São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

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Governo Obama alerta para piora da crise

Summers e Biden pressionam por aprovação de pacote; Nancy Pelosi, presidente da Câmara, fala em nacionalizar bancos

Em meio à turbulência, FMI deve rebaixar a previsão de crescimento mundial em 2009 de 2,2% para 1%; países ricos devem encolher

Tim Sloam-23.jan.09/France Presse
Obama e Nancy Pelosi em reunião bipartidária sobre a crise

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Em meio a novas evidências de agravamento da crise econômica mundial, em especial nos EUA, e a resistências no Congresso ao novo plano de Barack Obama para enfrentá-la, os principais assessores do presidente norte-americano foram a público ontem pedir urgência na aprovação do pacote de US$ 825 bilhões apresentado na semana passada.
Enquanto o líder da minoria republicana na Câmara dos Representantes, John Boehmer, afirmava na TV que seu partido deve votar contra o plano se não houver mudanças, o principal assessor econômico de Obama, Lawrence Summers, afirmava em outro canal que o pacote é "o adequado".
Com maioria na Câmara dos Representantes, Obama não precisa dos votos dos republicanos, mas necessita de ao menos dois votos dos adversários no Senado para impedir adiamentos regimentais durante a tramitação do pacote.
Em outro canal de TV, na conservadora Fox News, o ex-adversário direto de Obama na campanha, o senador republicano John McCain, afirmou que seu partido quer "garantias" de que o novo presidente não vai "aumentar impostos e que tornará os cortes de tributos permanentes".
Também na TV, o novo vice-presidente dos EUA, Joseph Biden, defendeu o pacote afirmando que "mais de 40% dele é dedicado ao corte de impostos. Os outros 60% são medidas de estímulo econômico".
Summers, por seu lado, não deu detalhes sobre como Obama pretende financiar o pagamento mais à frente dos US$ 825 bilhões de seu pacote, embora o presidente já tenha prometido elevar a arrecadação onerando os mais ricos.
Summers também afirmou que, daqui em diante, o plano de ajuda ao setor financeiro será "significativamente diferente". "A prioridade será fazer o crédito fluir na economia novamente", afirmou, sem revelar mais detalhes.
O grande debate nos EUA agora é como o governo vai ajudar os bancos e obrigá-los a liberar mais crédito a empresas e ao consumo. A discussão sobre nacionalizar ou não as instituições tornou-se aberta entre analistas, embora ninguém no governo tenha falado diretamente sobre o assunto.
Mas, pela primeira vez, a democrata Nancy Pelosi, uma das principais envolvidas na costura do novo plano no Congresso, afirmou ontem que "o povo norte-americano terá de ganhar participações nos bancos no caso de colocarmos mais dinheiro neles".
"Se vamos reforçar o negócio do bancos, o público em geral também tem de se beneficiar. Alguns chamam isso de nacionalização. Eu não estou falando em tomar a totalidade do negócio, mas temos de discutir o assunto", disse.
Entre o final da década de 1980 e início dos anos 1990, os EUA nacionalizaram vários bancos na prática por meio do chamado RTC (Resolution Trust Corporation). O RTC assumiu as carteiras podres dos então batizados "bancos zumbis", impôs perdas aos acionistas e afastou os controladores.
Mais à frente e depois de limpos, os bancos foram vendidos a investidores, absorvidos pela concorrência ou liquidados. Na época, o pacote para enfrentar uma crise de proporções muito menores do que a atual custou estimados US$ 130 bilhões aos contribuintes.
Outra alternativa em estudo é que o governo assuma os ativos "tóxicos" dos bancos e os converta em títulos que possam ser depois transformados ou não em ações das instituições, o que aumentaria o poder de pressão estatal.
Na próxima quarta-feira, o FMI (Fundo Monetário Internacional) deve rebaixar de 2,2% para algo perto de 1% a expectativa de crescimento mundial em 2009. EUA, zona do Euro e Japão, projetam analistas, devem retroceder cerca de 2% neste ano, ficando a cargo dos emergentes puxar o fraco desempenho mundial.


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