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INDÚSTRIA
Divergência sobre departamentos e uso de recursos leva presidentes das duas entidades a optarem por estruturas próprias
Fiesp e Ciesp caminham para a separação
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
São cada vez mais remotas as
chances de a Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo) e o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) entrarem em um acordo e trabalharem de forma conjunta. As duas
entidades deverão mesmo atuar
com estruturas próprias e de forma independente.
Foi essa a conclusão a que chegaram Paulo Skaf, presidente da
Fiesp, e Claudio Vaz, presidente
do Ciesp, após um longo jantar na
quinta-feira em São Paulo. Os
dois não chegaram a um acordo
quanto ao uso compartilhado dos
oito departamentos, que, desde a
fundação das duas entidades, em
1942, sempre atuaram juntos.
Skaf e Vaz têm opiniões divergentes sobre como poderiam estruturar os departamentos. Skaf
argumenta que os departamentos
sempre foram ligados à Fiesp e assim devem continuar. Ele afirma
que a maioria dos funcionários
dos departamentos pertence à
Fiesp e, portanto, é seu o direito
de nomear os diretores.
Skaf diz que não vê problemas
em liberar os departamentos para
realizarem trabalhos pedidos pelo
Ciesp, desde que sejam remunerados. "Os recursos humanos, o
equipamento, tudo é da Fiesp",
diz Skaf. Por isso, ele não abre
mão do comando. "Não pode haver dois comandos. Em lugar nenhum do mundo isso funciona."
Vaz não aceita essa proposta. O
presidente do Ciesp defende um
equilíbrio de forças. Ele quer nomear tantos diretores quanto
quer Skaf. De acordo com Vaz,
Skaf lhe deu o direito de nomear
apenas alguns diretores observadores, que não têm poder de decisão. "Eu não desqualifico a proposta, mas ela não me interessa."
Os departamentos são responsáveis pelos principais trabalhos
de Fiesp/Ciesp. Os departamentos são os seguintes: economia,
integração regional, integração
sindical, ambiente, infra-estrutura, competitividade e comércio
exterior, que é subdividido em
dois. O mais conhecido deles é o
de economia, que é responsável
pelas pesquisas de nível de atividade e de emprego da Fiesp.
Skaf tem planos ambiciosos para a estrutura da Fiesp. Ele pretende reforçar o Instituto Roberto Simonsen, que é uma espécie de
centro de estudos ligado à Fiesp e
que anda meio apagado nos últimos anos. A idéia, à qual já deu a
partida, é criar alguns conselhos
vinculados ao instituto que serão
presididos por alguns nomes conhecidos e respeitados no país.
Três desses nomes já aceitaram o
convite: Delfim Netto, Rubem
Barbosa e José Goldemberg.
Os conselhos a serem criados no
Instituto Roberto Simonsen é que
estabelecerão as linhas de atuação
e de estudo dos departamentos.
Skaf pretende estar com tudo
pronto -inclusive com todos os
cargos preenchidos- até a festa
da posse, dia 8 de novembro.
Já Vaz quer montar seus próprios departamentos sem depender da Fiesp. Sua intenção é criar
estruturas enxutas e também procurar terceirizar bastante os serviços. Vaz já tem inclusive uma lista
com alguns nomes para ocupar as
diretorias dos novos departamentos a serem criados pelo Ciesp.
Jogo de poder
A divergência sobre aos departamentos é só um dos problemas
nesse período inicial das gestões.
O que está em jogo é o poder e a
influência das duas entidades,
após o racha nas eleições. Pela primeira vez na história, a Fiesp e o
Ciesp têm presidentes diferentes.
A Fiesp tem a vantagem de um
orçamento gordo, superior a
R$ 700 milhões ao ano, ao gerir os
recursos do Sesi/Senai. O dinheiro do Ciesp é bem menor, de cerca
de R$ 20 milhões ao ano, a maior
parte oriunda de contribuição de
seus associados. Até então os orçamentos eram entrelaçados.
Vaz afirma que tem formas para
financiar o Ciesp sem depender
do dinheiro da Fiesp. Em reunião
na semana passada com 41 diretores regionais, disse que o Ciesp
tem como buscar recursos por diversas formas. Entre elas, disse
que há empresas associadas que
se dispõem a aumentar suas cotas, citou a possibilidade de o
Ciesp passar a vender serviços e
não descartou a hipótese de venda
de patrimônio. "Não perco um
segundo de sono com essa questão financeira", afirma Vaz.
Além disso, afirma que o Ciesp
dispõe de precatórios avaliados
em R$ 30 milhões, usados como
garantia de empréstimo recente
de R$ 8 milhões dado pela Fiesp e
que podem ser vendidos para engordar o seu caixa. "Não vou precisar do dinheiro da Fiesp", diz.
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