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Indicadores mistos fecham ano nos EUA
Crescem pedidos de financiamento imobiliário, o que sugere que política monetária agressiva pode estar dando resultado
Mas há alta em pedidos de auxílio-desemprego e queda em renda média e consumo, o que indica risco de deflação prolongada
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
A essa altura, metáforas natalinas são inevitáveis. Na véspera do feriado, num dos últimos índices divulgados no ano,
o presente ao mercado: o pedido de hipotecas nos EUA cresceu 48% na semana encerrada
no dia 19. É a maior leitura desde julho de 2003, segundo dados divulgados ontem pela Associação de Bancos de Hipoteca (MBA, na sigla em inglês).
Isso sugere duas coisas. A
primeira é que a política de baixar os juros (para quase zero) e
baratear o custo do dinheiro
implantada desde o meio do
ano pelo Fed, o banco central
americano, começa a dar os primeiros resultados.
A outra é que parece ter funcionado a intervenção recorde
do Fed nas três gigantes hipotecárias, Fannie Mae, Freddie
Mac e Ginnie Mae, que tiveram
até US$ 500 bilhões de seus títulos lastreados em hipotecadas bancados pelo Fed.
Isso derrubou o juro do financiamento de 30 anos dos
imóveis para 5,04%, uma queda
de 0,14 ponto percentual em
relação à semana anterior, e,
depois de um pico de 6,59% em
2008, a menor taxa em cinco
anos. E levou a uma explosão
dos pedidos de financiamentos
(novos ou repactuações),
106,3% mais do que no mesmo
mês de 2007.
Um senão: o levantamento
da MBA computa todos os pedidos, mesmo os que eventualmente sejam rejeitados, e não
leva em conta várias aplicações
de uma mesma pessoa, prática
comum depois da explosão da
bolha imobiliária americana, o
ponto zero do atual tumulto
econômico.
"A boa notícia é que esses índices podem ajudar mutuários
a evitar aumento das prestações em hipotecas de taxas
ajustáveis, o que pode evitar
mais inadimplência", disse
Spencer Rascoff, do Zillow.com, um dos maiores sites
do setor imobiliário. Para ele, é
preciso esperar para ver se os
juros baixos terão efeito duradouro no combalido setor.
Sinais positivos vieram de
dois outros índices de ontem.
Os pedidos de bens de capital
(máquina e equipamentos), excluídos itens de Defesa e aeronaves, saltou 4,7% em novembro, após queda de 6,6% em outubro. É um importante termômetro de gastos de empresas.
Já os pedidos de bens duráveis (como carros e geladeiras)
caíram 1% no mês passado, para US$ 186,9 bilhões. Apesar da
queda, ela é menor do que a
prevista pelo mercado, de 3%.
Mas esse feriado de Natal
também tem más notícias que
confirmam os temores da
maior parte dos economistas,
de que a recessão, que já dura
um ano, ainda tem tempo pela
frente. O mais importante é a
queda nos gastos dos consumidores em novembro, de 0,6%,
que se segue ao 1% de outubro e
confirma o temor da entrada do
país num ciclo deflacionário,
em que preços baixam porque
consumidores gastam menos,
fazendo preços baixarem ainda
mais, parando a economia.
É o quinto mês seguido de
queda, a primeira vez que isso
acontece em 50 anos. Isso é
particularmente preocupante
numa economia como a americana, em que o consumo responde por cerca de 70% do PIB.
Mas é 0,1 ponto percentual menor do que esperava o mercado.
Outro índice ruim de ontem
foi a queda na renda média, de
0,2%, o primeiro declínio desde
julho. É resultado direto da alta
no índice de desemprego, que
em novembro chegou a 6,7%, o
maior em 15 anos.
Foi reforçado pelo último índice de ontem: houve um aumento recorde na semana passada no número de pedidos iniciais de auxílio-desemprego,
para 586 mil -o maior número
desde novembro de 1982 e permaneceu acima da marca dos
400 mil, que para economistas
sinaliza um país em recessão.
"Vai piorar antes de melhorar", disse Nariman Behravesh,
da IHS Global Insight, repetindo fala do presidente eleito Barack Obama. "Estamos no meio
da pior recessão do período
Pós-Guerra, mesmo levando
em conta planos de estímulo",
disse o economista.
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