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Agência pode mudar "perspectiva"
de risco brasileiro, mas não a nota
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil poderá obter nos próximos meses uma alteração, para
melhor, da perspectiva ("outlook") do risco soberano de sua
dívida, mas terá que percorrer um
caminho ""muito longo" até ter alterada sua classificação (nota).
A avaliação foi passada ontem
pela presidente da agência de classificação de risco Standard &
Poor's no Brasil, Regina Nunes.
""Está próxima uma mudança
da perspectiva do Brasil [de ""estável" para ""positiva"". Mas considero muito difícil alterarmos o
"rating" brasileiro", disse a executiva, em seminário sobre avaliação do risco Brasil promovido pela Fundação Getúlio Vargas. ""Não
há passe mágico, o caminho será
longo e toda medida que possa sinalizar populismo por parte do
governo distancia [o país" deste
ponto [a melhora nos parâmetros
de solvência e da avaliação de risco"", completou Nunes.
Em suas palavras, o governo
não tem ""espaço" para relaxamento da política fiscal -leia-se
diminuir a geração de superávits
primários para pagamento de encargos da dívida. Na avaliação da
executiva, a vulnerabilidade não
se concentra apenas no tamanho
da dívida brasileira, mas também
em sua composição. ""O Brasil
tem um perfil de prazo e de custos
muito ruim, o que deixa o país
vulnerável a choques externos."
As classificadoras de risco atribuem notas aos países (e empresas) de acordo com a capacidade
de honrar compromissos. Quanto maior a percepção de que o
país pode enfrentar problemas de
solvência, pior a nota. Isso tem
consequência direta no interesse
dos investidores por títulos daquele país e em sua capacidade de
obter novos financiamentos.
Uma eventual melhora na perspectiva da classificação do governo poderia também resultar em
melhora da avaliação de empresas nacionais, o que diminuiria
seus custos para captação de recursos. No início deste mês, outra
agência, a Fitch Ratings, elevou a
nota do Brasil de B para B+.
Desde 23 de abril, a Standard &
Poor's avalia como B+, com perspectiva estável, o "rating" soberano do Brasil em moeda estrangeira. Essa nota indica que o país é
""mais vulnerável às condições de
negócios, financeiras e econômicas, mas apresenta atualmente capacidade para honrar os compromissos financeiros".
Mas a avaliação, ""estável", de
abril, segundo a S&P, já incorporava a perspectiva de reformas da
Previdência e tributária. Assim,
uma eventual reclassificação no
"outlook" dependerá do trâmite
das reformas no Congresso.
Pouco antes, Alexandre Koch,
do banco Merrill Lynch, dissera
que o governo não deveria pensar
em ""estourar champanhe" quando o risco-país (assim como as
notas das agências, outro indicador de vulnerabilidade) chegasse
a 400 pontos -era alusão a declarações do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.
""Sugeriria que a mantivesse na
geladeira e só abrisse quando o
risco-país permanecesse em 400
por um ano", afirmou Koch.
Trabalho
Presente ao evento, o presidente
do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que o risco soberano
brasileiro é elevado em consequência de ""inúmeros fatores
herdados do passado". Enumerou o que considerava ""erros heterodoxos", que "não desejamos
repetir": histórico de déficits primários crescentes no setor públicos, rompimento de contratos
(moratórias) e pequena participação do setor externo na economia. Indagado, mais tarde em coletiva de imprensa, se as agências
de risco estariam sendo ""rígidas"
demais com o Brasil, respondeu:
"Devemos fazer nosso trabalho
com seriedade. O "rating" será mera consequência".
(JAD)
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