São Paulo, sábado, 26 de janeiro de 2008

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Para analistas, crise também deve afetar China

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apontada como motor reserva do crescimento mundial caso se confirme a recessão nos EUA e destacada pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, na reunião ministerial desta semana, como um contraponto importante ao cenário internacional turbulento, a China também deverá sofrer com a desaceleração norte-americana.
E o canal de contágio nesse primeiro momento, segundo o consultor Thomaz Augusto Garcia Machado, serão as próprias empresas norte-americanas instaladas na região.
Se dividindo entre o Brasil e a China desde 1999, onde presta consultoria para brasileiros interessados no mercado chinês e vice-versa, ressalta que um dado pouco discutido nas análises sobre a crise atual e o impacto na Ásia é que algo entre 57% e 59% das exportações chinesas são feitas por empresas estrangeiras que migraram parcela da produção para os EUA.
Boa parte é de grupos americanos que abastecem seu país de origem via China. A estratégia faz parte do processo de terceirização que ganhou força na última década e, por meio do qual, empresários do mundo todo buscaram na China uma saída para redução dos custos e aumento da competitividade.
"A crise tem um impacto direto na China. Os estrangeiros que produzem lá vão ter que absorver a queda no consumo. Se os americanos reduzirem o consumo de brinquedos, a China vai ter que produzir menos", exemplifica. No entanto, ele acredita que esse movimento pode se reverter com o tempo.
"Se isso se prolongar, uma saída será a redução dos custos para baratear o preço final e tentar atrair consumidores, o que pode gerar nova onda de terceirização na China", diz.
Para o ex-presidente do BC Gustavo Loyola, a China ajudará a evitar uma recessão no mundo, amenizando os efeitos da crise norte-americana, "mas haverá queda no crescimento". "Não tem como não ser assim já que 30% da economia mundial tem superávit comercial com os EUA. Eles são os grandes compradores."
Nos cálculos do economista Marcelo Carvalho, do Morgan Stanley, a queda no crescimento econômico deverá atingir ricos e emergentes. No caso da China, a vantagem é que o país, ainda assim, deverá crescer perto de 10% este ano. A estimativa inicial era superior a 11,5%.
A europa, acredita, deve reduzir o crescimento este ano de 2,7% para 1,6% e o Japão, de 1,8% para 0,9%. Para o Brasil ele prevê um crescimento de 4,3% em 2008, o que ainda é considerado bom.
No caso brasileiro, o canal de contágio, defende Carvalho, será o balanço de pagamentos -contabilidade oficial que registra todas as transações comerciais, de serviços e financeiras do país com o resto do mundo. Ele estima que o saldo comercial cairá pela metade: de US$ 40 bilhões para US$ 20 bilhões. "A queda será puxada pela perda de força das exportações", explica, ressaltando uma redução do volume e dos preços dos produtos brasileiros vendidos lá fora.
Por outro lado, as importações manterão o ritmo acelerado de crescimento em função do aumento do consumo interno. Com isso, Carvalho acredita que o déficit em conta corrente, previsto em US$ 3,5 bilhões pelo BC e em US$ 5 bilhões pelo mercado, chegará a US$ 14 bilhões, 1% do PIB (Produto Interno Bruto).
O ingresso de dinheiro externo para investimentos e aplicações em geral, prevê, cairá para 30% dos US$ 90 bilhões de 2007. "As aplicações em renda fixa e no mercado de ações deverão sentir mais a aversão ao risco. Com isso, acabará aí o ciclo de valorização do real", diz, projetando que a cotação do real ante ao dólar chegará a R$ 2, no final de 2008.
O estrago dessa desvalorização na inflação só não será maior, segundo o economista, porque ele estima que haverá um alívio nos preços dos alimentos.


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