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ENTREVISTA
Roger Agnelli ressalta firmeza do Ministério da Fazenda e nega que a crise política tenha afetado a economia
Presidente da Vale elogia política econômica
PEDRO SOARES
ENVIADO ESPECIAL A PARAGOMINAS (PA)
A queda do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre foi
um movimento sazonal que deve
retroceder, segundo o presidente
da Companhia Vale do Rio Doce,
Roger Agnelli, 46. Para ele, diferentemente do que afirmam o
Ipea e consultorias, a crise política
não afetou a economia.
"A crise política tem seus efeitos. Traz preocupações na área
política, mas a área econômica está andando bem. Eu não atribuo o
desaquecimento do terceiro trimestre à crise política. Atribuo
muito mais ao desaquecimento
de alguns setores que acho que
daqui a pouco devem reverter."
Agnelli cobrou ainda mais agilidade, eficiência, aperfeiçoamentos na regulação e menos instâncias oficiais na questão do ambiente, que em muitos casos atrasa projetos da companhia. "O que
precisa ter é uma centralização no
sentido de promover velocidade
na concessão das licenças. Isso tudo não deve e não pode e não tem
como impedir o desenvolvimento", disse, em entrevista exclusiva
à Folha, concedida em Paragominas, onde o executivo participou
da formatura de 1.200 alunos do
projeto "Vale Alfabetizar", voltado para a alfabetização de adultos.
Mais nociva ao ambiente, diz, é
a miséria, que pode ser combatida
com geração de renda. "A gente
tem de levar em consideração que
a pobreza e a miséria destroem o
ambiente."
Leia, a seguir, a entrevista.
O repórter Pedro Soares viajou a
convite da Vale do Rio Doce
Folha - O Ipea atribuiu a queda de
1,2% no PIB do terceiro trimestre à
crise política. O sr. concorda?
Roger Agnelli - Não. Na minha
visão, é um tanto quanto sazonal.
Tem oscilações para cima e para
baixo. Pode haver um trimestre
que desacelera mais e outro menos. Houve em 2004 um crescimento bom. Neste ano, o país está
crescendo ante o ano passado.
Não vejo isso como tendência. A
economia mundial continua bastante forte, aquecida. Acho que os
recursos estão entrando. O dólar
acomodou-se, o real se apreciou.
Há uma confiança no país muito
maior do que se tinha antes. E não
há reflexo em termos de nervosismo do mercado. Acho que a crise
política tem seus efeitos, na área
política, mas na área econômica
está andando bem. Não atribuo o
desaquecimento do terceiro trimestre à crise política. Atribuo
muito mais ao desaquecimento
de alguns setores, que acho que
daqui a pouco devem reverter.
Folha - Como o sr. vê a divisão interna do governo sobre a condução
da política econômica?
Agnelli - Em qualquer país, ainda mais como o Brasil, com um
população jovem, dinâmica e
com o empresariado dinâmico,
todo mundo quer crescer. Os políticos também. Todo mundo
quer crescer. O problema é como
dosar esse crescimento sem voltar
aos erros do passado: a inflação. A
inflação é o pior imposto, principalmente para os pobres. Até
aqui, a política econômica tem
dado bons resultados. O risco-país caiu. O dólar está sob controle. Está tudo de alguma forma
funcionando. Há uma preocupação grande com a dose do juro,
com a sobrevalorização do real.
Isso tudo tem de ser ajustado.
Agora, é uma discussão saudável.
Quem não quer crescimento? Todo mundo quer: o Banco Central,
o Ministério da Fazenda, que tem
sido firme na condução da política e bem-sucedido nesse ponto.
Folha - Mas o sr. não acha que a
politica monetária tenha sido excessivamente conservadora?
Agnelli - Ela tem sido, sim, conversadora. Mas, olhando para
trás, não posso dizer se ela foi excessivamente ou pouco conservadora. O fato é que a inflação está
sob controle, o risco-país caiu e o
dólar não decolou. Não tivemos
desvalorização cambial. Pelo contrário: tivemos uma apreciação
do real. Se comparar o PIB em dólar, o crescimento é fortíssimo ante o ano passado. Daqui para a
frente, temos de discutir: será que
é preciso ter esse nível de taxa de
juro? E é o que a sociedade está
discutindo. Acho isso salutar.
