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São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2003

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Agência pode mudar "perspectiva" de risco brasileiro, mas não a nota

DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil poderá obter nos próximos meses uma alteração, para melhor, da perspectiva ("outlook") do risco soberano de sua dívida, mas terá que percorrer um caminho ""muito longo" até ter alterada sua classificação (nota).
A avaliação foi passada ontem pela presidente da agência de classificação de risco Standard & Poor's no Brasil, Regina Nunes.
""Está próxima uma mudança da perspectiva do Brasil [de ""estável" para ""positiva"". Mas considero muito difícil alterarmos o "rating" brasileiro", disse a executiva, em seminário sobre avaliação do risco Brasil promovido pela Fundação Getúlio Vargas. ""Não há passe mágico, o caminho será longo e toda medida que possa sinalizar populismo por parte do governo distancia [o país" deste ponto [a melhora nos parâmetros de solvência e da avaliação de risco"", completou Nunes.
Em suas palavras, o governo não tem ""espaço" para relaxamento da política fiscal -leia-se diminuir a geração de superávits primários para pagamento de encargos da dívida. Na avaliação da executiva, a vulnerabilidade não se concentra apenas no tamanho da dívida brasileira, mas também em sua composição. ""O Brasil tem um perfil de prazo e de custos muito ruim, o que deixa o país vulnerável a choques externos."
As classificadoras de risco atribuem notas aos países (e empresas) de acordo com a capacidade de honrar compromissos. Quanto maior a percepção de que o país pode enfrentar problemas de solvência, pior a nota. Isso tem consequência direta no interesse dos investidores por títulos daquele país e em sua capacidade de obter novos financiamentos. Uma eventual melhora na perspectiva da classificação do governo poderia também resultar em melhora da avaliação de empresas nacionais, o que diminuiria seus custos para captação de recursos. No início deste mês, outra agência, a Fitch Ratings, elevou a nota do Brasil de B para B+.
Desde 23 de abril, a Standard & Poor's avalia como B+, com perspectiva estável, o "rating" soberano do Brasil em moeda estrangeira. Essa nota indica que o país é ""mais vulnerável às condições de negócios, financeiras e econômicas, mas apresenta atualmente capacidade para honrar os compromissos financeiros".
Mas a avaliação, ""estável", de abril, segundo a S&P, já incorporava a perspectiva de reformas da Previdência e tributária. Assim, uma eventual reclassificação no "outlook" dependerá do trâmite das reformas no Congresso.
Pouco antes, Alexandre Koch, do banco Merrill Lynch, dissera que o governo não deveria pensar em ""estourar champanhe" quando o risco-país (assim como as notas das agências, outro indicador de vulnerabilidade) chegasse a 400 pontos -era alusão a declarações do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. ""Sugeriria que a mantivesse na geladeira e só abrisse quando o risco-país permanecesse em 400 por um ano", afirmou Koch.

Trabalho
Presente ao evento, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que o risco soberano brasileiro é elevado em consequência de ""inúmeros fatores herdados do passado". Enumerou o que considerava ""erros heterodoxos", que "não desejamos repetir": histórico de déficits primários crescentes no setor públicos, rompimento de contratos (moratórias) e pequena participação do setor externo na economia. Indagado, mais tarde em coletiva de imprensa, se as agências de risco estariam sendo ""rígidas" demais com o Brasil, respondeu: "Devemos fazer nosso trabalho com seriedade. O "rating" será mera consequência". (JAD)


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