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Crise paralisa novos projetos de usinas de açúcar e álcool
Metade sofreu adiamento, segundo governo paulista
MARCELO TOLEDO
LUCAS REIS
DA FOLHA RIBEIRÃO
Metade das usinas de álcool e
açúcar que estavam previstas
para entrar em funcionamento
nesta safra no centro-sul do
país teve seus projetos adiados
ou o ritmo das obras desacelerado em razão da crise de crédito que atinge a economia.
A afirmação é do secretário
de Estado da Agricultura e
Abastecimento, João Sampaio,
para quem a onda de fusões e
aquisições entre usinas em São
Paulo deve ser ampliada nos
próximos anos, como forma de
sobrevivência das empresas.
Ao todo, 35 usinas deveriam
entrar em operação na safra
2008/9. "Menos da metade vai
entrar. O resto foi postergado.
Esse é o número com que o Estado está trabalhando", afirmou o secretário, que disse seguir o que o mercado discute.
Parte das novas usinas tem
como origem grupos sucro-alcooleiros já instalados em São
Paulo que, por causa da saturação do Estado, buscam a expansão principalmente em Minas
Gerais, Goiás e Mato Grosso.
Na Usina São Francisco, em
Sertãozinho, região de Ribeirão
Preto, todos os investimentos
já foram adiados. "Suspendemos todos os projetos até que a
gente possa saber até onde vai a
crise", disse Jairo Balbo, diretor industrial da usina.
Entre os projetos suspensos
está a ampliação da Usina Uberaba, cuja previsão era ter início neste ano. "A terceira fase
está parada. A idéia era iniciar a
nova fase para ampliar a moagem da cana. Agora, estamos
sem previsão para isso", afirmou. Em relação a novas usinas, ele diz: "Nem pensar".
Irreversíveis
O usineiro Maurilio Biagi Filho, presidente da Usina Moema, afirmou que a crise só não
vai jogar para os anos seguintes
os projetos cujos estágios eram
considerados "irreversíveis".
"A crise está aí. Ela demora um
pouco para aparecer, mas vai
empurrar uma série de investimentos para os próximos anos,
vai empurrar um pouco as decisões do setor. A não ser alguns
locais em que [as obras] estavam em ponto irreversível."
Para o secretário da Agricultura, as empresas do setor terão
que se unir por causa do crédito
escasso, o que implicará fusões.
"Há uma tendência de as usinas
pequenas serem incorporadas.
Era um processo de consolidação que iria ocorrer nos próximos anos. Isso vai ser acelerado. Provavelmente, se a crise
continuar por um período mais
longo, algumas usinas farão a
safra de maneira diferente, vão
se buscar, se juntar", disse.
O grupo Santelisa Vale, um
dos principais produtores de
açúcar e álcool do país, viu sua
dívida crescer após a alta do dólar: com dívidas de US$ 300 milhões, o total subiu cerca de R$
200 milhões desde o início da
escalada do dólar. A dívida passou a existir a partir da fusão
entre as empresas dos grupos
Santa Elisa e Vale do Rosário,
em 2007, de acordo com a assessoria do grupo. As de curto
prazo estão sendo refinanciadas -os contratos de longo prazo serão mantidos. A expectativa da empresa é que os estoques, voltados à exportação,
compensem o valor da dívida.
Para a Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar), no
entanto, o cenário é diferente.
"Das 32 usinas que estavam
previstas para entrar em funcionamento no centro-sul do
Brasil, apenas 3 não vão entrar", disse Sérgio Prado, diretor da entidade em Ribeirão
Preto. Para ele, não há motivos
para preocupação no setor.
"Apesar da crise, novas usinas poderão entrar em operação. Aquele projeto que estava
em andamento não vai parar. O
crédito está restrito, mas o dinheiro não sumiu. Uma hora
vai acontecer novamente."
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