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São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003

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CRÉDITO

Levantamento feito pelo BC também detecta que empresas estão pagando taxas maiores, e tendência ainda é de alta

Juro do cheque especial é o maior desde 99

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os juros cobrados pelos bancos nos empréstimos a empresas e nos financiamentos concedidos pelo cheque especial registraram sensível alta no mês passado, segundo levantamento feito pelo Banco Central. E, com a recente elevação da taxa Selic, a tendência é que os aumentos continuem nos próximos meses.
No caso do cheque especial, a taxa atingiu o nível mais alto desde maio de 1999: passou de 163,9% ao ano para 171,5% ao ano entre dezembro de 2002 e janeiro passado -alta de 7,6 pontos percentuais. Já entre as empresas, os juros são mais baixos, mas também registraram forte elevação. No mês passado, a taxa média cobrada nesses empréstimos ficou em 34,5% ao ano, contra 30,9% em dezembro -alta de 3,6 pontos percentuais.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a elevação nos juros cobrados das empresas se explica pela expectativa de alta do dólar nos próximos meses. Parte desses financiamentos é corrigida pelo câmbio. Portanto, diz Lopes, quando o mercado acredita numa desvalorização do real no médio prazo, os juros acompanham esse movimento e sobem.
Já no caso do cheque especial, o funcionário do BC diz não enxergar motivo específico que explique a alta dos juros. Resta o conselho de evitar o endividamento. "Se não houver outra opção, é melhor procurar modalidades de crédito mais baratas", afirma.
A alternativa, nesse caso, seria trocar o cheque especial pelo crédito pessoal, concedido pelos bancos após análise mais detalhada. No crédito pessoal, os juros cobrados eram, no mês passado, de 95,3% ao ano. Em dezembro, a taxa estava em 91,8% ao ano.
Na média, porém, os juros cobrados nos empréstimos concedidos a pessoas físicas recuaram de 83,5% ao ano para 82,7% ao ano. A queda é consequência da redução nas taxas cobradas no crediário, que passaram de 58,9% ao ano para 57,1% ao ano entre dezembro e janeiro. Segundo Lopes, esse movimento é comum nos meses de janeiro, com lojas reduzindo os juros do crediário para estimular as vendas.

Ganhos
Assim como os juros, os ganhos dos bancos com as operações de crédito também subiram, chegando a 55,9 pontos percentuais entre as pessoas físicas -nível mais elevado desde junho de 2000. Isso significa que, se são cobrados 82,7% de juros, 55,9 pontos ficam com o banco, que, além do lucro, usa os recursos para cobrir despesas operacionais.
Lopes diz que os juros são elevados por causa da inadimplência, que, em janeiro, atingia 14,5% dos créditos concedidos a pessoas físicas -um ponto percentual abaixo da taxa de janeiro de 2002. Os juros bancários devem continuar altos, pelo menos por enquanto, devido às medidas restritivas adotadas pelo BC desde o início do ano. De janeiro para cá, a taxa Selic passou de 25% ao ano para 26,5% ao ano.
A taxa Selic é a taxa praticada nas operações de crédito entre bancos e entre os bancos e o BC. Ela serve de referência para as demais transações financeiras.
Além da alta na taxa Selic, o BC também aumentou, na semana passada, a alíquota do recolhimento compulsório -dinheiro que os bancos são obrigados a depositar no BC. A medida retira R$ 8 bilhões de circulação na economia e reduz a oferta de crédito, o que ajuda a elevar os juros.


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