São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2008

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Rendimento da classe C deve crescer menos com a crise

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Festejada como a expressão do sucesso das políticas econômicas do governo, a "nova classe média" vai ver seu ritmo de crescimento reduzido no ano que vem por causa da crise financeira que chegou ao país.
A expectativa de especialistas é que a riqueza total desse grupo de famílias, com renda de 3 a 10 salários mínimos por mês, cresça o mesmo que neste ano ou caia em 2009. O principal efeito não deve ser dar pela redução nos rendimentos propriamente ditos, mas pela maior dificuldade em encontrar emprego e pela queda nos financiamentos para consumo.
"[Vemos neste ano] o ápice do processo [de ampliação da classe média], mas agora a crise está chegando ao país. É possível que isso reduza o percentual [hoje de 50%] da classe C na população. Amortecedores como a política social e o salário mínimo devem reduzir o impacto", diz Marcelo Neri, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), estudioso dessa "nova classe média".
O economista Sérgio Vale, da MB Associados, projeta que as famílias com renda de 3 a 5 salários mínimos, parte importante da classe média, verão a sua massa salarial aumentar em R$ 14,6 bilhões no ano que vem, praticamente o mesmo que o projetado para este ano. Os que recebem de 5 a 10 salários mínimos perderão R$ 2,9 bilhões em relação a 2008.
A massa salarial é um conceito que mede a riqueza apropriada por um grupo de pessoas. Considera os rendimentos e o número de famílias que está em cada grupo de renda. Mesmo que o salário não caia, se houver um número menor de famílias no grupo, porque o desemprego aumentou, haverá queda da massa salarial.
O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, projeta que a massa salarial da classe C cresça 5,5% neste ano e 5% em 2009. A das classes A e B crescerá 3,8% em 2009, queda superior a um ponto percentual em relação a este ano. Os grupos D e E terão ganho: a massa salarial deve crescer 7,8%, enquanto neste ano, por causa da alta no preço de alimentos, o aumento deverá ser de 6,7%.
"O efeito da crise sobre a classe C vai ficar mais evidente na redução do consumo e numa evolução mais modesta da ocupação [maior dificuldade de encontrar emprego]", diz Romão.

Crédito escasso
A redução no crédito deverá se refletir em menor consumo de bens como computadores e automóveis pela classe C.
Para Marcelo Neri, parte desse impacto poderá ser absorvido pelo crédito com desconto em folha de pagamentos. A renda dos aposentados, que independe das condições da economia, é importante na classe C e fará com que o acesso a empréstimos continue ocorrendo.
As classes A e B sofrerão mais com a crise. Segundo a MB Associados, a massa salarial do grupo com ganho mensal de 10 a 20 salários mínimos, que neste ano deve crescer R$ 18,8 bilhões, registrará aumento de R$ 5 bilhões em 2009. O desaquecimento da economia fará com que a demanda por trabalho em setores que empregam mão-de-obra qualificada caia, o que afeta quem recebe salários mais altos. (LP)


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