São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2004

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INVESTIMENTOS

Aplicação direta em papéis do Tesouro Nacional, que refletem a alta dos juros, chega a superar ganhos com renda fixa e DI

Títulos do governo rendem mais que fundos

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Comprar diretamente os títulos do governo, por meio do sistema de negociação chamado Tesouro Direto, tem sido uma opção de investimento mais rentável do que as aplicações tradicionais.
O mês de setembro é um bom exemplo disso. As LTNs -Letras do Tesouro Nacional, um dos papéis mais negociados pelo governo- chegaram a pagar uma taxa anual de 18,26% na segunda semana do mês, o que representa um rendimento mensal de 1,41%.
Os fundos DI renderam, na média, 1,21% em setembro. Anualizada, essa taxa fica em 15,53%. Os fundos de renda fixa trouxeram rendimento médio de 1,17%, taxa que, anualizada, fica em 14,98%. Ou seja, quem comprou papéis do governo teve retorno maior do que os que procuraram os fundos mais conservadores, formados por títulos públicos e privados, que também acompanham a oscilação das taxas de juros.
No mês de setembro, porém, o investimento que proporcionou os maiores ganhos foram as ações -a Bolsa de Valores de São Paulo registrou uma valorização de 1,94%. A poupança perdeu, por pouco, da inflação, com um ganho de apenas 0,67% no mês.
A alta da Selic (juros básicos da economia) -que passou de 16,25% para 16,75% ao ano na semana passada- deve melhorar ainda mais o cenário para o Tesouro Direto: os juros pagos pelos títulos públicos devem subir nos próximos leilões do governo.
"O Tesouro Direto tem conquistado cada vez mais público. E deve aumentar ainda mais o interesse do pequeno investidor, atraído pela possibilidade de lucrar mais do que com as aplicações financeiras tradicionais", afirma Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora Sênior.
O sistema de negociação dos títulos públicos federais foi criado no início de 2002 pelo governo com o objetivo inicial de atender pequenos investidores. No entanto, segundo operadores de instituições financeiras, as negociações do Tesouro Direto ainda atraem mais investidores que conhecem de perto o mercado -como funcionários de corretoras e da Bolsa- do que o pequeno investidor não-especializado.
Dois anos após o início do programa, há menos de 30 mil investidores cadastrados -número considerado ainda baixo em relação ao contingente de investidores de outras aplicações. No mês de setembro, as vendas de títulos públicos somaram aproximadamente R$ 18,3 milhões.

Riscos e vantagens
Para aplicar em títulos públicos por meio do sistema, o investidor precisa procurar um dos agentes (basicamente corretoras e bancos) credenciados e fazer a sua inscrição. A partir daí, é possível comprar e vender títulos do governo por meio da internet. O endereço do Tesouro Direto é: www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto.
Como todas as aplicações financeiras, comprar títulos públicos traz riscos. Se o governo chegasse a um ponto de crise que o fizesse decretar a moratória de sua dívida, por exemplo -como ocorreu na Argentina no final de 2001-, o investidor teria dificuldades em receber o que investiu. Na prática, por meio da operação, o investidor empresta o seu dinheiro para o governo federal.
Mas, como o investimento tem sido atraente, boa parte das carteiras dos fundos DI e de renda fixa é formada por títulos públicos prefixados (cuja rentabilidade é estabelecida no momento da compra) e pós-fixados.
Além de a aplicação direta em títulos do Tesouro ter dado a chance de conseguir rentabilidade maior, os investidores podem encontrar vantagens também na chamada taxa de corretagem.
A taxa de administração de fundos de investimentos cobrada pelas instituições financeiras fica entre 1,5% e 5% ao ano.
A corretora Souza Barros, uma das mais ativas no segmento, cobra 0,5% ao ano para as operações realizadas no Tesouro Direto.
A corretora Ágora Sênior cobra taxa fixa de R$ 20 por operação, independentemente da quantia. Isso quer dizer que quem aplica mais sente menos no bolso o custo da corretagem.
Os investidores podem vender ao próprio Tesouro Nacional, durante os leilões semanais, os títulos adquiridos por meio do sistema de negociação de papéis.
Os impostos cobrados sobre as operações realizadas pelo Tesouro Direto são os mesmos que incidem sobre as operações de renda fixa. No caso, neste momento, a alíquota do Imposto de Renda é de 20% sobre os rendimentos .

Boa perspectiva
Com a taxa básica de juros em alta, a tendência é a de que já no próximo leilão a ser realizado, nesta semana, as taxas pagas pelos títulos públicos sejam maiores.
Devido ao aumento da Selic promovido pelo Copom (Comitê de Política Monetária), os juros futuros dos contratos negociados na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) já subiram. Quando essas projeções têm elevação, o Tesouro acaba desembolsando taxas maiores para ofertar títulos públicos. E esse é um bom momento para conseguir ganhar com as taxas mais elevadas.
"A alta dos juros básicos certamente vai melhorar os ganhos para quem comprar títulos públicos neste momento", diz Celso Costa, da corretora Souza Barros.


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