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Davos termina como começou, na mais completa escuridão sobre a "besta"
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
O encontro anual 2008 do
Fórum Econômico Mundial
termina da mesma maneira
que começou: com seus participantes na mais completa escuridão a respeito do tamanho da
"besta", a palavra que o economista da OCDE Javier Santiso
usou para designar a crise nos
mercados financeiros.
Dá até para dizer que não
apenas Davos, mas o mundo só
tem uma certeza: não há a menor certeza.
Afinal, o público de Davos é
composto pelos executivos das
mais portentosas multinacionais, pelos acadêmicos (economistas em especial) das mais
lustrosas grifes acadêmicas do
planeta e por representantes
governamentais de peso.
É sintomático que, em conversas que a Folha teve ontem
com três funcionários internacionais, todos com vastíssima
experiência em postos de governo em seus países ou no
mundo, todos tenham dito, separadamente, a mesma coisa:
antes de qualquer análise sobre
os desdobramentos, é preciso
saber qual é o tamanho do problema no sistema financeiro.
Foram Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, ex-chefe do comércio internacional dos Estados Unidos, ex-segundo do Departamento norte-americano de Estado; Pascal
Lamy, ex-comissário europeu
para o Comércio, hoje diretor-geral da Organização Mundial
de Comércio; e Joaquín Almunia, duas vezes ministro na Espanha, hoje comissário europeu para Assuntos Econômicos
e Monetários.
De certa forma, são instituições que gerenciam a globalização, exatamente o fenômeno
que está na origem da presente
crise, na medida em que a interconexão de mercados financeiros propaga rapidamente
movimentos frenéticos de um
para outro.
Tanto é assim que o primeiro-ministro britânico, Gordon
Brown, diz que "são momentos
de teste para a globalização". E
deixa claro que a resposta global deve incluir "mais globalização, não menos", uma fuga
para a frente preventiva ante a
perspectiva de que a crise torne
mais audíveis os gritos por protecionismo, abafados nos anos
recentes pelo predomínio do liberalismo.
Pascal Lamy também tem
sua sugestão para fugir para a
frente, mas é de outra natureza: voltar a dar ênfase "à velha e
boa economia da produção",
em alusão ao predomínio do
capitalismo financeiro na era
da globalização.
Ele é o primeiro a admitir
que metade dos economistas
com os quais conversa diz que a
crise é séria, mas a outra metade diz que não é. "Não sei",
conforma-se.
Além de perplexidade generalizada, a crise fez ressuscitar
o fantasma da inflação, que parecia ter uma estaca cravada no
coração.
Almunia conta que, mais que
a inflação, o que está aumentando na Europa, é a percepção
de alta de preços, porque ela se
dá basicamente em alimentos,
o que provoca imediata reação
do público.
É, de resto, o caso do Brasil,
em que a inflação geral não
chega a 5% ao ano, mas os alimentos subiram o dobro dessa
cifra no ano passado.
Gordon Brown também expressou sua preocupação com
a alta de preços de alimentos,
ao dizer que ela "pode varrer
todos os progressos recentes
da África".
O norte-americano Robert
Zoellick reforça: são os mais
pobres que mais sentem o problema, já que a maior parte de
sua pouca renda é justamente
para comprar alimentos.
O que as autoridades podem
fazer para evitar que a crise se
agrave e contamine a economia
real, ainda relativamente poupada?
Não parece muito. O espanhol Joaquín Almunia conta
que os supervisores de todos os
países ricos estão fazendo as
respectivas auditorias para ver
o que de fato aconteceu no sistema financeiro.
Deveriam trocar amplamente as informações, mas "alguns
dados nacionais os supervisores preferem segurar para eles
próprios", diz o comissário.
(CR)
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