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ANÁLISE
"Ambiente" não serve como justificativa
VINICIUS TORRES FREIRE
COLUNISTA DA FOLHA
Quase 89% dos automóveis
licenciados no Brasil neste ano
foram "flex". Apenas 1,3% dos
automóveis emplacados neste
2009 têm motores de mais de
2.000 cilindradas (2.0 e mais).
O ministro Guido Mantega, da
Fazenda, ladeado pelo presidente do lobby e associação das
montadoras, a Anfavea, anunciou que o IPI sobre carros flex
até 1.000 cilindradas continua
em 3% até 31 de março de 2010.
Ou seja, o governo quer incentivar os consumidores a fazer o
que já fazem por conta própria.
Justificar o IPI menor como
medida para reduzir a emissão
de gases danosos ao ambiente
não cola. A partir de abril acaba
o problema ambiental? De resto, os consumidores estão cada
vez mais incentivados a colocar
gasolina em seus carros "flex",
pois o álcool está caro.
Neste ano, a produção de
"veículos leves" caiu 6,2%. A de
caminhões tombou 33,6%. O
auxílio aí parece mais compreensível. Mas, como as montadoras não divulgam resultados financeiros no Brasil, é difícil avaliar seus resultados. No
mercado doméstico, até foram
bem. Mas as exportações caíram de US$ 12 bilhões em 2008
para US$ 6,4 bilhões em 2009
(janeiro a outubro).
As importações têm aumentado, embora os importados sejam apenas 15% dos carros emplacados no país. As importações do México subiram de US$
292 milhões em 2007 para US$
640 milhões neste ano. As da
Coreia foram de US$ 174,5 milhões para US$ 632 milhões. O
deficit na balança de automóveis já chegou a US$ 1,3 bilhão
neste ano. Mas é difícil dizer
que se trata claramente de protecionismo aberto, pois as
montadoras têm muita influência nesses acordos que regulam o mercado bilateral
-menos no caso dos coreanos.
Talvez se trate de um protecionismozinho, digamos.
Sem incentivos estatais, o
corte de empregos nas montadoras teria sido muito maior.
Mas reportagem desta Folha
mostrou que as fábricas recontrataram apenas 20% dos trabalhadores que demitiram entre novembro de 2008 e junho
deste ano. A prorrogação do
IPI reduzido não deve resultar
em mais empregos.
Enfim, quanto à economia
em geral, o próprio governo
acredita que o país cresce uns
5% em 2010, que haverá mais
renda e mais crédito. Não parece haver, pois, um motivo macro para o subsídio do IPI. Não
deu para entender o governo.
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