São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2008 |
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DEBATE FOLHA Crise exige reforma fiscal no país, dizem economistas
Para colunistas da Folha, corte de gastos do governo evitaria aperto monetário maior Nakano - A atual desvalorização da moeda brasileira não é um ataque contra o real nem uma crise nossa, dos nossos fundamentos. Trata-se de um fenômeno internacional e está ocorrendo por uma razão simples: os bancos de diferentes países operam em dólar. Então, em um quadro como este, todos querem captar dólar, o que gera uma pressão enorme sobre as demais moedas. Mendonça de Barros - Uma das explicações para o fato de ter havido uma reversão no movimento do dólar, que vinha caindo e agora se valoriza, é a volta de investidores para aplicações em dólar, das quais eles saíram durante muito tempo. OPORTUNIDADES Nakano - Olhando para a nossa história, percebemos que é em momentos de crise que conseguimos pensar mais a longo prazo. É preciso olhar para dentro e buscar desenvolver o Brasil de acordo com as suas potencialidades. As circunstâncias vão fazer com que sejam mudados dois pressupostos básicos da nossa economia: baixar a taxa de juros e ter um câmbio mais depreciado e competitivo. Rabello de Castro - O Brasil que toma partido desta crise para transformá-la em oportunidade é aquele que muda o "mix" de política, trocando a ênfase monetária pela ênfase fiscal, e anuncia medidas práticas para mudar o padrão de financiamento da economia brasileira. Vamos estimular mecanismos que aumentem a capacidade de poupar das pessoas. É óbvio que isso desembocaria nas grandes reformas, como a tributária, a previdenciária e até a reforma política. CRÉDITO Schwartsman - A contração do crédito está ligada muito mais a um problema de liquidez do que de solvência. As condições para resolver essa questão já estão dadas. Então acredito que será possível retomar o crédito fortemente à medida que esse problema de liquidez for passando. Mendonça de Barros - Vamos ter uma descontinuidade no crédito, o que vai levar à quebra de muita gente, com liquidação de estoque e comprometendo o emprego. MEDIDAS DO GOVERNO Schwartsman - Achei inteligente a liberação do compulsório condicionada à aquisição da carteira de crédito de bancos menores. Já a medida provisória nº 443 [que permite a estatização de bancos] gerou um pânico desnecessário. Rabello de Castro - Estamos tão macaquistas que conseguimos copiar o porre estando sóbrios. O sistema [bancário brasileiro] é altamente solvente, altamente sólido, integrado. Nakano - O que poderia ter sido feito de uma forma mais agressiva é resolver o problema dos ACCs [Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio] para os exportadores. Quanto à MP, a maneira como foi feita foi desastrosa. No passado, o socorro a bancos por parte do Banco do Brasil e da CEF foi realizado sem nenhum anúncio. Portanto não era preciso uma MP. Mendonça de Barros - Prefiro assim. Já que será colocado dinheiro público, que seja de forma mais transparente, com fiscalização, às claras. JUROS Nakano - A liberação do compulsório é, a rigor, uma injeção de dinheiro. Não faz sentido agora o BC elevar os juros. Schwartsman - Depende do diagnóstico da situação do crédito. Tenho uma visão mais otimista a esse respeito. Embora possa acontecer um problema grande no futuro, a falta de crédito está se resolvendo. Vai haver um desafio muito grande para o Banco Central [por causa do compulsório]. Mendonça de Barros - Estamos de acordo que, como vai importar menos, o país precisa reduzir a demanda claramente e rápido para não criar um problema de inflação. Aí vem a nossa divergência. Os bancos vão dar uma trancada no crédito. Ou melhor, já estão dando. Nesse cenário, agregar o aumento da taxa de juros é uma absoluta irresponsabilidade. POLÍTICA FISCAL Schwartsman - Obviamente, se tivéssemos dado maior atenção à política fiscal ao longo dos últimos anos, a situação seria muito diferente. Mas vamos olhar para a frente. Já temos encomendado para 2009 um aumento considerável de despesas públicas. Não me refiro ao PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] e sim aos aumentos do funcionalismo e do salário mínimo. Rabello de Castro - Brasília tem de jogar fora o Orçamento de 2009 e começar tudo de novo. Não se pode discutir se a demanda interna vai recuar ou não no país sem perguntar o que vai acontecer com o governo. Se ele vai continuar crescendo, a sociedade terá de se contrair duas vezes: pela desaceleração geral e pela ampliação do governo. Mendonça de Barros - O problema que o Lula tem pela frente é o [superávit] primário. Em um ano, vai cair a receita por conta de crescimento menor. Quero ver onde vão reduzir a despesa para fazer o [superávit] primário, que é camisa-de-força nessa situação. FOLHA ONLINE Assista ao vídeo do debate Leia mais sobre a opinião dos economistas www.folha.com.br/082985
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