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OPINIÃO ECONÔMICA
Nacionalismo é bom!
BENJAMIN STEINBRUCH
Nos longos anos de crise da
economia brasileira houve
desnacionalização em massa.
Costumo dizer que só os malucos
teimosos, categoria na qual me
incluo, deixaram de vender suas
empresas ao capital estrangeiro.
As tentadoras ofertas de montanhas de dólares enlouqueceram
empresários brasileiros. Entregues à sua própria sorte, atormentados por deficiência crônica
de capital de longo prazo, juros
altíssimos e tributação exorbitante, eles não resistiram ao assédio
estrangeiro.
Nenhuma crítica aos que venderam suas empresas. Pensavam
na sobrevivência que as aplicações financeiras podiam (e ainda
podem) garantir mais tranquilamente do que o investimento produtivo. Nenhuma crítica também
à presença de capital estrangeiro
na economia. Ele traz tecnologia,
cria empregos e ajuda a aumentar as exportações necessárias para o país captar divisas e equilibrar o balanço de pagamentos.
O capital estrangeiro é bem-vindo, mas não se pode permitir que
ele tome conta de setores estratégicos da economia. É assim no
mundo todo. Há poucas divergências na identificação desses setores: petróleo e petroquímica, siderurgia, mineração, logística e
geração de energia são alguns dos
mais importantes. O apagão de
2001 mostrou, por exemplo, que
não passa de ilusão a idéia de que
se pode entregar ao capital estrangeiro a tarefa de expandir a
oferta de energia elétrica, insumo
vital para a atividade produtiva.
No auge da crise, algumas empresas cancelaram investimentos e
outras ameaçaram deixar o país.
Fez-se um carnaval nos últimos
dias porque o BNDES comprou
8,5% de participação das ações
da Valepar, holding que controla
a Vale do Rio Doce. Críticos disseram que isso seria o primeiro passo na reestatização da economia.
Ataques desleais atingiram o presidente do BNDES, Carlos Lessa,
que é uma figura honesta e inteligente, homem da cátedra absolutamente atualizado com a economia global. Só posso imaginar
aqueles que se habituaram a usar
o BNDES em beneficio próprio se
sentirem agora desconfortáveis
com a presença de Lessa, um nacionalista no bom sentido, autor
de 13 livros e professor em matéria de apoio ao desenvolvimento.
As declarações públicas de diretores do BNDES deixam claro que
a intenção não é retomar o controle estatal da Vale, mas sim
mantê-lo em mãos nacionais. Essa intenção é correta. A Vale, como a Petrobras e outras, é patrimônio nacional, opera em setores
altamente estratégicos, pode ter
capital estrangeiro, mas sua administração não pode ser entregue a grupos estrangeiros.
Em vez de ceder seu controle ao
exterior, a Vale precisa fazer o caminho inverso. Eficiente e privatizada, ela sempre teve crédito interno e externo para se internacionalizar, caso desejasse, por
meio da compra ou criação de
mineradoras no exterior.
Tive a oportunidade de dirigir a
Vale durante dois anos, depois da
privatização, e defendi enfaticamente a internacionalização da
companhia, em todas as suas
áreas operacionais: mineração,
celulose, alumínio, siderurgia e
infra-estrutura, mas interesses
contrariados não permitiram que
essa iniciativa prosperasse. Se o
BNDES decidiu entrar no capital
da empresa para impedir a sua
desnacionalização e para estimular a sua internacionalização,
merece aplausos. A Vale, maior
exportadora mundial de minério
de ferro, é um conhecido objeto de
cobiça de grandes grupos estrangeiros.
Os brasileiros não devem ter receio do nacionalismo sadio, aquele que visa a proteger do assédio
estrangeiro setores estratégicos e
competitivos das empresas brasileiras. Como disse o próprio Lessa
em seu discurso de posse, não faz
sentido um banco de desenvolvimento assistir ao sucateamento e
à destruição de frações produtivas importantes da economia nacional. Cabe ao BNDES dar apoio
efetivo a essas empresas para que
invertam o processo e passem de
vendedoras a compradoras de
ativos no mercado internacional.
As grandes exportadoras brasileiras, de setores como mineração, siderurgia, papel e celulose,
têxteis, calçados e agronegócios,
têm tudo para internacionalizar
a sua produção, por meio da
abertura de empresas ou compra
de concorrentes no exterior.
Quando se pesquisa a origem das
multinacionais, observa-se que,
antes de internacionalizar a produção, eram grandes exportadoras. A instalação de unidades industriais lá fora ajuda a estimular exportações de matérias-primas e componentes, garante mercados e proporciona lucros que
podem ser remetidos para a matriz.
Essas empresas de setores estratégicos ou globalmente competitivos não podem passar para as
mãos do capital estrangeiro. O
BNDES e outras instituições oficiais têm o dever de ajudá-las na
tarefa de se capitalizar, crescer e
internacionalizar operações. Nesse caso, o nacionalismo é sempre
sadio.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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