São Paulo, quarta-feira, 25 de novembro de 2009

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ANÁLISE

"Ambiente" não serve como justificativa

VINICIUS TORRES FREIRE
COLUNISTA DA FOLHA

Quase 89% dos automóveis licenciados no Brasil neste ano foram "flex". Apenas 1,3% dos automóveis emplacados neste 2009 têm motores de mais de 2.000 cilindradas (2.0 e mais). O ministro Guido Mantega, da Fazenda, ladeado pelo presidente do lobby e associação das montadoras, a Anfavea, anunciou que o IPI sobre carros flex até 1.000 cilindradas continua em 3% até 31 de março de 2010. Ou seja, o governo quer incentivar os consumidores a fazer o que já fazem por conta própria.
Justificar o IPI menor como medida para reduzir a emissão de gases danosos ao ambiente não cola. A partir de abril acaba o problema ambiental? De resto, os consumidores estão cada vez mais incentivados a colocar gasolina em seus carros "flex", pois o álcool está caro.
Neste ano, a produção de "veículos leves" caiu 6,2%. A de caminhões tombou 33,6%. O auxílio aí parece mais compreensível. Mas, como as montadoras não divulgam resultados financeiros no Brasil, é difícil avaliar seus resultados. No mercado doméstico, até foram bem. Mas as exportações caíram de US$ 12 bilhões em 2008 para US$ 6,4 bilhões em 2009 (janeiro a outubro).
As importações têm aumentado, embora os importados sejam apenas 15% dos carros emplacados no país. As importações do México subiram de US$ 292 milhões em 2007 para US$ 640 milhões neste ano. As da Coreia foram de US$ 174,5 milhões para US$ 632 milhões. O deficit na balança de automóveis já chegou a US$ 1,3 bilhão neste ano. Mas é difícil dizer que se trata claramente de protecionismo aberto, pois as montadoras têm muita influência nesses acordos que regulam o mercado bilateral -menos no caso dos coreanos. Talvez se trate de um protecionismozinho, digamos.
Sem incentivos estatais, o corte de empregos nas montadoras teria sido muito maior. Mas reportagem desta Folha mostrou que as fábricas recontrataram apenas 20% dos trabalhadores que demitiram entre novembro de 2008 e junho deste ano. A prorrogação do IPI reduzido não deve resultar em mais empregos.
Enfim, quanto à economia em geral, o próprio governo acredita que o país cresce uns 5% em 2010, que haverá mais renda e mais crédito. Não parece haver, pois, um motivo macro para o subsídio do IPI. Não deu para entender o governo.


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