|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOCIAIS & CIA
Crise e Obama dão impulso a energia limpa
Novo governo dos EUA pretende investir US$ 150 bi em pesquisas, além de criar um sistema de comércio de emissões
Para especialistas, crise seca
fonte para projetos agora,
mas, no médio e no longo
prazo, soluções "verdes"
tendem a ocupar espaços
ANDRÉ PALHANO
ENVIADO ESPECIAL A FLORIANÓPOLIS
Entre os raros setores da economia que podem de algum
modo se beneficiar com a crise
global, nenhum tem merecido
tanto destaque quanto o das
chamadas energias limpas, caracterizadas pela origem em
fontes renováveis (como o vento, o sol ou a água) e pela baixa
emissão de gases causadores do
efeito estufa. "Nova economia
energética" e "Green New
Deal" são apenas algumas das
expressões que surgiram recentemente e que acompanham o entusiasmo com a possibilidade de que as energias
limpas, no futuro, possam assumir o lugar hoje ocupado pelo
petróleo e pelo carvão como
motores da economia mundial.
A eleição de Barack Obama,
nos EUA, e as indicações de que
uma nova política energética
terá papel central em sua gestão trouxeram impulso inédito
ao tema. Dentro do que chamou de um "novo capítulo" nas
posições americanas no debate
sobre mudanças climáticas, o
presidente eleito anunciou investimentos de US$ 150 bilhões
nos próximos dez anos para o
desenvolvimento e pesquisa de
energias limpas, além da criação de um sistema federal de
comércio de emissões de gases
-que os especialistas consideram um marco, à medida que
define preços para o carbono.
"Temos um novo sopro de esperança", disse à Folha o físico
austríaco Fritjof Capra, autor
de livros como "O Tao da Física" e "Ponto de Mutação", que
esteve no Brasil para a Ecopower Conference 2008. "O plano de Obama é estimular a economia e a geração de empregos
privilegiando o uso das energias limpas. Além da injeção de
recursos que receberão, vemos
que, com uma promessa de
maior escala, elas também começam a chamar a atenção dos
investidores", afirmou.
As novidades se espalham.
Na Inglaterra, o governo anunciou recentemente um ambicioso plano para reduzir a dependência econômica do petróleo, no qual serão gastos
cerca de 100 bilhões de libras
até 2020. Projetos de grande
porte para a geração de energia
a partir de fontes alternativas,
como a solar na Alemanha e em
países da África, e a eólica na
Escócia, na Turquia e em diversos Estados norte-americanos,
também reforçam essa expectativa. Até na China, onde as
questões ambientais são vistas
com alguma desconfiança, o
governo anunciou investimentos de US$ 220 bilhões em projetos de energia renovável nos
próximos seis anos.
"Começamos a perceber que
os negócios, da maneira como
vinham sendo feitos até agora,
se tornam cada vez menos viáveis. Isso leva necessariamente
a uma transição de uma economia alimentada majoritariamente por petróleo e carvão
para uma alimentada por fontes alternativas", diz o americano Lester Brown, fundador do
WorldWatch Institute e considerado um dos maiores especialistas mundiais no assunto.
Obviamente, há uma série de
barreiras tecnológicas e econômicas para as novas fontes.
O obstáculo do preço
A principal delas é o preço,
uma vez que praticamente todas as alternativas "limpas" ao
uso dos combustíveis fósseis
são substancialmente mais caras (com exceção das usinas hidrelétricas, alvo de debates acalorados entre os ambientalistas). "Temos que ser realistas
quanto aos custos. Nos países
em que esse tipo de decisão vier
da iniciativa privada, como nos
EUA ou na China, vai se investir simplesmente naquilo que
for mais barato. E o mais barato
ainda é o carvão e o petróleo.
Há a eletricidade gerada a partir das hidrelétricas, mas elas
exigem uma geografia que muitos países não têm", afirma o
consultor canadense Patrick
Moore, o lendário fundador do
Greenpeace (do qual se desligou em 1986), que se tornou figura polêmica ao defender o
uso da energia nuclear.
Quem defende o uso das
"fontes limpas" contrapõe que
o avanço da tecnologia vem reduzindo de maneira importante os custos e aumentando sua
eficiência. A tendência dessas
fontes é que se tornem cada vez
mais competitivas, seja pela recente ajuda dos governos na
forma de investimentos, subsídios e regulação, seja pelo interesse da iniciativa privada em
uma área ainda pouco explorada. Em outras palavras, com o
inédito ganho de escala a partir
desses impulsos.
Como a crise afeta essa tendência? "Num primeiro momento, possivelmente de forma negativa, pois o crédito para
financiar projetos secou e as
empresas estarão mais preocupadas em sobreviver do que em
desenvolver alternativas limpas. No médio e no longo prazo,
no entanto, uma situação em
que nem líderes políticos nem
empresas sabem bem o que fazer, a possibilidade de mudanças radicais é muito grande. E o
desenvolvimento de soluções
verdes, quase inevitável", diz o
inglês John Elkington, fundador da SustainAbility e criador
do conceito do tripé da sustentabilidade (o social, o ambiental e o econômico).
O jornalista ANDRÉ PALHANO viajou a convite
da Ecopower Conference 2008
Texto Anterior: Anac libera tarifa de vôo ao exterior Próximo Texto: Breves Índice
|