São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2004

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COMÉRCIO EXTERIOR

Delegação chega ao país em novembro

Empresas temem investimentos chineses sem parceria nacional

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

O presidente chinês, Hu Jintao, visitará o Brasil em novembro acompanhado de 300 empresários, que, além de oportunidades de negócios, deverão encontrar preocupações de seus pares brasileiros sobre o modelo de investimentos que a China pretende implementar no Brasil.
Uma prévia de qual será o tom das discussões ocorreu ontem em Pequim, durante reunião de representantes de ambos os lados do Conselho Empresarial Brasil-China. Criado em maio, durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, o conselho é a mais importante entidade empresarial dos dois países.
Do lado brasileiro, são 26 integrantes, entre os quais pesos-pesados como Vale do Rio Doce, Petrobras, Embraer, Banco do Brasil e Sadia.
Os chineses participam com 21 representantes -quase todos estatais. O encontro de ontem durou cerca de duas horas e deixou claro que nem sempre as expectativas de empresários brasileiros e chineses são coincidentes.
O presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, que também preside o conselho do lado brasileiro, ressaltou que os investimentos chineses no Brasil precisam trazer benefícios "mútuos", e não apenas para o lado chinês, segundo o secretário-executivo do conselho, Renato Amorim, que participou da reunião.

Sem parceria nacional
A Folha apurou que as empresas brasileiras estão preocupadas com o fato de que os chineses planejam realizar investimentos no Brasil em setores estratégicos, entre os quais mineração, portos e agricultura, sem se associarem a parceiros nacionais. Além disso, pretendem levar da China máquinas, equipamentos e serviços, como engenharia, que podem ser encontrados no Brasil.
Também há insatisfação com a proposta chinesa de ressarcir os financiamentos dos investimentos com a entrega de commodities e matérias-primas, principalmente soja e minério de ferro.
A China quer prefixar o valor dos produtos para todo o período do contrato, enquanto os brasileiros insistem na adoção dos preços praticados no mercado na época de cada pagamento.
Do lado chinês, a principal reivindicação foi o pedido de apoio a empresários ao pleito de seu governo para que o Brasil conceda à China o status de economia de mercado.
Se adotada, a mudança tornará mais difícil a aplicação de medidas antidumping pelo Brasil contra produtos chineses. Hoje existem pouco mais de dez medidas antidumping contra a China e um número semelhante de investigações em andamento.
Apesar de ter ingressado na OMC (Organização Mundial do Comércio) em dezembro de 2001, a China não tem o reconhecimento internacional de que é uma economia nas quais as regras de mercado prevalecem.
Com total controle do Estado até o início das reformas econômicas, em 1979, a economia do país ainda tem forte influência de estatais e do comando governamental.
Pelas regras da OMC, a China teria 15 anos para se tornar uma economia de mercado, mas os países podem individualmente dar esse reconhecimento, se assim o desejarem. Por enquanto, 22 países concederam à China o status de economia de mercado, a maioria dos quais parceiros comerciais do país na Ásia.

Regras claras
Agnelli respondeu que os empresários brasileiros também tinham reivindicações que envolvem decisões governamentais, relatou Amorim. "Ele pediu a adoção de regras sanitárias claras."
Segundo Amorim, há oscilação e pouca transparência nas normas sanitárias adotadas pela China, o que prejudica as exportações brasileiras do setor agropecuário -como soja e carne.
O próximo encontro do conselho ocorrerá no dia 12 de novembro, durante a visita de Hu Jintao ao Brasil, e terá a participação de representantes governamentais.


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