São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2008

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MERCADO ABERTO

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Economista critica ação do BNDES para salvar empresas

Em mais uma ação do governo para tentar minimizar os efeitos da crise financeira sobre as empresas, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, informou ontem que há estudos para o banco socorrer as empresas que sofreram perdas em operações de alto risco no mercado de derivativos de câmbio.
Na década de 80, o BNDES chegou a ser chamado de "hospital de empresas" por socorrer companhias em dificuldades.
José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio e economista da Opus Gestão de Recursos, levanta a seguinte questão: de onde virá o dinheiro para socorrer essas empresas?
O BNDES vai usar parte do dinheiro do seu orçamento que já está comprometido para financiar programas de investimento ou o Tesouro vai capitalizar ainda mais o banco?
Qualquer uma das opções, na opinião do economista, pode ser ruim. Se o BNDES sacrificar o orçamento, isso significa menos investimento na economia. Já se o Tesouro injetar mais recursos, a preocupação é com o aumento do déficit fiscal.
"A única coisa que eu quero saber é de onde vem o dinheiro", diz o economista.
Nos últimos dias, o governo tem tomado decisões agressivas que podem significar o aumento da participação do Estado na economia. Os bancos públicos (BB e CEF) foram autorizados a comprar instituições financeiras, construtoras ou qualquer empresa privada.
Para José Márcio Camargo, essa ação agressiva do governo pode ampliar o déficit fiscal e comprometer o crescimento tanto em 2009 como em 2010. O grande problema é que o financiamento externo secou e o déficit em conta corrente que será gerado com essa ação do governo terá que ser coberto com as reservas cambiais.
O câmbio vai sofrer uma forte desvalorização e o Banco Central será obrigado a elevar os juros para evitar o descontrole inflacionário. A conseqüência será inflação com recessão, a chamada estagflação.
O ideal, na opinião de José Márcio Camargo, é o governo procurar cortar ao máximo os gastos públicos e não se preocupar com o crescimento no ano que vem.
"O que as pessoas não estão entendendo é que para ter um 2010 razoável será preciso entregar 2009", diz o economista.

ORÇAMENTO NA TESOURA

A TGT Consult, consultoria especializada em TI e negócios, já prevê cortes em investimentos no mercado brasileiro, que deve entrar em uma fase delicada por conta da crise. Ronei Silva, diretor da TGT Consult, afirma que o primeiro impacto que começou a sentir nas empresas de grande porte em que atua foi a revisão dos orçamentos. Entre as recomendações da consultoria neste momento, Silva afirma que é mais importante postergar as aquisições de hardware, cujos negócios estão muito atrelados ao dólar. "A alta do dólar vai causar aumento do custo de importação do hardware." Já o software, segundo Ronei, sofre menos impacto. "As licenças de software demoram mais tempo para serem ajustadas, pois não há importação", diz. A TGT atende clientes como Vale, Nestlé e Fiat.

MALA NO ARMÁRIO

As empresas vão colocar o pé no freio nos gastos com viagens corporativas diante da crise econômica, segundo pesquisa da agência de viagens Tour House com clientes. Cerca de 42% deles disseram que só autorizarão viagens em caso de extrema necessidade. Outros 37% vão reduzir custos, inclusive transferindo vôos para a classe econômica. "As empresas já estão mais rígidas para aprovação de viagens corporativas", diz Reginaldo Albuquerque, da Tour House, que espera uma queda entre 10% e 15% nas vendas de pacotes corporativos em razão da crise.

ESCAMBO

Nádia Nunes, diretora da Permute, empresa que gerencia trocas multilaterais de produtos e serviços, notou um aumento de cerca de 50% na procura pelo sistema de permutas em outubro. "Nas crises é que expandimos nosso negócio." Segunda ela, a escassez do crédito aumenta o interesse pelo serviço, pois as trocas preservam o caixa das empresas. Com a crise, a Permute elevou de 20% para 25% sua projeção de crescimento neste ano e planeja expandir o negócio para Minas, Rio e interior de São Paulo em 2009.

OPORTUNIDADE
A crise econômica internacional sempre pode abrir chances para boas oportunidades de aquisições. A Shell negocia a compra da rede de postos Viabrasil. O negócio poderá superar o patamar de R$ 200 milhões. A Viabrasil tem atualmente 95 postos em São Paulo. A Shell é a única grande companhia de petróleo estrangeira que se manteve no Brasil (Texaco e Esso foram vendidas) e há muito tempo não faz investimentos no país.

INOXIDÁVEL
A produção de aço inox no mundo caiu 1,8% no primeiro semestre deste ano, ante o mesmo período do ano passado, de acordo com a ISSF, entidade internacional de fabricantes. A queda foi no mundo todo -exceto na China, que cresceu 10%, alta insuficiente para segurar a retração de mercados na Ásia. Na América, caiu 1,4%. O Núcleo Inox reúne em novembro a cadeia produtiva e de transformação do inox, em São Paulo.

com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI



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