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São Paulo, quinta-feira, 25 de dezembro de 2003

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SEM NORTE

Arrocho monetário levou a recuo da inflação maior que o esperado por analistas, mas impediu crescimento do PIB

Previsões falham em ano de juros altos

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A evolução das estimativas compiladas semanalmente pelo Banco Central no relatório Focus mostra que 2003 foi mais um ano que pegou economistas de surpresa. O efeito da política de juros altos foi a principal causa dos erros nas previsões feitas no início deste ano.
Com isso, as projeções foram tomando rumos distintos ao longo do ano. Semana a semana o mercado foi se tornando mais pessimista em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) e mais otimista no que diz respeito à inflação. Em janeiro, esperava crescimento de 1,87% e IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 11,5%. Atualmente, essas mesmas projeções são de, respectivamente, 0,25% e 9,18%.
Segundo economistas, são dois os fatores principais que explicam a evolução oposta das duas expectativas: o forte aperto monetário e a significativa melhoria do cenário internacional.
"Não esperávamos que o efeito dos juros altos seria tão forte, assim como não prevíamos que o cenário internacional se tornaria tão benigno a ponto de "chover" dólares para a economia brasileira", afirma Francisco Pessoa, economista da LCA Consultores.

Câmbio
O comportamento da taxa de câmbio neste ano confirma a análise de Pessoa. Até recentemente, o mercado resistia em reduzir sua previsão de dólar acima de R$ 3,00 para o fim deste ano. Agora, já admite cotação de R$ 2,97.
Isso tem contribuído para manter a inflação sob controle, já que, com o real mais valorizado, não há repasse de preços em setores da economia cujos custos são associados ao dólar.
Mas a causa principal da redução paulatina da inflação foi mesmo a política de juros muito altos mantida até meados do ano.
"Políticas monetárias coerentes levaram ao controle da inflação e ajudaram o sistema de metas a recuperar sua função de convergência das expectativas. Mas políticas coerentes têm um preço. Nesse caso, o forte aperto monetário prejudicou o crescimento", afirma Tomás Málaga, economista-chefe do Itaú.
Segundo Málaga, os índices de aprovação do atual governo e o fato de a maioria da população acreditar que o problema do desemprego começará a ser resolvido em 2004 são sinais de que a população entende, hoje, a importância da estabilidade.
"Isso mostra que as pessoas compreendem que as medidas tomadas pelo governo foram necessárias e que valorizam a estabilidade", disse o economista.
Já para 2004, tanto as estimativas de PIB como as de inflação vêm ganhando tons de otimismo.
Analistas esperam IPCA -que mede a inflação oficial- de 5,9%, bem próximo à meta de 5,5%. Em relação ao PIB, as projeções são de crescimento de 3,52%.
"Como 2004 será um bom ano, é normal que as previsões de PIB sejam revistas para cima à medida que as deste ano se reduzem, implicando base de comparação menor", diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco.


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