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RECEITA ORTODOXA
Mantega diz que esforço fiscal em 2004 poderá ser maior
Aperto deve superar meta do FMI
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo poderá fazer em 2004
um ajuste fiscal maior do que o
necessário para cumprir o acordo
com FMI (Fundo Monetário Internacional), segundo declarações do ministro do Planejamento, Guido Mantega.
O acordo com o Fundo, aprovado neste mês, permite ao governo
gastar R$ 2,9 bilhões com saneamento, que não entrariam no cálculo da meta de superávit primário (economia do governo para o
pagamento de juros) de 4,25% do
PIB (soma das riquezas produzidas pelo país). Isso significa, na
prática, que o superávit de 2004
poderia ser menor do que 4,25%.
Mantega afirma, no entanto,
que a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) aprovada pelo Congresso prevê um superávit de
4,25%, independentemente dos
acertos com o FMI.
"Nós temos um acordo que nos
permitiria ir abaixo dos 4,25%.
Não quer dizer que o governo vai
fazê-lo", disse o ministro, durante
entrevista à Folha.
Segundo ele, seria preciso mandar um projeto de lei para alterar
a LDO, caso o governo queira usar
a flexibilidade negociada com o
Fundo. "No momento não há nenhum projeto desse tipo", disse
Mantega, ao se referir a essa possibilidade. Leia abaixo os principais
trechos da entrevista realizada na
segunda-feira à tarde:
Folha - O Orçamento que está
sendo discutido no Congresso
[aprovado na noite de segunda-feira] precisará ser contingenciado no
próximo ano?
Guido Mantega - A grosso modo
é um Orçamento equilibrado, que
não vai necessitar de contingenciamento. Pelo menos não na dimensão do que foi feito em 2003,
quando o Orçamento estava totalmente desequilibrado.Talvez seja
um dos primeiros da história que
não tenha maiores contingenciamentos. A filosofia que norteou o
Orçamento foi a do realismo. Você não infla as receitas nem subestima as despesas para que tudo
possa ser executado. É um Orçamento menos generoso, que tem
menos recursos, mas o que tem
pode ser feito.
Folha - Qual seria o volume desejável de investimentos no Orçamento? Está previsto para 2004
cerca de R$ 8 bilhões.
Mantega - Nessa área de infra-estrutura, quanto mais melhor.
Mas nós temos que nos ater aos limites que existem.
Folha - Há no Orçamento recursos
para colocar na prática a política
industrial que será anunciada pelo
governo?
Mantega - Existem. Quando nós
falamos em financiamento é via
algum subsídio. Você dá o financiamento com uma taxa de juros
mais baixa e o Tesouro paga a diferença. Nós temos vários bilhões
para esses subsídios: o crédito
agrícola, o de exportação e o industrial. É um item que tem aumentado no nosso Orçamento e
vai ter mais de R$ 6 bilhões.
Folha - O projeto do Senado de
aprovar um PPA (Plano Plurianual)
que prevê um superávit primário
de 3% em 2007 é bom ou preocupa?
Mantega - Traz preocupação. Se
não se faz um superávit que controla a dívida de forma satisfatória, os juros não caem. Se os juros
não caem, o governo tem um
pouco mais de dinheiro para investir, mas o setor privado não investe.
Folha - O acordo com o Fundo libera um gasto extra de R$ 2,9 bilhões com saneamento, que poderia ser descontado da meta de superávit de 4,25%. Qual será então a
meta de fato em 2004?
Mantega - Do ponto de vista do
acordo com Fundo Monetário,
nós poderemos fazer R$ 2,9 bilhões excedendo o superávit primário. Então você faz um superávit de 4,25% menos os R$ 2,9 bilhões. Mas tem outra questão. O
que estabeleceu a meta de superávit não foi o acordo com o FMI.
Nós temos uma Lei de Diretrizes
Orçamentárias que foi aprovada
pelo Congresso. Nós temos um
compromisso com o Congresso
de 4,25%.
Folha - O governo vai usar ou não
a flexibilidade prevista no acordo
com o FMI?
Mantega - Se nós quisermos nós
temos a faculdade de gastar esses
R$ 2,9 bilhões a mais em saneamento. Nós estamos fazendo uma
programação para fazer esse gasto. Agora, se vai sobrar ou não recursos de outras dotações, outros
tipos de gastos, não sei dizer.
Nós temos um acordo que nos
permitiria ir abaixo dos 4,25%.
Não quer dizer que o governo vai
fazê-lo. O que conta é que o governo vai investir mais R$ 2,9 bilhões
em saneamento.
Folha - Ou seja, a idéia de um superávit menor que 4,25% está fora
de questão, dada a LDO?
Mantega - Hoje teria que ser assim. Nada impede que se faça
uma mudança. Nós vamos fazer
esse gasto a mais com saneamento, agora com que resultado das
contas finais nós não sabemos.
Folha - Há algum projeto do governo para alterar a LDO?
Mantega - No momento não há
nenhum projeto desse tipo.
Folha - No começo do ano, falava-se em crescimento modesto da economia. Até recentemente ninguém
imaginou que pudesse ser zero. O
governo e os analistas não tiveram
a capacidade de fazer previsões
corretas ou o ajuste fiscal foi calibrado além do necessário?
Mantega - O ajuste fiscal foi calibrado na medida certa. Nós tínhamos uma crise. Você não sabe
muito bem como sair da crise. É
difícil saber em quanto tempo se
consegue debelar a crise e a inflação. O desaquecimento da economia no primeiro semestre foi
maior do que se pensava.
O importante é saber o que está
acontecendo hoje. Em dezembro,
no final do último trimestre, nós
sabemos que a economia está
crescendo. E neste último trimestre vai estar crescendo entre 2,5%
e 3%.
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