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Brown propõe reformar instituições globais
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, aproveitou
sua primeira viagem a Davos
como chefe do governo para
propor uma espécie de reforma
do mundo ou, mais exatamente, da maneira pela qual se dá a
governança global.
As sugestões de Brown cobrem as instituições nascidas
ao fim da Segunda Guerra
Mundial (1939/1945), a saber: o
Fundo Monetário Internacional, responsável pelas finanças;
seu gêmeo para o financiamento ao desenvolvimento, o Banco Mundial; as Nações Unidas;
e, indiretamente, a de mais recente criação, a Organização
Mundial do Comércio.
Brown não a citou, mas disse
que o desafio "é fazer as negociações comerciais avançarem", uma alusão à Rodada Doha de liberalização comercial, a
empreitada em que a OMC está
empenhada desde 2001, sem
grandes avanços até agora.
A lógica do premiê britânico
é esta: "As instituições criadas
nos anos 40 do século passado,
em um ambiente de economias
fechadas, não podem lidar com
as novas situações", entre as
quais citou desde o terrorismo
até o poder da internet.
Para o FMI, defendeu um sistema melhor de "early warning" sobre crises (aviso prévio,
em tradução livre), um tema recorrente desde a crise asiática
de 1997.
Brown ataca a hipótese de
uma "regulamentação pesada"
dos mercados financeiros e diz
preferir a transparência. Acha
que há "muito pouca avaliação
sobre riscos", mas a sua crítica à
"regulamentação pesada" ressuscita o debate que precedeu a
reunião do ano passado do G8.
A anfitriã Alemanha queria,
no mínimo, um código de conduta voluntário para os chamados "hedge funds", os mecanismos financeiros de proteção
contra apostas arriscadas.
Os Estados Unidos vetaram
até essa modesta pretensão de
pôr alguma ordem no mercado
financeiro.
Para as Nações Unidas, o líder britânico sugere a criação
de uma "agência de resposta rápida" para atuar em países em
crise aguda (citou os casos da
Bósnia, nos anos 90, e de Ruanda). Não se trataria apenas de
intervenção militar, mas de
atuar também na reconstrução
e no desenvolvimento do país.
O chanceler brasileiro Celso
Amorim aceita a idéia, mas com
uma ressalva: "Desde que [a
força de intervenção rápida] seja devidamente autorizada pelo
Conselho de Segurança da
ONU". Justifica: "A pressa, sem
a devida autorização, pode provocar mais problemas", no que
parece uma alusão à ocupação
do Iraque pelos Estados Unidos
e um pequeno grupo de aliados,
sem a autorização do Conselho
de Segurança.
Para o Banco Mundial,
Brown quer um papel que vá
além do financiamento ao desenvolvimento, para tornar-se
também um banco para o meio
ambiente.
Celso Amorim concorda de
novo. Mas diz que o Banco
Mundial já "é um pouco assim",
tanto que todos os projetos que
financia têm, antes, que passar
por uma avaliação de impacto
ambiental.
O chanceler brasileiro pede
também que o Banco Mundial
"não deixe de combater a pobreza e a fome, que são os maiores inimigos do ambiente".
Brown vai além: "A questão
da pobreza deveria ser encarada como uma emergência".
O premiê britânico diz que,
se houver as reformas, "as instituições globais se tornarão irrelevantes".
(CLÓVIS ROSSI)
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