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São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2003

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Grãos avançarão sobre novas pastagens

DA REDAÇÃO

Os Iglesias não estão sozinhos na troca de pastos por soja. Na década de 90, pelo menos 3 milhões de hectares de pastos sucumbiram aos encantos da produção de soja e de milho no Brasil, conforme estudo do IEA (Instituto de Economia Agrícola).
Essa tendência de troca aumentou ainda mais a partir do início desta década devido à valorização da soja. E o fenômeno continuará. Na avaliação de José Vicente Ferraz, analista da FNP Consultoria & Agroinformativos, pelo menos 17 milhões de hectares de pastos serão transferidos para a agricultura nos próximos dez anos.
Anderson Galvão, da Céleres, de Uberlândia, diz que se for considerada a área de pastagem degradada -que não tem plantio regular de capim e ainda está em forma de campo-, o total deve ultrapassar 30 milhões de hectares.
Ferraz diz que esse fenômeno de transferência é inevitável e não ocorre apenas porque os preços da soja estão elevados. A produção de grãos vai crescer nos próximos anos puxada por dois motivos básicos: alimentação e substituição de energia.
Novos mercados consumidores de alimentos, antes sem renda, estão sendo incorporados no mundo. A China é um deles. A demanda mundial por alimentos crescerá e o único país que ainda tem grandes fronteiras para serem exploradas é o Brasil, diz Ferraz.
É crescente, ainda, a utilização de produtos agrícolas para a fabricação de derivados de combustível: o álcool da cana-de-açúcar, o biodiesel da soja, o etanol do milho e vários outros produtos, diz o analista da FNP.
Essa valorização da agricultura trará uma inevitável alta nos preços das terras, com duas facetas ruins para a produção de carnes: alta nos custos e, no caso do boi, expulsão das áreas atuais, próximas dos grandes centros urbanos.
Mas os efeitos deverão ser menores para o boi do que para o frango e o suíno, na avaliação da FNP. Os bois se alimentam de capim, e a pecuária poderá se deslocar em busca de novas áreas. Já a avicultura e a suinocultura, com a alta nos preços dos grãos, vão ter custos maiores.
O deslocamento da pecuária para áreas isoladas também aumentará os custos da produção de carne bovina. "Haverá uma redução dos rebanhos e menor produção de carne. Mas os preços aumentam e o jogo será reequilibrado."
O analista da FNP acredita que os próximos três anos serão de forte desequilíbrio nesse setor, com a aceleração da substituição das áreas de pasto pela de grãos, principalmente por soja.
Na avaliação de Galvão, ocuparão as terras mais próximas os produtos de maior rentabilidade. A soja expulsa o boi, mas é expulsa pelo algodão, que é expulso pela cana-de-açúcar, diz ele.
Galvão diz que o Brasil precisa "reinventar" a pecuária e não descarta uma forte concentração no setor, com alguns pecuaristas comandando rebanhos de 300 mil a 400 mil animais.
A soja, que atualmente é plantada até em área de acostamento de estradas, tem preços imbatíveis. Os valores atuais de negociação nas principais Bolsas de commodities do mundo são os maiores dos últimos seis anos.
O apetite dos chineses é uma das molas propulsoras dessa elevação. Importadores de apenas 125 mil toneladas de soja há dez anos, a previsão para este ano é que os chineses comprem 24 milhões de toneladas. (MZ)


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