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MERCADO ABERTO
GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br
Economista critica ação do BNDES para salvar empresas
Em mais uma ação do governo para tentar minimizar os
efeitos da crise financeira sobre
as empresas, o presidente do
BNDES, Luciano Coutinho, informou ontem que há estudos
para o banco socorrer as empresas que sofreram perdas em
operações de alto risco no mercado de derivativos de câmbio.
Na década de 80, o BNDES
chegou a ser chamado de "hospital de empresas" por socorrer
companhias em dificuldades.
José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio e economista da Opus Gestão de Recursos,
levanta a seguinte questão: de
onde virá o dinheiro para socorrer essas empresas?
O BNDES vai usar parte do
dinheiro do seu orçamento que
já está comprometido para financiar programas de investimento ou o Tesouro vai capitalizar ainda mais o banco?
Qualquer uma das opções, na
opinião do economista, pode
ser ruim. Se o BNDES sacrificar
o orçamento, isso significa menos investimento na economia.
Já se o Tesouro injetar mais recursos, a preocupação é com o
aumento do déficit fiscal.
"A única coisa que eu quero
saber é de onde vem o dinheiro", diz o economista.
Nos últimos dias, o governo
tem tomado decisões agressivas que podem significar o aumento da participação do Estado na economia. Os bancos públicos (BB e CEF) foram autorizados a comprar instituições financeiras, construtoras ou
qualquer empresa privada.
Para José Márcio Camargo,
essa ação agressiva do governo
pode ampliar o déficit fiscal e
comprometer o crescimento
tanto em 2009 como em 2010.
O grande problema é que o financiamento externo secou e o
déficit em conta corrente que
será gerado com essa ação do
governo terá que ser coberto
com as reservas cambiais.
O câmbio vai sofrer uma forte desvalorização e o Banco
Central será obrigado a elevar
os juros para evitar o descontrole inflacionário. A conseqüência será inflação com recessão, a chamada estagflação.
O ideal, na opinião de José
Márcio Camargo, é o governo
procurar cortar ao máximo os
gastos públicos e não se preocupar com o crescimento no
ano que vem.
"O que as pessoas não estão
entendendo é que para ter um
2010 razoável será preciso entregar 2009", diz o economista.
ORÇAMENTO NA TESOURA
A TGT Consult, consultoria especializada em TI
e negócios, já prevê cortes
em investimentos no mercado brasileiro, que deve
entrar em uma fase delicada por conta da crise.
Ronei Silva, diretor da
TGT Consult, afirma que
o primeiro impacto que
começou a sentir nas empresas de grande porte
em que atua foi a revisão
dos orçamentos. Entre as
recomendações da consultoria neste momento, Silva afirma que é mais importante postergar as
aquisições de hardware,
cujos negócios estão muito atrelados ao dólar. "A
alta do dólar vai causar
aumento do custo de importação do hardware."
Já o software, segundo
Ronei, sofre menos impacto. "As licenças de
software demoram mais
tempo para serem ajustadas, pois não há importação", diz. A TGT atende
clientes como Vale, Nestlé
e Fiat.
MALA NO ARMÁRIO
As empresas vão colocar o pé no freio nos gastos com
viagens corporativas diante da crise econômica, segundo
pesquisa da agência de viagens Tour House com clientes.
Cerca de 42% deles disseram que só autorizarão viagens
em caso de extrema necessidade. Outros 37% vão reduzir
custos, inclusive transferindo vôos para a classe econômica. "As empresas já estão mais rígidas para aprovação de
viagens corporativas", diz Reginaldo Albuquerque, da
Tour House, que espera uma queda entre 10% e 15% nas
vendas de pacotes corporativos em razão da crise.
ESCAMBO
Nádia Nunes, diretora da Permute, empresa que
gerencia trocas multilaterais de produtos e serviços,
notou um aumento de cerca de 50% na procura pelo
sistema de permutas em outubro. "Nas crises é que
expandimos nosso negócio." Segunda ela, a escassez
do crédito aumenta o interesse pelo serviço, pois as
trocas preservam o caixa das empresas. Com a crise,
a Permute elevou de 20% para 25% sua projeção de
crescimento neste ano e planeja expandir o negócio
para Minas, Rio e interior de São Paulo em 2009.
OPORTUNIDADE
A crise econômica internacional sempre pode abrir
chances para boas oportunidades de aquisições. A Shell
negocia a compra da rede de
postos Viabrasil. O negócio
poderá superar o patamar de
R$ 200 milhões. A Viabrasil
tem atualmente 95 postos
em São Paulo. A Shell é a
única grande companhia de
petróleo estrangeira que se
manteve no Brasil (Texaco e
Esso foram vendidas) e há
muito tempo não faz investimentos no país.
INOXIDÁVEL
A produção de aço inox no
mundo caiu 1,8% no primeiro semestre deste ano, ante
o mesmo período do ano
passado, de acordo com a
ISSF, entidade internacional de fabricantes. A queda
foi no mundo todo -exceto
na China, que cresceu 10%,
alta insuficiente para segurar a retração de mercados
na Ásia. Na América, caiu
1,4%. O Núcleo Inox reúne
em novembro a cadeia produtiva e de transformação
do inox, em São Paulo.
com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI
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