros da Câmara dos Representantes (deputados federais). No dia anterior, haviam feito o mesmo no Senado.
Como parte da negociação em curso, Paulson cedeu num dos pontos de honra da contraproposta democrata, de que sejam limitados os pacotes indenizadores dos executivos das empresas em dificuldade financeira que venham a ser auxiliadas pelo governo. Foi a primeira vez que assumiu o compromisso em público.
"O povo americano está com raiva em relação a compensação executiva, e com razão", disse Paulson. "Muitos de vocês citam esse como um problema sério, e eu concordo. Temos de achar uma maneira de lidar com isso na lei sem minar a efetividade do programa". A seu lado, o presidente do Fed seguiu em sua linha do dia anterior, de pintar a economia americana com cores cinzas.
"Apesar dos esforços do Federal Reserve, do Tesouro e de outras agências, os mercados financeiros globais continuam sob estresse extraordinário", disse o presidente do Fed.
"A ação do Congresso é requerida urgentemente para estabilizar a situação e evitar o que, de outra maneira, poderia vir a ser conseqüência muito séria para o nosso mercado financeiro e nossa economia." Antes, pela manhã, Bernanke havia falado ao comitê econômico conjunto do Congresso.
De novo, a dupla foi recebida por uma saraivada de críticas, vindas de ambos os lados do espectro político. Os eleitores estão reagindo ao pacote "com surpresa, estupefação e raiva intensa", disse o senador democrata Charles Schumer, presidente do comitê. Ainda assim, havia a percepção da necessidade de aprovar um plano o quanto antes. "Não vamos adicionar emendas, não vamos fazer dessa proposta uma árvore de Natal", afirmou o senador de Nova York, para depois dizer que a medida passaria "logo".
Ontem ainda, o Congressional Budget Office, escritório bipartidário que analisa o Orçamento do governo, disse que não havia maneira de saber quanto o plano de Paulson custaria, mas que a entidade acreditava que os US$ 700 bilhões pedidos seriam "totalmente utilizados" já em 2009.


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