São Paulo, quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

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Indicadores mistos fecham ano nos EUA

Crescem pedidos de financiamento imobiliário, o que sugere que política monetária agressiva pode estar dando resultado

Mas há alta em pedidos de auxílio-desemprego e queda em renda média e consumo, o que indica risco de deflação prolongada


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

A essa altura, metáforas natalinas são inevitáveis. Na véspera do feriado, num dos últimos índices divulgados no ano, o presente ao mercado: o pedido de hipotecas nos EUA cresceu 48% na semana encerrada no dia 19. É a maior leitura desde julho de 2003, segundo dados divulgados ontem pela Associação de Bancos de Hipoteca (MBA, na sigla em inglês).
Isso sugere duas coisas. A primeira é que a política de baixar os juros (para quase zero) e baratear o custo do dinheiro implantada desde o meio do ano pelo Fed, o banco central americano, começa a dar os primeiros resultados.
A outra é que parece ter funcionado a intervenção recorde do Fed nas três gigantes hipotecárias, Fannie Mae, Freddie Mac e Ginnie Mae, que tiveram até US$ 500 bilhões de seus títulos lastreados em hipotecadas bancados pelo Fed.
Isso derrubou o juro do financiamento de 30 anos dos imóveis para 5,04%, uma queda de 0,14 ponto percentual em relação à semana anterior, e, depois de um pico de 6,59% em 2008, a menor taxa em cinco anos. E levou a uma explosão dos pedidos de financiamentos (novos ou repactuações), 106,3% mais do que no mesmo mês de 2007.
Um senão: o levantamento da MBA computa todos os pedidos, mesmo os que eventualmente sejam rejeitados, e não leva em conta várias aplicações de uma mesma pessoa, prática comum depois da explosão da bolha imobiliária americana, o ponto zero do atual tumulto econômico.
"A boa notícia é que esses índices podem ajudar mutuários a evitar aumento das prestações em hipotecas de taxas ajustáveis, o que pode evitar mais inadimplência", disse Spencer Rascoff, do Zillow.com, um dos maiores sites do setor imobiliário. Para ele, é preciso esperar para ver se os juros baixos terão efeito duradouro no combalido setor.
Sinais positivos vieram de dois outros índices de ontem. Os pedidos de bens de capital (máquina e equipamentos), excluídos itens de Defesa e aeronaves, saltou 4,7% em novembro, após queda de 6,6% em outubro. É um importante termômetro de gastos de empresas.
Já os pedidos de bens duráveis (como carros e geladeiras) caíram 1% no mês passado, para US$ 186,9 bilhões. Apesar da queda, ela é menor do que a prevista pelo mercado, de 3%.
Mas esse feriado de Natal também tem más notícias que confirmam os temores da maior parte dos economistas, de que a recessão, que já dura um ano, ainda tem tempo pela frente. O mais importante é a queda nos gastos dos consumidores em novembro, de 0,6%, que se segue ao 1% de outubro e confirma o temor da entrada do país num ciclo deflacionário, em que preços baixam porque consumidores gastam menos, fazendo preços baixarem ainda mais, parando a economia.
É o quinto mês seguido de queda, a primeira vez que isso acontece em 50 anos. Isso é particularmente preocupante numa economia como a americana, em que o consumo responde por cerca de 70% do PIB. Mas é 0,1 ponto percentual menor do que esperava o mercado.
Outro índice ruim de ontem foi a queda na renda média, de 0,2%, o primeiro declínio desde julho. É resultado direto da alta no índice de desemprego, que em novembro chegou a 6,7%, o maior em 15 anos.
Foi reforçado pelo último índice de ontem: houve um aumento recorde na semana passada no número de pedidos iniciais de auxílio-desemprego, para 586 mil -o maior número desde novembro de 1982 e permaneceu acima da marca dos 400 mil, que para economistas sinaliza um país em recessão.
"Vai piorar antes de melhorar", disse Nariman Behravesh, da IHS Global Insight, repetindo fala do presidente eleito Barack Obama. "Estamos no meio da pior recessão do período Pós-Guerra, mesmo levando em conta planos de estímulo", disse o economista.


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