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Foco
Banco norte-americano comandou o "clube" dos maiores credores do Brasil
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Por quase duas décadas o
Citibank foi uma espécie de
oráculo de políticos e economistas integrantes dos sucessivos governos brasileiros.
Mesmo que fosse a contragosto, a partir de meados da década de 80, não houve chefão da
equipe econômica que não tenha se reunido com os executivos instalados naquele edifício envidraçado e com o topo
em forma de cunha na esquina da avenida Lexington com
a rua 53, em Nova York.
Quando o então presidente
José Sarney decretou moratória da dívida externa brasileira, em 1987, o Citibank era o
maior credor privado do Brasil. O banco tinha US$ 4,6 bilhões para receber. Em valores de hoje, seriam cerca de
US$ 8,5 bilhões, pouco menos
da metade dos US$ 20 bilhões
que o banco acumula de prejuízo desde o final de 2007.
Na calçada em frente ao Citi
ficava o escritório da firma de
advocacia Arnold & Porter.
Era dali que o banqueiro William Rhodes comandou incontáveis reuniões do que se
chamava Comitê Assessor dos
Bancos Credores. Por ser o
maior credor do Brasil, o banco tinha o direito de presidir
esse clube informal de bancos
privados.
Sarney sustentou o quanto
pôde o calote da dívida. Fez
uma renegociação em 1988,
mas logo o Brasil começou novamente a atrasar os pagamentos. Começava, então, o
período da "moratória branca". Não se admitia simplesmente a interrupção dos pagamentos, mas apenas alguns
atrasos.
No governo de Fernando
Collor, a partir de 1990, novamente o Citibank voltou a comandar as reuniões do clube
de credores. Sempre no mesmo lugar. A normalização das
relações entre o governo brasileiro e o Citi só começou a ficar mais visível quando Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda, concluiu as negociações da dívida
externa brasileira, antes de
ser eleito presidente, no final
de 1994.
No primeiro semestre daquele ano, Luiz Inácio Lula da
Silva fez uma viagem a Nova
York para se apresentar aos
bancos e empresários norte-americanos. Participou de um
encontro com banqueiros na
cidade. O petista liderava as
pesquisas de opinião para o
Planalto. O Plano Real ainda
não estava lançado.
Os bancos queriam saber o
que um possível presidente
petista faria em relação à dívida externa. A negociação conduzida por FHC seria corroborada pelo governo seguinte? Foi, então, que a imagem
de arrogância do Citibank talvez tenha se expressado de
maneira mais completa.
Quando o petista chegou
para um almoço promovido
pela Câmara Brasil-Estados
Unidos, no dia 12 de maio de
1994, encontrou no seu caminho William Rhodes. Simulando um comportamento
amistoso e demonstrando
uma intimidade inexistente, o
executivo do Citi colocou as
costas de uma mão no peito de
Lula e perguntou, em espanhol: "O senhor vai honrar o
acordo?". Surpreso, Lula começou desconversando. Terminou a breve conversa com
um "cabe ao presidente que
assumir honrar o acordo".
Repórteres no local perguntaram então a Rhodes se o
banqueiro estava satisfeito
com a resposta. Diferentemente do político brasileiro, o
executivo do Citibank não se
achou na obrigação de responder. Ficou calado. Depois
do almoço declarou protocolarmente entender que Lula
honraria o acordo da dívida.
Nos bastidores, o Citi espalhou o quanto pôde sua desconfiança a respeito do PT no
Planalto.
Eleito presidente em 2002,
Lula nunca deixa escapar uma
oportunidade para alfinetar o
banco norte-americano. No
início deste ano, quando as
coisas já não iam bem para a
instituição, o presidente disse: "Eles, que davam tanto palpite sobre como administrar
os países, as coisas, quando
chega a hora de provar a sua
competência, demonstram
que não têm tanta competência como falavam".
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