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ARTIGO
Como administrar a poupança familiar
Luiz Fernando Figueiredo
Lourenço Bastos-Tigre
ESPECIAL PARA A FOLHA
Administrar a poupança familiar é talvez uma das atividades
mais complexas à primeira vista.
O acesso à informação é complicado, os termos utilizados por
economistas e administradores
de recursos são incompreensíveis, e a diversidade de produtos
confunde.
E não fosse isso suficiente para
assustar qualquer um, a cada mudança de posição sugerida pelos
"especialistas", o poupador tem
que arcar com a CPMF.
Com a conta-investimento, que
entrou em vigor em 1º de outubro
passado, o custo de transação, isto
é, o 0,38% pago a cada movimentação financeira, deixou de existir.
Ao transferir seus recursos para
a nova conta, o investidor pode
movimentar sua poupança sem
pagar nada, alternando o perfil de
seus investimentos de acordo
com sua necessidade de liquidez e
com os ativos que oferecem melhor relação risco-retorno (ou seja, que ofereçam o maior retorno
para um determinado risco que se
queira assumir).
Dois conceitos são muito importantes na decisão de investimento. O primeiro é a necessidade de liquidez. Quanto maior a liquidez, menor o retorno. O segundo é a relação risco-retorno.
Se o objetivo de retorno do investidor é elevado, o risco certamente
será maior.
Caso o investidor não tolere risco elevado, deverá se contentar
com retorno menor. No mercado
não existe mágica. Se um determinado investimento oferece retorno acima da média, o risco
também será alto (eventualmente
risco de crédito, com possibilidade de perda de principal).
Definidas a necessidade de liquidez e a tolerância ao risco, o investidor deve escolher que ativos
(ou grupo de ativos) comprar. A
conta-investimento permite
grande mobilidade, ao reduzir o
custo de transação drasticamente.
O investidor pode optar pela
compra de ativos diretamente
através do Tesouro Direto (compra e venda de títulos públicos federais realizada no site do Tesouro Nacional), pela compra de
ações através de corretora de valores ou pela compra de CDBs de
emissão de bancos ou por delegar
para gestores de recursos de terceiros a tarefa de selecionar as
melhores oportunidades.
Ao decidir pela compra direta
de ativos para sua carteira de investimento, três são as barreiras
para o pequeno e médio investidor: acesso a informação; custo de
transação (corretagem e comissões cobradas por bancos e corretoras); e o tempo que deve ser dedicado para garantir retorno adequado para o investimento. Destes, a maior restrição certamente é
o tempo escasso para a grande
maioria das pessoas.
Quando deparado com um vazamento na cozinha, pode-se fazer o reparo por conta própria ou
contratar um encanador para resolver o problema. A mesma lógica pode ser aplicada para os investimentos pessoais.
O bom senso indica, portanto,
que se contrate um profissional
para administrar seus investimentos. E isso é mais simples do
que se possa imaginar.
O processo de estabilização da
economia contribuiu para o crescimento da indústria de fundos
no Brasil. Com isso, o pequeno investidor ganhou acesso a qualidade de gestão de recursos e controle de risco, antes acessíveis apenas
para os grandes investidores.
Em linhas gerais, os fundos podem ser divididos em: Fundos DI
e Renda Fixa; Fundos de Ações; e
Fundos Multimercado. A primeira categoria é adequada ao investidor para o qual a alta liquidez e o
baixo risco são fundamentais.
A segunda é para aquele que pode investir a longo prazo e acredita que o país irá crescer e a taxa de
juros irá se reduzir. É, portanto,
um investimento com claro viés
otimista.
A terceira categoria é composta
por fundos com perfil de risco
moderado, em que o gestor deve
escolher sempre aquele que parece o melhor investimento para
seu cliente, independentemente
do ativo (bolsa, câmbio, juros, dívida externa), podendo comprar
ou vender ativos de tal forma a
oferecer o melhor retorno possível para o nível de risco contratado pelo investidor.
Os fundos multimercado ganharam notoriedade no mercado
brasileiro há pouco mais de quatro anos, mas já dominam os mercados nos Estados Unidos e na
Europa há décadas.
Nessa modalidade de fundo, o
gestor atua indiretamente como
consultor financeiro do investidor, a um custo relativamente
baixo. Os mandatos são variados,
assim como as estratégias, mas todos os fundos dessa categoria têm
em comum o objetivo de retorno
absoluto alto (e portanto maior
nível de risco associado).
O importante na escolha de um
fundo multimercado é saber
quem são os gestores do fundo,
como é feito o controle de risco,
qual é a perda máxima que poderá ocorrer e, principalmente, ter
certo que esse tipo de fundo tem
horizonte de investimento de longo prazo.
De nada vale um investimento
com perfil mais agressivo (em que
o retorno esperado é acima da
média do mercado) cujo desempenho é medido diariamente.
Tenha sempre em mente que o
risco só pode se traduzir em lucro
em um prazo mais dilatado de
tempo. A estratégia do seu gestor
deve sempre ser compatível com
um horizonte de médio e longo
prazos. Mesmo que isso implique
alguma volatilidade no curto prazo, é assim que será possível obter
retorno superior para o investimento.
Invista em fundos multimercado apenas aqueles recursos que
não são necessários para eventuais despesas e que possam ser
comprometidos com um investimento de maior risco.
E, sabendo que esses recursos
estão aplicados para o longo prazo, não cobre de seu gestor retornos superiores todo mês. O período de análise desse tipo de investimento deve ser no mínimo trimestral.
Para compor sua carteira de investimento, o poupador deveria
buscar dois tipos de fundo, ajustando os percentuais de acordo
com o nível de risco que está disposto a tolerar. Para a parcela de
menor risco e maior liquidez, recomenda-se aplicar em fundos DI
ou Renda Fixa.
Para a parcela de maior risco,
maior retorno e menor liquidez, a
opção são os fundos multimercado. Quanto maior a aversão ao
risco, maior deve ser a participação de fundos conservadores na
carteira; quanto menor a aversão
ao risco, maior a participação de
fundos multimercado.
Luiz Fernando Figueiredo e Lourenço
Bastos-Tigre são sócios da Gávea Investimentos, empresa de administração de
recursos de grandes investidores que é
comandada pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. A Gávea administra cerca de US$ 1 bilhão de terceiros
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