São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NOVO ANO

Alta nas vendas em 2006 deve ser impulsionada por melhora na renda e no emprego, esperam vários setores

Empresas apostam na demanda interna

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Setores da economia que apanharam em 2005 com resultados medíocres ou discretos acreditam numa possibilidade de desempenho melhor no próximo ano. Ao mesmo tempo, os que já tiveram um bom ano crêem num repeteco. Baseiam-se nas perspectivas de melhora na renda, no emprego formal e na recuperação do dólar.
A Folha ouviu na última semana setores como siderurgia, alimentos, bens de capital, eletrônicos e automóveis. Há um fator em comum entre os diferentes segmentos: a maioria deve ser favorecida, em boa parte, pela demanda interna, como as empresas de siderurgia e automóveis -que esperam uma menor velocidade de crescimento nas exportações.
Há uma expectativa de desempenho mais tímido para as exportações em 2006, decorrente de fatores como elevação do dólar, queda do preço das commodities, demanda externa menor e barreiras sanitárias externas.
Para o setor siderúrgico, as empresas trabalham com estimativa de alta de 8,5% no consumo aparente (demanda interna, incluindo importações), o que dá um volume próximo de 18,3 milhões de toneladas de produtos no ano que vem, informa o IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia). Para a produção, calcula-se uma alta de 4,1% para o próximo ano. Quanto às exportações, a previsão é de 13 milhões de toneladas -uma alta de 4% a 5% no volume embarcado sobre 2005.
A produção e as vendas de veículos continuarão a crescer em 2006. As projeções, no entanto, são cautelosas em relação às exportações. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) estima um aumento de 7,1% nas vendas ao mercado interno, atingindo 1,8 milhão de unidades, e de 4,5% na exportação, que deve alcançar 2,55 milhões de unidades. Nas máquinas agrícolas, a alta será de 16,4%, atingindo 27 mil unidades.
Já quanto à demanda externa, a preocupação está na disputa pelo mercado mundial, diz Rogério Golfarb, presidente da Anfavea. O executivo disse que existe uma capacidade ociosa na indústria mundial e que isso tende a afetar os ganhos do setor no Brasil porque há oferta superior à demanda. Segundo cálculos da PriceWaterhouse, a indústria mundial tem uma capacidade instalada de produção de 77 milhões de unidades. A produção, no entanto, não tem ultrapassado 60 milhões ao ano.
Para os fabricantes de máquinas e equipamentos, houve um esfriamento na produção principalmente a partir do segundo semestre de 2005, com a queda do dólar, e há riscos para 2006. As exportações cresceram 29,3% de janeiro a outubro em relação a 2004, mas vêm caindo mês a mês, diz Newton de Mello, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos). "As estimativas apontam para um aumento de 19% de faturamento e de 24% nas exportações até o final de 2005", diz.
Os segmentos fizeram projeções com base na estimativa de variação cambial e na renda e expansão da economia.
Altamente dependente de crédito, o setor de eletroeletrônicos foi o destaque de 2005 e deve manter bons patamares de venda para 2006. Com foco nas vendas para o mercado interno, o segmento registrou alta de quase 15% nas vendas neste ano e bateu o recorde de televisores comercializados em 2005. Foram 9 milhões de unidades e é esperado um número próximo disso em 2006.
O momento de renovação da frota antiga de TVs -a última grande venda aconteceu há dez anos- e a manutenção das linhas de crédito em 24 parcelas com a possibilidade de taxas juros mais baixas devem aquecer o mercado doméstico.
O principal empecilho para essa expansão de setores voltados para a demanda interna é o risco de uma alta no calote, fruto da expansão das vendas parceladas em 2005. Além disso, um crescimento muito discreto na renda -até setembro o rendimento real do brasileiro cresceu cerca de 2%- e um repique na taxa básica de juros, em ano eleitoral, também podem atrapalhar o sonho de crescimento desses segmentos.
O efeito mais nocivo de um eventual tropeço na renda poderá ser sentido nos alimentos. O consumidor usa ganhos reais de salário para reforçar a despensa de casa. A utilização do crediário, nesse caso, é praticamente inexistente.
Por conta disso, para 2005, a Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação) prevê alta tímida, de 3,5% a 4%, nas vendas reais. Na análise do próximo ano, estimam-se taxas próximas a isso -ou seja, a menor velocidade de crescimento entre os setores analisados.


Texto Anterior: Luís Nassif: O "príncipe" dos jornalistas
Próximo Texto: Entrevista: Presidente da Vale elogia política econômica
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.