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CONTA-INVESTIMENTO
Juro em alta, cenário externo indefinido e novas regras de fundos não recomendam movimentos no curto prazo
Espere 2005 para rever as suas aplicações
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O fim da mordaça da CPMF ao
livre trânsito do dinheiro do investidor de uma aplicação para
outra com o uso da conta-investimento, lançada no dia 1º deste
mês, terminou num anticlímax.
A movimentação de recursos
entre fundos de um mesmo banco e os de instituições diferentes
ainda é fraca -até porque a isenção só vale para as novas aplicações. "Fizeram tantas regras para
restringir a movimentação que
acabaram confundindo o investidor e dificultando a tomada de
decisão", diz Marcelo D'Agosto,
sócio do site Fortuna.
A principal restrição, segundo
ele, é a nova tributação de fundos,
CDBs (Certificados de Depósito
Bancário) e aplicações de renda fixa em geral, que entrará em vigor
em janeiro do próximo ano.
A idéia é estimular aplicações de
longo prazo, com a criação de alíquotas decrescentes de Imposto
de Renda sobre essas aplicações,
dependendo do tempo de permanência no fundo.
Como a nova tributação permitirá ao investidor aumentar seu
ganho líquido quanto mais tempo
mantiver o dinheiro aplicado, os
bancos estão orientando os clientes a esperar que ela entre em vigor para, então, migrar de aplicação. "Essa mudança foi feita por
meio de medida provisória [MPs
206 e 209], que ainda terá de ser
aprovada, o que acabou travando
o mercado", diz D'Agosto.
Além disso, a novidade da conta-investimento desembarcou em
um momento de elevação da taxa
de juros internos, o que, por si só,
restringe qualquer realocação de
portfólio, já que mantém o país
no topo do ranking do juro real,
só abaixo da Turquia.
O ganho fácil na renda fixa e nos
fundos DI -que, segundo analistas, deverá se manter até o final do
ano- não estimula nenhum investidor a arriscar grandes acrobacias no mercado financeiro no
curto prazo.
Médio prazo
A médio prazo, olhando seis
meses à frente, o que os analistas
vêem é um mar que não está para
peixe -além de bastante turvo-
no cenário externo.
As preocupações dos analistas e
dos investidores estão atualmente
voltadas para o preço do petróleo
-que ninguém arrisca dizer em
que patamar vai parar- e o impacto que ele terá no crescimento
da economia global. "Nunca houve um cenário com tantas dúvidas", afirma Hugo Penteado, economista-chefe do ABN Amro Asset Management.
Há um consenso entre os analistas de que haverá uma desaceleração nas principais economias em
2005 -especialmente nos EUA e
na China. A dúvida que paira é se
será uma aterrissagem suave ou se
essas economias imbicarão para
uma recessão.
Esse movimento pode atingir o
Brasil pela via da queda das exportações e dos preços das commodities, reduzindo o crescimento econômico do país. "A economia mundial deverá crescer menos em 2005 e reduzir o ritmo das
exportações brasileiras, que devem aumentar menos de 5%", diz
Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco.
Cenário para investir
O "imbróglio" macroeconômico global e as medidas de caráter
legal e tributário que atingem os
fundos de investimento vão exigir
uma maior reflexão do investidor
antes de decidir onde irá aplicar o
seu dinheiro.
Diante desse quadro, a orientação dos grandes bancos e de analistas independentes é esperar a
poeira baixar. "O investidor deve
aguardar até janeiro, quando entra em vigor a nova tributação,
para reavaliar todo seu portfólio:
ver o que é dinheiro para o longo
prazo e o que não é, o que está
rendendo de acordo com sua expectativa ou não. E, a partir dessa
avaliação, realocar os recursos",
afirma Reginaldo Carvalho, responsável pela conta-investimento
do ABN Amro Real.
Apesar de desconfiarem de que
os grandes bancos podem estar
aproveitando esse momento de
dúvidas para segurar os clientes,
alguns analistas afirmam que é
melhor não se movimentar muito, por enquanto.
"No curtíssimo prazo, ou seja,
até o final do ano, os juros internos vão continuar subindo, e o
melhor é ficar em aplicações pós-fixadas", afirma Jorge Simino, sócio da MS Consult. Essas aplicações acompanham a curva da taxa de juros: se ela está subindo,
seu rendimento cresce. É o caso
dos fundos DI, por exemplo.
Segundo Adolfo Daniel, diretor
comercial da Bram (Bradesco Asset Management), "à medida que
se caminhe para um cenário mais
estável e de queda dos juros, o investidor deverá refletir se não vale
a pena pegar parte do seu dinheiro e colocar um pouco em ativos
que oferecem maior retorno
-embora com maior risco".
Para Simino, "em 2005 e 2006 o
mundo tem tudo para ser diferente: o crescimento da economia
brasileira e mundial deverá desacelerar, e os juros locais serão
mais baixos. Aí será inevitável para o investidor tomar mais riscos", avalia o economista.
Ele recomenda que desde já o
investidor comece a pensar qual
fatia das suas economias deverá
alocar em ativos mais arriscados
como ações, fundos de ações ou
multimercados (que aplicam em
títulos do governo, ações, câmbio
e mercados futuros).
"No Brasil, devido à alta volatilidade [oscilação] dos mercados,
deve-se alocar no máximo 30% a
35% dos recursos em aplicações
de risco", recomenda.
Simino lembra que nos últimos
dois anos houve uma profunda
mudança na estrutura das aplicações. "Os fundos de renda fixa e
os multimercados cresceram
muito, o que prova que o investidor foi se deslocando para eles como fruto do aprendizado de crises
anteriores e da queda de rentabilidade dos fundos DI."
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