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INFRA-ESTRUTURA
Telecomunicações e transporte marítimo deixam de receber repasse
Verba de R$ 5,2 bi vai para superávit
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Disputas políticas e a necessidade de o governo cumprir metas de
superávit fiscal impedem que R$
5,2 bilhões sejam usados plenamente para financiar o setor de
infra-estrutura e melhorar o acesso a telecomunicações em escolas
e bibliotecas públicas. O dinheiro
vem de fundos que oneram as
empresas de telecomunicações e
as que usam o serviço de transporte marítimo.
O dinheiro está guardado em
dois fundos: o Fust (Fundo de
Universalização dos Serviços de
Telecomunicações) e o FMM
(Fundo Nacional de Marinha
Mercante). O primeiro é mantido
com 1% da receita operacional
bruta das empresas do setor de telecomunicações, e o segundo,
com percentuais sobre o valor cobrado de frete nas navegações comerciais (veja quadro ao lado).
Os problemas que impedem a
utilização dos recursos são distintos, mas o efeito é o mesmo: o dinheiro acaba servindo como sobra de caixa para que o governo
honre os compromissos fiscais
dos acordos com o FMI (Fundo
Monetário Internacional).
Disputa política
O caso do Fust, que tem saldo de
aproximadamente R$ 3 bilhões, é
mais grave, porque os recursos
nunca foram usados. Uma briga
política que já dura quatro anos
impede que escolas e bibliotecas
públicas contem com um serviço
semelhante ao acesso a internet
em alta velocidade. Em agosto de
2000, o PT e o PC do B, então partidos de oposição, barraram na
Justiça a tentativa do governo Fernando Henrique Cardoso de usar
o dinheiro.
O argumento usado pelo PT e
pelo PC do B era de que o governo
não podia usar os recursos para financiar a compra de computadores e, além disso, a instalação nesses computadores do sistema
Windows, da Microsoft. Com base nesses argumentos, foi concedida liminar que impediu o governo de usar o dinheiro.
Depois de um longo período de
consulta pública e testes operacionais, a Anatel (Agência Nacional
de Telecomunicações) finalmente
se decidiu, em setembro, por licitar um novo serviço público. As
empresas que forem prestar esse
serviço -denominado SCD (Serviço de Comunicação Digital), semelhante ao acesso em alta velocidade à internet - terão acesso
aos recursos do Fust.
Para que o serviço seja criado,
no entanto, é necessário um decreto do presidente da República.
Semana passada, a agência enviou
ao Ministério da Comunicações
uma minuta de decreto. O ministério deveria enviar a minuta à
Casa Civil, mas ainda não o fez.
O pano de fundo da demora é a
disputa política sobre a gestão dos
recursos do Fust. O governo quer
aproveitar a aprovação da lei que
trata das agências reguladoras para transferir para o ministério as
decisões sobre o uso dos recursos.
No caso do FMM, que deveria
ser usado para financiar a construção de navios e balsas, o problema é a própria situação de crise
financeira dos estaleiros, que impede que eles se beneficiem dos
recursos. Ao contrário do Fust, o
FMM é usado, mas não na totalidade. No final do ano, o FMM deverá ter saldo de R$ 2,2 bilhões.
O BNDES é o gestor dos recursos, mas, para liberar o dinheiro
para os estaleiros construírem os
navios, precisa de garantias financeiras. Como geralmente eles não
têm essas garantias, a verba não é
usada no volume que poderia.
Em março o governo regulamentou novas regras para o uso
do FMM. Os estaleiros tentaram,
na ocasião, criar um fundo de aval
de R$ 400 milhões com os recursos do próprio fundo. A tentativa
foi vetada pela equipe econômica,
que não gostou de ver o volume
de recursos do fundo diminuído
nesse montante de uma só vez.
Em vez dessa solução, o governo decidiu permitir que o dinheiro fosse usado para subsidiar um
seguro para a construção de navios. Esse seguro, porém, é um
produto que ainda não foi desenvolvido no mercado brasileiro.
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