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São Paulo, quinta-feira, 25 de dezembro de 2003

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MAL DA VACA LOUCA

Governo anuncia "recall" de 4,7 toneladas do produto; secretária admite possibilidade de novos casos

Países sustam compra de carne dos EUA

Kim Kyung-Hoon/Reuters
Carne importada dos EUA em vitrine de supermercado em Seul


FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Pelo menos 15 países, incluindo o Brasil, anunciaram ontem a suspensão da importação de carne bovina dos EUA depois que o Departamento de Agricultura confirmou o primeiro caso da doença da vaca louca no país.
Em entrevista à rede ABC, a secretária de Agricultura dos EUA, Ann Veneman, admitiu que o caso poderia não ser o único. "Acreditamos que seja ou um caso isolado ou um pequeno número de casos", disse a secretária.
Os EUA anunciaram também um "recall" de cerca de 4,7 toneladas de carne distribuída por uma fazenda próxima à cidade de Yakima, no Estado de Washington, na Costa Oeste, onde a doença foi diagnosticada.
Novos testes, inclusive de amostras enviadas ao Reino Unido, devem reconfirmar ou descartar o problema nos próximos dias.
O anúncio da contaminação de uma vaca abatida no último dia 9 espalhou apreensão nos EUA e levou Veneman a pelo menos cinco programas de TV ontem.
Como já havia declarado anteontem, Veneman repetiu que comeria carne em sua ceia de Natal e tentou minimizar o impacto e a extensão do problema.
Antecipando a reação de consumidores nos próximos dias, as ações das principais empresas relacionadas ao setor de carnes bovinas, com a rede McDonald's à frente, sofreram forte queda.
Os três maiores importadores de carnes dos EUA -Japão (com 32% do total), Coréia do Sul e México- foram seguidos por vários países asiáticos e por Brasil, Rússia, Austrália, África do Sul, Peru e Chile na sua decisão de suspender a compra de carne bovina dos Estados Unidos. O Canadá suspendeu parcialmente a importação de carne do país vizinho.
A União Européia, que já adota restrições à importação de carne dos EUA por causa do uso de hormônios, não adotou medidas adicionais e informou que acompanharia o caso "de perto".

Código Laranja
Ontem, véspera de Natal, várias redes de supermercado trabalharam em regime de meio período. Por essa razão, o eventual impacto da notícia sobre o comportamento dos consumidores deverá ser sentido a partir de amanhã.
Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, o Estado de Washington tem apenas 1,1 milhão de cabeças de gado, o que representaria cerca de 1% de um total de 96,1 milhões de animais.
Mesmo assim, a expectativa é de que a população dos EUA, atualmente sob o "código laranja", o segundo mais alto na escala de possíveis ataques terroristas, apresente forte reação contra o problema. Em suas entrevistas à TV, Ann Veneman negou com veemência que o problema pudesse estar relacionado a ameaças terroristas contra os EUA.
Isoladamente, o setor de carne bovina representa a maior fatia do segmento agroindustrial dos EUA. Os norte-americanos consomem cerca de US$ 50 bilhões em carne todos os anos e o setor fatura cerca de US$ 180 bilhões.
A notícia sobre a descoberta da doença nos EUA ocorre no momento em que os preços da carne vêm batendo recordes seguidos.
A recomendação de dietas baseadas em proteínas, sendo a mais famosa a do doutor Robert Atkins, vinha dando fôlego ao setor.
Os preços do produto nos EUA também subiram na esteira da suspensão das importações de carne do Canadá a partir de maio passado -só retomadas recentemente-, depois que um caso da doença também foi detectado naquele país. Um quilo de alcatra, por exemplo, chega a custar US$ 12 (R$ 35,00) hoje nos EUA, contra US$ 8 há um ano.
Antecipando-se à reação dos consumidores, o McDonald's, a maior rede de restaurantes do mundo, e a Burger King, a segunda maior cadeia de hambúrgueres dos EUA, anunciaram que seus fornecedores não estão relacionados ao caso. A rede de lojas Wal-Mart também divulgou comunicado afirmando não ter fornecedores no Estado de Washington.
Segundo o Departamento de Agricultura, a vaca infectada fazia parte de um rebanho de 4.000 unidades no Estado.
Apesar da tentativa do governo e de empresas de fast food de minimizar o receio dos consumidores, especialistas na doença alertaram que carnes processadas em máquinas -como hambúrgueres e embutidos- têm maiores riscos de ser contaminadas.
Acredita-se que a encefalopatia espongiforme -ou o mal da vaca louca- possa contaminar apenas áreas relacionadas ao sistema nervoso central dos animais. Somente partes do cérebro, da medula espinhal e nervos relacionados a essas regiões poderiam transmitir a doença para humanos.
Uma série de precauções contra o consumo dessas partes foi adotada nos EUA durante os anos 90. Mas, segundo especialistas, o risco permanece no caso de carnes processadas, pois pedaços mínimos de nervos ligados a ossos, por exemplo, poderiam contaminar máquinas utilizadas no processo.


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