São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2004

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INDÚSTRIA

Divergência sobre departamentos e uso de recursos leva presidentes das duas entidades a optarem por estruturas próprias

Fiesp e Ciesp caminham para a separação

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

São cada vez mais remotas as chances de a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) entrarem em um acordo e trabalharem de forma conjunta. As duas entidades deverão mesmo atuar com estruturas próprias e de forma independente.
Foi essa a conclusão a que chegaram Paulo Skaf, presidente da Fiesp, e Claudio Vaz, presidente do Ciesp, após um longo jantar na quinta-feira em São Paulo. Os dois não chegaram a um acordo quanto ao uso compartilhado dos oito departamentos, que, desde a fundação das duas entidades, em 1942, sempre atuaram juntos.
Skaf e Vaz têm opiniões divergentes sobre como poderiam estruturar os departamentos. Skaf argumenta que os departamentos sempre foram ligados à Fiesp e assim devem continuar. Ele afirma que a maioria dos funcionários dos departamentos pertence à Fiesp e, portanto, é seu o direito de nomear os diretores.
Skaf diz que não vê problemas em liberar os departamentos para realizarem trabalhos pedidos pelo Ciesp, desde que sejam remunerados. "Os recursos humanos, o equipamento, tudo é da Fiesp", diz Skaf. Por isso, ele não abre mão do comando. "Não pode haver dois comandos. Em lugar nenhum do mundo isso funciona."
Vaz não aceita essa proposta. O presidente do Ciesp defende um equilíbrio de forças. Ele quer nomear tantos diretores quanto quer Skaf. De acordo com Vaz, Skaf lhe deu o direito de nomear apenas alguns diretores observadores, que não têm poder de decisão. "Eu não desqualifico a proposta, mas ela não me interessa."
Os departamentos são responsáveis pelos principais trabalhos de Fiesp/Ciesp. Os departamentos são os seguintes: economia, integração regional, integração sindical, ambiente, infra-estrutura, competitividade e comércio exterior, que é subdividido em dois. O mais conhecido deles é o de economia, que é responsável pelas pesquisas de nível de atividade e de emprego da Fiesp.
Skaf tem planos ambiciosos para a estrutura da Fiesp. Ele pretende reforçar o Instituto Roberto Simonsen, que é uma espécie de centro de estudos ligado à Fiesp e que anda meio apagado nos últimos anos. A idéia, à qual já deu a partida, é criar alguns conselhos vinculados ao instituto que serão presididos por alguns nomes conhecidos e respeitados no país. Três desses nomes já aceitaram o convite: Delfim Netto, Rubem Barbosa e José Goldemberg.
Os conselhos a serem criados no Instituto Roberto Simonsen é que estabelecerão as linhas de atuação e de estudo dos departamentos. Skaf pretende estar com tudo pronto -inclusive com todos os cargos preenchidos- até a festa da posse, dia 8 de novembro.
Já Vaz quer montar seus próprios departamentos sem depender da Fiesp. Sua intenção é criar estruturas enxutas e também procurar terceirizar bastante os serviços. Vaz já tem inclusive uma lista com alguns nomes para ocupar as diretorias dos novos departamentos a serem criados pelo Ciesp.

Jogo de poder
A divergência sobre aos departamentos é só um dos problemas nesse período inicial das gestões. O que está em jogo é o poder e a influência das duas entidades, após o racha nas eleições. Pela primeira vez na história, a Fiesp e o Ciesp têm presidentes diferentes.
A Fiesp tem a vantagem de um orçamento gordo, superior a R$ 700 milhões ao ano, ao gerir os recursos do Sesi/Senai. O dinheiro do Ciesp é bem menor, de cerca de R$ 20 milhões ao ano, a maior parte oriunda de contribuição de seus associados. Até então os orçamentos eram entrelaçados.
Vaz afirma que tem formas para financiar o Ciesp sem depender do dinheiro da Fiesp. Em reunião na semana passada com 41 diretores regionais, disse que o Ciesp tem como buscar recursos por diversas formas. Entre elas, disse que há empresas associadas que se dispõem a aumentar suas cotas, citou a possibilidade de o Ciesp passar a vender serviços e não descartou a hipótese de venda de patrimônio. "Não perco um segundo de sono com essa questão financeira", afirma Vaz.
Além disso, afirma que o Ciesp dispõe de precatórios avaliados em R$ 30 milhões, usados como garantia de empréstimo recente de R$ 8 milhões dado pela Fiesp e que podem ser vendidos para engordar o seu caixa. "Não vou precisar do dinheiro da Fiesp", diz.


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