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COMÉRCIO EXTERIOR
Delegação chega ao país em novembro
Empresas temem investimentos chineses sem parceria nacional
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
O presidente chinês, Hu Jintao,
visitará o Brasil em novembro
acompanhado de 300 empresários, que, além de oportunidades
de negócios, deverão encontrar
preocupações de seus pares brasileiros sobre o modelo de investimentos que a China pretende implementar no Brasil.
Uma prévia de qual será o tom
das discussões ocorreu ontem em
Pequim, durante reunião de representantes de ambos os lados
do Conselho Empresarial Brasil-China. Criado em maio, durante
visita do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva à China, o conselho é
a mais importante entidade empresarial dos dois países.
Do lado brasileiro, são 26 integrantes, entre os quais pesos-pesados como Vale do Rio Doce, Petrobras, Embraer, Banco do Brasil
e Sadia.
Os chineses participam com 21
representantes -quase todos estatais. O encontro de ontem durou cerca de duas horas e deixou
claro que nem sempre as expectativas de empresários brasileiros e
chineses são coincidentes.
O presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, que também
preside o conselho do lado brasileiro, ressaltou que os investimentos chineses no Brasil precisam
trazer benefícios "mútuos", e não
apenas para o lado chinês, segundo o secretário-executivo do conselho, Renato Amorim, que participou da reunião.
Sem parceria nacional
A Folha apurou que as empresas brasileiras estão preocupadas
com o fato de que os chineses planejam realizar investimentos no
Brasil em setores estratégicos, entre os quais mineração, portos e
agricultura, sem se associarem a
parceiros nacionais. Além disso,
pretendem levar da China máquinas, equipamentos e serviços, como engenharia, que podem ser
encontrados no Brasil.
Também há insatisfação com a
proposta chinesa de ressarcir os
financiamentos dos investimentos com a entrega de commodities
e matérias-primas, principalmente soja e minério de ferro.
A China quer prefixar o valor
dos produtos para todo o período
do contrato, enquanto os brasileiros insistem na adoção dos preços
praticados no mercado na época
de cada pagamento.
Do lado chinês, a principal reivindicação foi o pedido de apoio a
empresários ao pleito de seu governo para que o Brasil conceda à
China o status de economia de
mercado.
Se adotada, a mudança tornará
mais difícil a aplicação de medidas antidumping pelo Brasil contra produtos chineses. Hoje existem pouco mais de dez medidas
antidumping contra a China e um
número semelhante de investigações em andamento.
Apesar de ter ingressado na
OMC (Organização Mundial do
Comércio) em dezembro de 2001,
a China não tem o reconhecimento internacional de que é uma
economia nas quais as regras de
mercado prevalecem.
Com total controle do Estado
até o início das reformas econômicas, em 1979, a economia do
país ainda tem forte influência de
estatais e do comando governamental.
Pelas regras da OMC, a China
teria 15 anos para se tornar uma
economia de mercado, mas os
países podem individualmente
dar esse reconhecimento, se assim o desejarem. Por enquanto,
22 países concederam à China o
status de economia de mercado, a
maioria dos quais parceiros comerciais do país na Ásia.
Regras claras
Agnelli respondeu que os empresários brasileiros também tinham reivindicações que envolvem decisões governamentais, relatou Amorim. "Ele pediu a adoção de regras sanitárias claras."
Segundo Amorim, há oscilação
e pouca transparência nas normas sanitárias adotadas pela China, o que prejudica as exportações
brasileiras do setor agropecuário
-como soja e carne.
O próximo encontro do conselho ocorrerá no dia 12 de novembro, durante a visita de Hu Jintao
ao Brasil, e terá a participação de
representantes governamentais.
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