São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2008

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BNDES anuncia ajuda para exportadoras

Coutinho diz que atuará ao lado de bancos privados para socorrer empresas com perdas cambiais em operações financeiras

Para presidente do banco de fomento, crise é uma "bênção" para reduzir custos de projetos de investimento na área de infra-estrutura

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) disse que ajudará empresas exportadoras que enfrentam dificuldades após registrarem perdas com operações de derivativos de câmbio. O presidente do banco de fomento, Luciano Coutinho, disse que a forma de auxílio será discutida caso a caso.
A decisão contraria declarações prévias do governo de que não haveria ajuda direta a empresas. O presidente Lula chegou a chamar essas empresas de "especuladoras" e "gananciosas". Nesta semana, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, descartou em depoimento no Congresso a possibilidade de socorro. "As empresas podem acertar sua situação com os bancos e levar sua vida adiante. O governo não vai cobrir prejuízo, nem um tostão."
Nas últimas semanas, grandes empresas, como Sadia, Aracruz e Votorantim, anunciaram perdas substanciais com a aposta na queda do dólar. Em palestra na Câmara Britânica, Coutinho afirmou que o banco já está mantendo conversas com empresas e que estuda formas de viabilizar o apoio. O governo já estimou em 200 as empresas com perdas cambiais.
"São empresas robustas, de grande qualidade. Elas têm meios de equacionar isso junto com o sistema bancário privado e terão, se necessário, o suporte do BNDES para que nenhum problema de liquidez inviabilize empresas de grande qualidade e potencial. Não são problemas solucionáveis no atacado, não existe uma medida provisória para solucionar esses problemas. Vai exigir trabalho muito intensivo", disse.
A situação dessas empresas têm se agravado com a alta contínua do dólar, que ontem chegou a R$ 2,327, alta de 0,95%. No mês, já subiu 22,2%.
"Muitas empresas têm programas de investimento no banco, portanto têm investimentos já realizados, e você pode acertar desembolsos. Em outros casos pode utilizar instrumentos de debêntures, nós vamos ajudar", disse. Segundo ele, a ação do banco será complementar à do setor privado.
Para Coutinho, a renegociação das empresas com a rede bancária vai contribuir para acabar com a incerteza que tem travado o processo de concessão de crédito. "Se a gente complementarmente ajudar, facilita que as empresas refinanciem suas perdas com o setor bancário privado, e depois a gente ajuda a reforçar a estrutura de capital para que elas possam ter capacidade de investimento."
Apesar da deterioração do cenário econômico, Coutinho diz que o PIB crescerá ao menos 5,5% no ano. Sua estimativa para o período de 2009 a 2012 é de 4,8%.
O apoio a empresas em dificuldade poderá ocorrer em um cenário em que o banco ainda procura estruturar recursos para os próximos anos.
"Captar a mercado lá fora vai sair muito caro, mas nas instituições multilaterais de crédito é excelente opção, e já fiz esse tour na semana passada. Esperamos que no ano que vem a gente tenha aporte de captações externas muito bom."
Ele acertou com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) mais US$ 3 bilhões, teve conversas com o Banco Mundial, com o japonês JBIC e com o alemão KFW. Inicialmente, o banco previa desembolsos da ordem de R$ 80 bilhões neste ano. Com o aumento da demanda, diante da secura do mercado, foi a R$ 85 bilhões. Coutinho disse estar confiante em que o sistema bancário privado voltará a funcionar de modo a reduzir a sobrecarga sobre o BNDES.
Segundo Coutinho, a crise poderá funcionar como uma "bênção" para projetos de infra-estrutura. Ele destaca que, no primeiro semestre, com a alta nos preços de commodities, todos os grandes projetos de investimento sofreram com o estouro de orçamento. "Essa recessão mundial é uma bênção neste aspecto porque vai derrubar todos os preços dos insumos fundamentais", disse.
Para Coutinho, o país tem oportunidades de investimentos rentáveis em infra-estrutura, depois de ter passado mais de duas décadas investindo abaixo do necessário. Ele vê demanda forte em setores como logística, rodovias e energia.


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