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Queda da taxa de juros pode demorar
DA REPORTAGEM LOCAL
A nuvem cinza que paira sobre
o cenário econômico global se
deslocou do risco de uma alta dos
juros americanos -que vinha
afligindo os mercados desde o início do ano- para o petróleo.
"Não podemos perder de vista
que uma "minicrise" do petróleo
jogará a economia global para
baixo", diz Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco. A desaceleração mundial terá reflexos
no Brasil e poderá postergar a retomada do processo de queda dos
juros, dizem analistas.
Estudos do FMI (Fundo Monetário Internacional) indicam que
US$ 5 de aumento do preço do
petróleo provocam uma queda de
0,3 ponto percentual no crescimento mundial e de 0,4 ponto no
crescimento americano.
Desde maio, a economia mundial começou a dar sinais de perda do ritmo, tendência que deverá
se aprofundar em 2005. Com a
disparada dos preços do petróleo,
as últimas projeções do FMI são
de desaceleração do crescimento
mundial, que cairia de 5% neste
ano para 4,3% em 2005.
Nesse cenário, os EUA cresceriam 3,5%, enquanto neste ano a
projeção é de 4,3%. "Isso reduz a
possibilidade de aumento dos juros americanos pelo Fed [o Banco
Central dos EUA]", diz Barros.
Alguns analistas, como os da
Merril Lynch, já trabalham com
um cenário de queda dos juros de
longo prazo nos EUA (dez anos),
dos atuais 4% para 3,85% ao ano,
e com estabilidade da taxa básica
em 2% ao ano, em 2005.
Emergentes
Para os mercados emergentes,
como o Brasil, tal cenário significaria um aumento do fluxo de capital externo. "No entanto, o aumento da liquidez internacional
não deve trazer benefícios para o
Brasil, pois o crescimento mundial fraco é ruim para o país."
Com o mundo todo crescendo
em ritmo mais lento, e as economias avançadas crescendo abaixo
da média mundial -menos de
3%- no ano que vem, as exportações brasileiras, um dos motores do crescimento do país, seriam prejudicadas.
Por isso o Bradesco trabalha
com um cenário de aumento inferior a 5% nas exportações em
2005 e de crescimento do PIB brasileiro de 3,6%, ou seja, também
desacelerando.
Outro complicador para o ano
que vem é a China, que deverá tirar o pé do acelerador, reduzindo
o crescimento do PIB de 9% neste
ano, para 7,5% no ano que vem,
segundo estimativa do WEO (sigla em inglês para World Economic Outlook) e do FMI.
"O nível atual de crescimento da
China não é sustentável no curto
prazo: já há racionamento de
energia em algumas regiões, pressões inflacionárias e o alto nível de
investimento atual pode indicar
uma má alocação de recursos,
com risco de crises setoriais no futuro", diz Vladimir Caramaschi,
economista da corretora Fator.
Segundo ele, as estimativas do
mercado sobre o nível de desaceleração da economia chinesa, no
ano que vem, ainda não apontam
para um ajuste drástico. As projeções são de um crescimento entre
5% e 6% do PIB chinês em 2005
-inferior ao estimado pelo FMI.
No Brasil, a desaceleração global já deverá se fazer sentir no
quarto trimestre. "Até o final do
ano o cenário interno é positivo,
com crescimento forte da economia, embora com alguma desaceleração", diz Caramaschi.
O mercado aposta na manutenção do processo de alta dos juros
básicos da economia, a Selic, que
encerraria dezembro em 17%. Para 2005, há divergências entre os
analistas: o consenso do mercado
é o de que a Selic deverá voltar a
cair a partir de meados do ano
que vem. Alguns, entretanto, esperam queda a partir de abril, outros dizem que isso só ocorrerá no
mês de junho.
No final de 2005 a Selic chegaria
a 15,42% ao ano, segundo o último Boletim Focus, do Banco Central, que reflete a opinião de cem
analistas do mercado financeiro.
Há, entretanto, vozes destoantes. Hugo Penteado, economista
do ABN Amro Asset Management, diz que o processo de alta
dos juros deverá prosseguir em
2005, com a Selic chegando a
17,5% em dezembro.
Segundo ele, o que o Banco
Central está olhando, neste momento, é o risco de a capacidade
de produção da indústria não
conseguir atender à demanda e
ocorrerem pressões inflacionárias
mais adiante.
"O ciclo de alta dos juros para
evitar inflação de demanda é mais
longo do que projeta o mercado
ao ver queda das taxas a partir de
abril do ano que vem", diz Penteado. A conferir.
(SB)
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