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Grãos avançarão sobre novas pastagens
DA REDAÇÃO
Os Iglesias não estão sozinhos
na troca de pastos por soja. Na década de 90, pelo menos 3 milhões
de hectares de pastos sucumbiram aos encantos da produção de
soja e de milho no Brasil, conforme estudo do IEA (Instituto de
Economia Agrícola).
Essa tendência de troca aumentou ainda mais a partir do início
desta década devido à valorização
da soja. E o fenômeno continuará.
Na avaliação de José Vicente Ferraz, analista da FNP Consultoria
& Agroinformativos, pelo menos
17 milhões de hectares de pastos
serão transferidos para a agricultura nos próximos dez anos.
Anderson Galvão, da Céleres, de
Uberlândia, diz que se for considerada a área de pastagem degradada -que não tem plantio regular de capim e ainda está em forma de campo-, o total deve ultrapassar 30 milhões de hectares.
Ferraz diz que esse fenômeno de
transferência é inevitável e não
ocorre apenas porque os preços
da soja estão elevados. A produção de grãos vai crescer nos próximos anos puxada por dois motivos básicos: alimentação e substituição de energia.
Novos mercados consumidores
de alimentos, antes sem renda, estão sendo incorporados no mundo. A China é um deles. A demanda mundial por alimentos crescerá e o único país que ainda tem
grandes fronteiras para serem exploradas é o Brasil, diz Ferraz.
É crescente, ainda, a utilização
de produtos agrícolas para a fabricação de derivados de combustível: o álcool da cana-de-açúcar, o biodiesel da soja, o etanol
do milho e vários outros produtos, diz o analista da FNP.
Essa valorização da agricultura
trará uma inevitável alta nos preços das terras, com duas facetas
ruins para a produção de carnes:
alta nos custos e, no caso do boi,
expulsão das áreas atuais, próximas dos grandes centros urbanos.
Mas os efeitos deverão ser menores para o boi do que para o
frango e o suíno, na avaliação da
FNP. Os bois se alimentam de capim, e a pecuária poderá se deslocar em busca de novas áreas. Já a
avicultura e a suinocultura, com a
alta nos preços dos grãos, vão ter
custos maiores.
O deslocamento da pecuária para áreas isoladas também aumentará os custos da produção de carne bovina. "Haverá uma redução
dos rebanhos e menor produção
de carne. Mas os preços aumentam e o jogo será reequilibrado."
O analista da FNP acredita que
os próximos três anos serão de
forte desequilíbrio nesse setor,
com a aceleração da substituição
das áreas de pasto pela de grãos,
principalmente por soja.
Na avaliação de Galvão, ocuparão as terras mais próximas os
produtos de maior rentabilidade.
A soja expulsa o boi, mas é expulsa pelo algodão, que é expulso pela cana-de-açúcar, diz ele.
Galvão diz que o Brasil precisa
"reinventar" a pecuária e não descarta uma forte concentração no
setor, com alguns pecuaristas comandando rebanhos de 300 mil a
400 mil animais.
A soja, que atualmente é plantada até em área de acostamento de
estradas, tem preços imbatíveis.
Os valores atuais de negociação
nas principais Bolsas de commodities do mundo são os maiores
dos últimos seis anos.
O apetite dos chineses é uma
das molas propulsoras dessa elevação. Importadores de apenas
125 mil toneladas de soja há dez
anos, a previsão para este ano é
que os chineses comprem 24 milhões de toneladas.
(MZ)
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