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Para analistas, crise também deve afetar China
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apontada como motor reserva do crescimento mundial caso se confirme a recessão nos
EUA e destacada pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, na reunião ministerial desta semana, como
um contraponto importante ao
cenário internacional turbulento, a China também deverá
sofrer com a desaceleração
norte-americana.
E o canal de contágio nesse
primeiro momento, segundo o
consultor Thomaz Augusto
Garcia Machado, serão as próprias empresas norte-americanas instaladas na região.
Se dividindo entre o Brasil e a
China desde 1999, onde presta
consultoria para brasileiros interessados no mercado chinês e
vice-versa, ressalta que um dado pouco discutido nas análises
sobre a crise atual e o impacto
na Ásia é que algo entre 57% e
59% das exportações chinesas
são feitas por empresas estrangeiras que migraram parcela da
produção para os EUA.
Boa parte é de grupos americanos que abastecem seu país
de origem via China. A estratégia faz parte do processo de terceirização que ganhou força na
última década e, por meio do
qual, empresários do mundo
todo buscaram na China uma
saída para redução dos custos e
aumento da competitividade.
"A crise tem um impacto direto na China. Os estrangeiros
que produzem lá vão ter que
absorver a queda no consumo.
Se os americanos reduzirem o
consumo de brinquedos, a China vai ter que produzir menos",
exemplifica. No entanto, ele
acredita que esse movimento
pode se reverter com o tempo.
"Se isso se prolongar, uma
saída será a redução dos custos
para baratear o preço final e
tentar atrair consumidores, o
que pode gerar nova onda de
terceirização na China", diz.
Para o ex-presidente do BC
Gustavo Loyola, a China ajudará a evitar uma recessão no
mundo, amenizando os efeitos
da crise norte-americana, "mas
haverá queda no crescimento".
"Não tem como não ser assim já
que 30% da economia mundial
tem superávit comercial com
os EUA. Eles são os grandes
compradores."
Nos cálculos do economista
Marcelo Carvalho, do Morgan
Stanley, a queda no crescimento econômico deverá atingir ricos e emergentes. No caso da
China, a vantagem é que o país,
ainda assim, deverá crescer
perto de 10% este ano. A estimativa inicial era superior a
11,5%.
A europa, acredita, deve reduzir o crescimento este ano de
2,7% para 1,6% e o Japão, de
1,8% para 0,9%. Para o Brasil
ele prevê um crescimento de
4,3% em 2008, o que ainda é
considerado bom.
No caso brasileiro, o canal de
contágio, defende Carvalho, será o balanço de pagamentos
-contabilidade oficial que registra todas as transações comerciais, de serviços e financeiras do país com o resto do
mundo. Ele estima que o saldo
comercial cairá pela metade: de
US$ 40 bilhões para US$ 20 bilhões. "A queda será puxada pela perda de força das exportações", explica, ressaltando uma
redução do volume e dos preços
dos produtos brasileiros vendidos lá fora.
Por outro lado, as importações manterão o ritmo acelerado de crescimento em função
do aumento do consumo interno. Com isso, Carvalho acredita
que o déficit em conta corrente,
previsto em US$ 3,5 bilhões pelo BC e em US$ 5 bilhões pelo
mercado, chegará a US$ 14 bilhões, 1% do PIB (Produto Interno Bruto).
O ingresso de dinheiro externo para investimentos e aplicações em geral, prevê, cairá para
30% dos US$ 90 bilhões de
2007. "As aplicações em renda
fixa e no mercado de ações deverão sentir mais a aversão ao
risco. Com isso, acabará aí o ciclo de valorização do real", diz,
projetando que a cotação do
real ante ao dólar chegará a R$
2, no final de 2008.
O estrago dessa desvalorização na inflação só não será
maior, segundo o economista,
porque ele estima que haverá
um alívio nos preços dos alimentos.
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