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ARTIGO
Nova crise escancara falha na fiscalização
FLOYD NORRIS
DO "NEW YORK TIMES"
GARANTIAS que não foi
possível honrar arremessaram o sistema financeiro mundial à sua mais
grave crise desde a Grande Depressão.
Será que uma garantia oferecida pelo governo dos Estados
Unidos por fim restaurará a
confiança no sistema financeiro norte-americano?
O boom financeiro da primeira metade da década será
relembrado como um período
no qual a inovação sobrepujou
a capacidade de avaliação de
risco tanto pelas autoridades
regulatórias quanto de parte
das instituições financeiras.
Os colapsos do Bear Stearns e
do Lehman Brothers, ambos os
quais eram regulamentados
primordialmente pela Securities and Exchange Commission
(SEC, órgão que fiscaliza o regulamenta o mercado de valores mobiliários, e equivale à
CVM, Comissão de Valores
Mobiliários, no Brasil), serviram para colocar em destaque
as atividades dessa agência, que
na prática se viu alijada da regulamentação quanto à solidez
financeira das instituições, depois que o Federal Reserve
(Fed, o BC dos Estados Unidos)
assumiu a responsabilidade pela fiscalização de diversas das
empresas pelas quais a SEC era
originalmente responsável.
O Citigroup sempre esteve
sob regulamentação do Fed, e a
necessidade de repetidos resgates ao banco demonstra que a
fiscalização foi ineficiente e
que, mesmo depois que a crise
começou, o governo subestimou sua severidade.
O mais recente resgate inclui
mais que a garantia e a injeção
de capital. A operação também
permite que o Citigroup trate
ativos que estão sob risco como
se fossem relativamente seguros, o que melhora sua posição
de capital aparente.
David Hendler, analista da
CreditSights, aponta para o fato de que os ativos do Citigroup
incluem US$ 91 bilhões em
contas a receber de cartões de
crédito, US$ 163 bilhões em
empréstimos a empresas e um
total líquido de US$ 104 bilhões
em derivativos variados. Esses
ativos, ele escreve, "não estão
imunes aos problemas da economia mais ampla".
Citi não está só
O Citigroup de maneira alguma está sozinho em sua incapacidade de compreender os riscos que veio a assumir.
Seguros para esses ativos foram vendidos tanto por seguradoras de títulos quanto por outras instituições que passaram
a operar com os chamados CDS
("credit default swaps", papéis
que visam proteger o investidor
contra inadimplência de empresa tomadora) que na prática
representavam transações de
seguros, mas não estavam sujeitas às mesmas regulamentações. As empresas que negociaram montantes elevados dessa
forma de seguro agora estão enfrentando problemas e/ou negociando para pagar menos do
que o prometido pelos contratos de garantia ou, como no caso da AIG (American International Group), estão mantendo
as portas abertas apenas porque o governo as resgatou.
Em retrospecto, talvez o fato
de que tenha existido demanda
tão elevada por essa forma de
seguro devesse ter servido como alerta de que os riscos eram
mais graves do que se admitia.
Mas na época as empresas que
vendiam seguros de títulos
acreditavam que viessem a ter
de pagar poucas, se alguma,
dessas apólices.
Declínio generalizado
Com a queda das ações do Citigroup na semana passada,
também surgiram fortes declínios nas ações de outros grandes bancos, entre os quais o
Bank of America e o JPMorgan
Chase. Resta saber se a ação do
governo vai acalmar os investidores quanto a essas instituições também, ou se o medo
quanto a elas vai se manter em
nível semelhante ao que gerou
as mais recentes garantias.
A garantia ao Citigroup, ao
contrário das fornecidas por
empresas que venderam seguros de títulos e CDS, vem de
uma instituição que está autorizada a imprimir dólares. Isso
torna a nova garantia mais confiável que as precedentes.
À medida que as obrigações
do governo ascendem aos trilhões de dólares, pode chegar o
momento em que os investidores passarão a questionar se um
governo que acumula tamanhos déficits será capaz de prometer, igualmente, que o dólar
não perderá valor.
Essa preocupação poderia
gerar elevação dos juros baixíssimos que o Tesouro vem pagando por suas transações de
captação.
Ainda que o governo de
George W. Bush tenha prevenido o colapso das grandes instituições financeiras e restaurado a confiança nelas, isso não
significa que o sistema financeiro esteja funcionando bem.
Os problemas da recessão,
dos mercados de empréstimos
restritos e da queda nos preços
dos imóveis continuarão, mesmo que todo mundo venha enfim a concluir que os grandes
bancos estão seguros.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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