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Alívio para empresa expõe lobby da Fiesp
Artigo sobre quitação de dívidas tributárias de empresas aprovado pela Câmara já havia sido discutido no Senado
Emenda de senador continha justificativas para programa de parcelamento
de dívidas sugerido pela
entidade paulista em 2005
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Motivo de um ataque público
da Receita Federal, um artigo
sobre quitação de dívidas tributárias recém-aprovado pela Câmara dos Deputados revela o
alcance e a resistência de um
bem-sucedido lobby empresarial iniciado há um ano pela
Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
O artigo -que, segundo o fisco, pode dar descontos de até
97% a empresas interessadas
em quitar suas dívidas- foi incluído pelo deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) no texto de uma
medida provisória que agora
tramita no Senado. Um mês
atrás, o mesmíssimo artigo havia sido inserido em outra medida provisória pelo senador
pefelista Edison Lobão (MA).
Quando um deputado petista
e um senador do PFL fazem
uma proposta idêntica em tão
curto espaço de tempo, o mais
provável é que o autor da idéia
não seja nenhum deles. "Isso
surgiu de conversas e entendimentos com vários líderes partidários", diz Luiz Sérgio.
Tais negociações já estavam
em andamento no início de julho, quando chegou ao Congresso a MP 303, pela qual o
Executivo criou o chamado Refis 3, o terceiro programa de
parcelamento de dívidas tributárias desde 2000.
O interesse dos parlamentares na medida pode ser analisado pelas 236 emendas -propostas de modificação- apresentadas num período em que
Câmara e Senado praticamente
não funcionavam por causa das
campanhas eleitorais.
Uma dessas emendas já propunha, com pequenas diferenças, o artigo criticado anteontem pelo secretário da Receita,
Jorge Rachid. A partir de um
acordo suprapartidário, porém,
a MP foi aprovada sem alterações pela Câmara e remetida ao
Senado. Ali, o autor da emenda,
Edison Lobão, ganhou o posto
de relator da MP.
A justificativa que acompanhava a emenda de Lobão dava
uma pista clara da origem da
proposta. Seus dez parágrafos
repetiam exatamente as justificativas entregues por vários
parlamentares para outro projeto: a criação do Rebras, sigla
para Programa de Revitalização das Empresas Brasileiras.
Trata-se de iniciativa lançada
em 2005 pela Fiesp, que recebeu apoio da Confederação Nacional da Indústria e passou a
encabeçar lista de pleitos semelhantes de outros setores.
Desde então, propostas de parcelamento de dívida surgiram
em projetos tão diferentes
quanto a MP do Bem, a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, a correção da tabela do IR e a
Super-Receita.
Espécie de superpacote de
refinanciamento de dívidas
privadas com o fisco, o Rebras
foi tema de um almoço, em fevereiro último, no gabinete do
líder do PMDB no Senado, Ney
Suassuna (PB), que reuniu líderes do governo e dos oposicionistas PSDB e PFL.
Veto
Em junho, o Congresso aprovou a reabertura do Refis -o
primeiro programa de parcelamento. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou o texto,
mas teve se comprometer a estudar um novo programa.
Naquele mesmo mês, o senador Lobão, dessa vez relatando
uma medida provisória voltada
para a formalização de empregadas domésticas, conseguiu
aprovar no Senado pela primeira vez um artigo criando vantagens para a quitação antecipada de dívidas tributárias. Dias
depois, saiu a MP 303.
"É um conjunto de propostas
apresentadas pela Fiesp, pela
CNI, que foram maturadas no
Senado", afirma Lobão, que, como o petista Luiz Sérgio, defende a medida. "Uma empresa
dura, em média, 25 anos, enquanto o Refis parcela dívidas
por até cem anos. A quitação
antecipada livra a Receita de
perder 75 anos de pagamentos", argumenta.
Ricardo Viveiros, porta-voz
da Fiesp, diz que a entidade "é
favorável ao desconto para o
pagamento antecipado de dívidas com Estado, desde que esse
mecanismo não signifique nem
prejuízo para o fisco nem estímulo à sonegação". O artigo criticado pela Receita, afirma, não
é "uma reivindicação específica
da Fiesp".
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