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Davos olha para a China, agora com medo
Destaque positivo nos últimos anos no Fórum Econômico Mundial, país asiático gera apreensão devido aos seus sinais de desaceleração
Para analistas, se economia chinesa crescer abaixo de 8%, crise global deverá se agravar; Nouriel Roubini diz que país já vive recessão
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE
Nos últimos muitos anos, a
elite empresarial do planeta,
que forma 70% do público que
comparece todo janeiro aos encontros anuais do Fórum Econômico Mundial, olhava para a
China com olhos de inveja,
muita inveja. Neste ano, os
olhares também estarão voltados à China, mas com apreensão, muita apreensão: há um
certo consenso de que, se o
crescimento chinês ficar abaixo de 8%, haverá não só sérios
problemas internos, pela dificuldade em dar emprego à massa de chineses, mas também
para o planeta nesta fase de
profunda anemia.
Desde o início do século, a
China respondeu anualmente
por cerca de 17% do crescimento global, fatia muito similar à
dos EUA, embora a economia
americana seja quatro vezes
maior. Claro que se está falando dos EUA do "boom", não do
atual, em recessão. Como a
União Europeia, a outra grande
usina do planeta (responsável
por 16% do crescimento), está
igualmente parada, um retrocesso chinês afundaria ainda
mais a economia global.
Pior: Nouriel Roubini, o economista que se tornou uma espécie de pitonisa da economia,
por ter acertado ao prever a crise que ninguém mais via, acha
que a China já está em recessão.
Parece puro mau agouro, na
medida em que a China cresceu
a uma taxa anualizada de 6,8%
no último trimestre de 2008,
um número espetacular em
qualquer outro país, mas anêmico para os padrões chineses
(em 2007, a alta foi de 11,9%).
Mas Roubini traz argumentos aos quais todo o público do
fórum em Davos (que começa
na quarta) prestará atenção, já
que ele se tornou a principal
atração dos encontros de janeiro. Roubini diz que o método de
cálculo do PIB na China é diferente, feito ao ano, não trimestre a trimestre, como no resto
do mundo. Se a taxa anualizada
foi de 6,8%, "então o crescimento real foi zero ou até negativo" [no trimestre outubro-dezembro], escreve em seu blog.
Ele acrescenta: a produção
de energia caiu 7,9% em relação
ao ano anterior e o índice de
produção industrial ficou abaixo de 50 pontos e mais perto de
40 nos cinco meses mais recentes, indicando queda da atividade. Como a indústria, que representa 40% da economia,
"está certamente em aguda recessão, a economia como um
todo pode estar perto dela".
Pablo Bustelo, investigador
principal para a região Ásia-Pacífico do Real Instituto Elcano
da Espanha e professor titular
de Economia Aplicada na Universidade Complutense de Madri, discorda, em artigo no jornal espanhol "El País". Ele lembra que o governo chinês tem
"armas poderosas para lutar
contra a freada no crescimento". Cita uma situação orçamentária sadia (o déficit público é só 1% do PIB e a dívida ronda magros 18% do PIB).
E conclui: "A menos que o
ambiente externo se deteriore
muito mais do que previsto (se,
por exemplo, as quedas do PIB
nos EUA, Japão e Europa superarem apreciavelmente os 2%
previstos até agora), tudo parece indicar que a China logrará
manter uma taxa de crescimento de 7% ou 8% em 2009".
É uma previsão em linha com
os 7,5% previstos pelo Banco
Mundial e com os 8% que o governo chinês anuncia. Mas o
Fundo Monetário Internacional aponta para magros 5%, o
pior índice desde a revolta da
praça da Paz Celestial, há exatos 20 anos. Depois que o pessimista Roubini, até então desacreditado, viu confirmados
seus piores prognósticos, é bem
provável que o público de Davos prefira, neste ano, acreditar
nos números negativos.
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