Folha - O sr. tem ressaltado a importância de avançar na regulação
ambiental. A Vale se sente prejudicada pelo suposto excesso de zelo
dos órgãos de ambiente?
Agnelli - Há um problema de
fundo que é pura e simplesmente
de definição de clareza, de regulamentação e de legislação. A gente
tem de parar um pouco, analisar e
ver como conseguir agilizar os
processos e ter prazo determinado para conseguir obter a licença,
executar um projeto. É importante que todos os projetos tenham
como princípio o respeito ambiental. É fundamental. Há vários
organismos internacionais que
olham se as empresas, principalmente as grandes, respeitam todas as condições socioambientais.
No caso da Vale, todos os nossos projetos são desenvolvidos e
executados com o que há de mais
avançado em termos de preservação do ambiente, no sentido de
compensar ou recuperar qualquer dano que possa ser causado.
Então a gente se pauta por isso,
porque, se a gente não o fizer, os
clientes deixam de comprar nossos produtos. É uma questão da
mineração: respeito ao ambiente.
Jamais vou criticar ou dizer que o
ambiente atrapalha. O que precisa
ter é uma regulamentação e uma
legislação com clareza e determinando quem faz o quê, quando e
como. Se um projeto tem condições de preservar o ambiente, se
levou em consideração todas as
regras, por que não conceder a licença? É necessária uma centralização para promover velocidade
na concessão das licenças. Isso
não deve, não pode e não tem como impedir o desenvolvimento.
Folha - E é isso o que está acontecendo no Brasil?
Agnelli - A gente tem diversos
projetos que têm todo o cuidado,
todo o zelo, e as licenças -muitas
vezes, por uma questão de instâncias e do número de audiências e
por uma questão de problemas da
própria legislação- demoram.
Tem de ter um lugar onde se possa mostrar o projeto, melhorar
naquilo que tiver de melhorar, assumir o que precisa assumir, mas
que se possa executar o projeto.
Folha - Haveria uma superposição de órgãos reguladores?
Agnelli - Existe. Há municípios,
Estados, governo federal, as comunidades de um modo geral.
Tem ainda o Ministério Público.
Tem todas essas instâncias, o que
faz o processo muito lento. Acho
que, no passado, alguns países, setores e sociedades não prestaram
atenção ao ambiente. A gente vem
nos últimos anos aprendendo
com erros do passado. A mineração teve uma imagem de um setor
que nunca cuidou do ambiente.
Mas posso dizer que as empresas
modernas, as grandes e médias
mineradoras e o empresário moderno têm consciência e atuado
para preservar a natureza.
Mas a gente de tem de levar em
consideração que a pobreza e a
miséria destroem o ambiente. É o
que mais destrói. Se tem um projeto que pode gerar renda e que
seja bem desenvolvido para respeitar o ambiente, esse projeto
tem de ir em frente. Não pode
atrasar a licença.
Folha - O ambiente foi um dos fatores que levaram ao fracasso do
pólo siderúrgico do Maranhão?
Agnelli - Não. No caso do Maranhão, é uma questão da definição
do terreno. Há problemas de famílias que estão ocupando o terreno. Há problema também de licenciamento ambiental. Mas nem
chegou a entrar na questão do licenciamento porque não se conseguiu desenvolver o projeto básico, pois não sabia onde seria o
projeto. Não havia nem o local.
Sem isso, não há como pedir o licenciamento. Nesse caso, de forma nenhuma é o ambiente, a
quem todos temos de respeitar. Se
o projeto não tiver como compensar danos ambientais, que não
seja aprovado. Mas, para dizer
sim ou não, tem de falar rápido.
Folha - Como estão as negociações para o reajuste do minério no
ano que vem, depois do aumento
recorde de 71,5% em 2005?
Agnelli - Não há nada definido.
Tem muita conversa ainda.
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