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Economia está em perigo, afirma Bush
Presidente diz que EUA entrarão em recessão "longa e dolorosa" se Congresso não aprovar pacote; democratas vêem avanço para acordo
Se o plano não for aprovado, afirma Bush, país poderá "enfrentar o pânico financeiro, e um cenário desesperador se apresentará"
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Cenho franzido, fala nervosa,
com 40 dias de poder de fato
pela frente e uma bancada republicana para convencer, o
presidente George W. Bush disse ontem que a "economia inteira está em perigo" e, se o
Congresso dos EUA não agir logo para aprovar o pacote proposto por seu governo, seu país
entrará "numa longa e dolorosa
recessão", na qual "milhões podem perder o emprego".
E, com uma reunião marcada
amanhã à tarde de Bush com as
principais lideranças do Congresso e os candidatos à Presidência John McCain e Barack
Obama, políticos democratas já
afirmaram que um acordo deve
ser fechado logo, com o governo cedendo em pontos como os
bônus a executivos. No começo
da noite, o deputado democrata
Barney Frank, presidente do
Comitê de Serviços Financeiros, disse que estava "claro" que
haveria os votos necessários
para aprovar a lei.
"A tentativa de resgate não
visa preservar uma companhia
ou indústria, mas a economia
americana por completo", afirmou o presidente, em rede nacional, na Casa Branca. Se a
ação não for tomada, afirmou, o
país "poderá enfrentar o pânico
financeiro, e um cenário desesperador se apresentará".
Depois de adicionar o que
analistas chamam de a pior crise financeira em décadas ao legado de uma administração
que já conta com a Guerra do
Iraque, o republicano veio a público defender o plano que enviou ao Legislativo, cuja principal medida é a autorização para
gasto de até US$ 700 bilhões na
compra de títulos podres de
instituições financeiras prejudicadas pela crise hipotecária.
Normalmente, disse, ele não
faria a intervenção, mas "essas
não são circunstâncias normais. O mercado não está funcionando propriamente. Tem
havido uma perda de confiança
disseminada e importantes setores do sistema financeiro dos
EUA estão sob risco de paralisação". Pouco visível durante a
crise, para alguns até omisso,
Bush convocou sua primeira
rede nacional em 377 dias
-quando havia falado da Guerra do Iraque- e talvez a última
vez da sua Presidência.
Suas palavras procuravam
reforçar o sentido de urgência
com que o governo do republicano tenta impregnar o Congresso, dominado pela oposição democrata. O objetivo é
aprovar o quanto antes e com o
menor número de modificações o pacote apresentado no
sábado pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson.
Além disso, a Casa Branca
tenta convencer o hesitante
baixo clero de seu partido a fechar com o governo. Os congressistas da situação estão assustados com o número recorde de manifestações que vêm
recebendo de eleitores contrários à aprovação do pacote. Todas as cadeiras da Câmara dos
Representantes e um terço das
do Senado estão em jogo nas
eleições de 4 de novembro.
A fala foi o ponto mais vistoso
de uma ofensiva que já dura
uma semana e que ganhou em
dramaticidade com o anúncio
de McCain de que suspenderia
sua campanha. O candidato da
situação citou a crise financeira
para avisar que a partir da manhã de hoje suspenderá temporariamente as atividades de sua
corrida à Casa Branca.
Disse ainda que, se a medida
não for votada até amanhã, não
participará de seu primeiro debate com Obama, previsto para
acontecer na sexta-feira.
Perto do acordo
Ao longo do dia, Paulson, e o
presidente do Fed (o banco
central dos Estados Unidos),
Ben Bernanke, continuaram
seu périplo de convencimento
dos políticos, ao testemunhar
no comitê de serviços financeiros da Câmara dos Representantes (deputados federais). No
dia anterior, haviam feito o
mesmo no Senado.
Como parte da negociação
em curso, Paulson cedeu num
dos pontos de honra da contraproposta democrata, de que sejam limitados os pacotes indenizadores dos executivos das
empresas em dificuldade financeira que venham a ser auxiliadas pelo governo. Foi a primeira vez que assumiu o compromisso em público.
"O povo americano está com
raiva em relação a compensação executiva, e com razão",
disse Paulson. "Muitos de vocês citam esse como um problema sério, e eu concordo. Temos
de achar uma maneira de lidar
com isso na lei sem minar a efetividade do programa". A seu
lado, o presidente do Fed seguiu em sua linha do dia anterior, de pintar a economia americana com cores cinzas.
"Apesar dos esforços do Federal Reserve, do Tesouro e de
outras agências, os mercados
financeiros globais continuam
sob estresse extraordinário",
disse o presidente do Fed.
"A ação do Congresso é requerida urgentemente para estabilizar a situação e evitar o
que, de outra maneira, poderia
vir a ser conseqüência muito
séria para o nosso mercado financeiro e nossa economia."
Antes, pela manhã, Bernanke
havia falado ao comitê econômico conjunto do Congresso.
De novo, a dupla foi recebida
por uma saraivada de críticas,
vindas de ambos os lados do espectro político. Os eleitores estão reagindo ao pacote "com
surpresa, estupefação e raiva
intensa", disse o senador democrata Charles Schumer, presidente do comitê. Ainda assim,
havia a percepção da necessidade de aprovar um plano o quanto antes. "Não vamos adicionar
emendas, não vamos fazer dessa proposta uma árvore de Natal", afirmou o senador de Nova
York, para depois dizer que a
medida passaria "logo".
Ontem ainda, o Congressional Budget Office, escritório bipartidário que analisa o Orçamento do governo, disse que
não havia maneira de saber
quanto o plano de Paulson custaria, mas que a entidade acreditava que os US$ 700 bilhões
pedidos seriam "totalmente
utilizados" já em 2009.
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