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BNDES anuncia ajuda para exportadoras
Coutinho diz que atuará ao lado de bancos privados para socorrer empresas com perdas cambiais em operações financeiras
Para presidente do banco de fomento, crise é uma "bênção" para reduzir custos de projetos de investimento na área de infra-estrutura
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
O BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social) disse que ajudará
empresas exportadoras que enfrentam dificuldades após registrarem perdas com operações de derivativos de câmbio.
O presidente do banco de fomento, Luciano Coutinho, disse que a forma de auxílio será
discutida caso a caso.
A decisão contraria declarações prévias do governo de que
não haveria ajuda direta a empresas. O presidente Lula chegou a chamar essas empresas
de "especuladoras" e "gananciosas". Nesta semana, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, descartou em depoimento
no Congresso a possibilidade
de socorro. "As empresas podem acertar sua situação com
os bancos e levar sua vida
adiante. O governo não vai cobrir prejuízo, nem um tostão."
Nas últimas semanas, grandes empresas, como Sadia, Aracruz e Votorantim, anunciaram
perdas substanciais com a
aposta na queda do dólar. Em
palestra na Câmara Britânica,
Coutinho afirmou que o banco
já está mantendo conversas
com empresas e que estuda formas de viabilizar o apoio. O governo já estimou em 200 as empresas com perdas cambiais.
"São empresas robustas, de
grande qualidade. Elas têm
meios de equacionar isso junto
com o sistema bancário privado e terão, se necessário, o suporte do BNDES para que nenhum problema de liquidez inviabilize empresas de grande
qualidade e potencial. Não são
problemas solucionáveis no
atacado, não existe uma medida provisória para solucionar
esses problemas. Vai exigir trabalho muito intensivo", disse.
A situação dessas empresas
têm se agravado com a alta contínua do dólar, que ontem chegou a R$ 2,327, alta de 0,95%.
No mês, já subiu 22,2%.
"Muitas empresas têm programas de investimento no
banco, portanto têm investimentos já realizados, e você pode acertar desembolsos. Em
outros casos pode utilizar instrumentos de debêntures, nós
vamos ajudar", disse. Segundo
ele, a ação do banco será complementar à do setor privado.
Para Coutinho, a renegociação das empresas com a rede
bancária vai contribuir para
acabar com a incerteza que tem
travado o processo de concessão de crédito. "Se a gente complementarmente ajudar, facilita que as empresas refinanciem
suas perdas com o setor bancário privado, e depois a gente
ajuda a reforçar a estrutura de
capital para que elas possam ter
capacidade de investimento."
Apesar da deterioração do
cenário econômico, Coutinho
diz que o PIB crescerá ao menos 5,5% no ano. Sua estimativa para o período de 2009 a
2012 é de 4,8%.
O apoio a empresas em dificuldade poderá ocorrer em um
cenário em que o banco ainda
procura estruturar recursos
para os próximos anos.
"Captar a mercado lá fora vai
sair muito caro, mas nas instituições multilaterais de crédito
é excelente opção, e já fiz esse
tour na semana passada. Esperamos que no ano que vem a
gente tenha aporte de captações externas muito bom."
Ele acertou com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) mais US$ 3 bilhões, teve conversas com o
Banco Mundial, com o japonês
JBIC e com o alemão KFW. Inicialmente, o banco previa desembolsos da ordem de R$ 80
bilhões neste ano. Com o aumento da demanda, diante da
secura do mercado, foi a R$ 85
bilhões. Coutinho disse estar
confiante em que o sistema
bancário privado voltará a funcionar de modo a reduzir a sobrecarga sobre o BNDES.
Segundo Coutinho, a crise
poderá funcionar como uma
"bênção" para projetos de infra-estrutura. Ele destaca que,
no primeiro semestre, com a alta nos preços de commodities,
todos os grandes projetos de investimento sofreram com o estouro de orçamento. "Essa recessão mundial é uma bênção
neste aspecto porque vai derrubar todos os preços dos insumos fundamentais", disse.
Para Coutinho, o país tem
oportunidades de investimentos rentáveis em infra-estrutura, depois de ter passado mais
de duas décadas investindo
abaixo do necessário. Ele vê demanda forte em setores como
logística, rodovias e energia.
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